“Sou evangélico e apoio Lula” – Coluna de Opinião Dr. João Domingos

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Lula fechou igrejas em seu governo? Não. Lula mudou alguma coisa na Bíblia? Não. Lula criou alguma restrição obrigatória aos evangélicos? Não. Então porque alguns evangélicos criaram essa aversão ao Lula?  Na verdade são três as razões de um evangélico dizer que não apoia Lula.  Primeiro por falta de conhecimento – não leem e repetem apenas o que ouviram de lideres de direita do padrão de Silas Malafaia, que, na verdade, só pensa em dinheiro e vive voando de jatinho particular mundo afora, ainda que os pobres e as viúvas na sua igreja estejam desassistidos. Esses líderes evangélicos estão inseridos naquela máxima que diz “…se a farinha é pouca – meu pirão primeiro…”.  A bíblia nos ensina a amar o próximo e não criar separação em relação ao próximo. A bíblia nos ensina a evangelizar a todas as pessoas e cuidar dos mais pobres. Cristo não ama o pecado, mas ama o pecador. Fazer acepção de pessoas discriminando a fé de outros segmentos religiosos ou discriminar a opção sexual das pessoas não é o que a bíblia ensina.

Segunda razão é porque não leem a bíblia corretamente, e não compreendem que a liberdade de decisão é individual. Se lessem e entendessem corretamente saberiam o que é livre arbítrio. Nada em relação à fé é obrigatório. Portanto, a escolha do evangélico em relação a partidos e politica não pode ser por imposição de lideres, e sim uma escolha individual.  É preciso inteligência, ou seja, pesar na balança os candidatos por si mesmo. De repente o candidato que é bom para o líder não é bom para a igreja toda. Muitos lideres estão na politica apenas atrás de vantagens pessoais. Uns querem ser ministros do Supremo, outros Advogado Geral da União, alguns querem cargos nos ministérios, outros querem ser secretários de Estado e alguns secretários municipais etc. Mas onde isso beneficia as igrejas? Em nada. Na verdade beneficia apenas aos ‘lideres evangélicos descarados’ que para se beneficiarem criam uma narrativa canalha de politica ideológica. A bíblia diz que não é por força nem por violência, quem quiser fazer algo de diferente em sua conversão o fará por si mesmo e movido pelo Espirito de Deus e não por implantação de narrativas ideológicas. O Estado é laico e assim deve permanecer.

Em terceiro lugar é porque não conhecem Bolsonaro de verdade. Se conhecessem direitinho teriam que pesar na balança entre o que diz a bíblia e o que diz Bolsonaro no dia a dia. Se os evangélicos seguirem o que seus lideres dizem irão para o buraco. Mas se seguirem o que a bíblia diz com certeza entenderão que Cristo pregava a paz, o amor e a conciliação entre todos os irmãos sem fazer discriminação entre pretos, brancos, amarelos, homossexuais etc…  Cristo diante de Pilatos afirmou que seu reino não era desse mundo. Ali deu clara demonstração que não se envolvia nos governos mundiais. Cristo queria alcançar o coração das pessoas e pregava um evangelho único em que multiplicava pães e peixes e distribuía à multidão sem promover discriminação na formação de seu reino espiritual.

Mas quem é Bolsonaro?  Será ele um defensor fervoroso da família tradicional que a bíblia ensina? Não é.   Bolsonaro é defensor da pátria nos moldes da bíblia? Também não.  Bolsonaro é defensor dos bons costumes? Um sonoro não.  Bolsonaro tem um filho com cada mulher. Na medida em que elas envelhecem ele troca de esposa.  É isso que a bíblia ensina? Não. A bíblia ensina que o que Deus uniu não separe o homem e que o homem deve ser marido de uma só esposa – está escrito. Bolsonaro Também não é defensor da pátria como quer se apresentar. Um verdadeiro defensor da pátria defenderia com unhas e dentes os seus nacionais providenciando vacinas em todas as oportunidades que aparecessem, nem negaria uma doença letal que já ultrapassou 400 mil mortos. Um governante que se recusa a dar bons exemplos nessa pandemia não defende a pátria nem seus nacionais. Seu comportamento cínico de mentir descaradamente sobretudo, bate de frente com o versículo que ele usa para enganar os “evangélicos moderninhos e superficiais” que nada sabem de bíblia… “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Um homem que mente todos os dias na mídia nacional conhece a verdade? Pode um mentiroso ser seguidor do verdadeiro evangelho? Não. Afinal o diabo é o pai da mentira – também está escrito. Em qual evangelho Bolsonaro aprendeu a mentir? Ele se batizou em várias igrejas e o batismo bíblico é único. Portanto, o que ele fez foi teatro politico ao se batizar várias vezes para angariar apoio politico dos lideres de igrejas. O que Bolsonaro fala de manhã à tarde o vento já levou. Com seus filhos todos envoltos em maracutaia, Bolsonaro achincalha a nação brasileira, e todos os seus filhos tem o apoio incondicional do pai nesses malfeitos, inclusive com o uso de instituições como o MPF, MPE, Policia federal, Abin e outras instituições  para encobrir a podridão de seus rebentos.

A tradição protestante é historicamente ligada à formação do Estado Democrático de Direito. Os discursos de Bolsonaro seguem a linha do confronto e pregam a perda de liberdade democrática com apologia à ditadura e isso é totalmente fora do que ensina a bíblia. Louvar a matança, elogiar o Coronel Ustra – um carniceiro da ditadura – e fazer ‘arminha’ com as mãos – como gesto politico, são características de uma mente doente e democraticamente imperfeita.  A eficiência de um homem cristão, não pode ser medida segundo sua defesa ou não de pontos como direitos homo afetivos, descriminalização do aborto, mas à luz da sua capacidade de liderar com justiça, sabedoria, dando acesso a todos e com inteligência social, representando o povo e cumprindo sua obrigação nos limites do cargo. Apresentar-se como algo divinizado já demonstra na verdade sua própria sandice e debilidade mental. No estado democrático de direito não tem lugar para administrar para algum grupo especifico, tem que ter respeito por todos, afinal todos pagam impostos.

Deus nunca determinou que os governos humanos o representasse aqui na terra. Aliás, como eu disse acima, Cristo disse a Pilatos que seu reino não era desse mundo. Com essa frase Cristo deixou claro que estado e religião deve caminhar com independência entre si, razão pela qual o Estado brasileiro deve continuar laico como sempre foi desde o inicio da Republica. Não é recomendável votar em alguém porque liberou, libera ou vai liberar armas. Cristãos deveriam ter apenas a bíblia e a sua fé como armas.  Distribuir armamento para a população não é orientação bíblica.  Armas apenas o Estado deve fazer uso.  A fé cristã não é compatível ao uso de armas de fogo geradoras de morte pela população comum. A violência não é o caminho rumo à proteção do cidadão e a paz social. O uso de armas significa a aplicação de violência em casos de conflitos e descontrole emocional. O armamento, e tudo o que ele representa é radicalmente contrário à proposta do Evangelho. Cristo ensinou de forma clara, “… bem-aventurados os pacificadores”.

A Bíblia mostra-nos em diversos pontos que a principal lei é o amor, o qual não está desassociado da justiça. Isso delimita as fronteiras da interpretação do cristão em relação ao seu voto. Bolsonaro tem uma postura extremamente violenta. Por várias vezes, mostrou-se violento em relação às mulheres, homossexuais e outras minorias demonstrando falta de amor, com um senso de justiça desarticulado do que o evangelho ensina e seus discursos são, no mínimo, contrários às orientações cristãs.  Para quem já acompanhou pastoralmente pessoas homoafetivas sabe que respostas como “ter filho gay é falta de porrada”, usada por Bolsonaro, representam total desconhecimento e com certeza são homofóbicas. E, além disso, revela insensibilidade às famílias com as quais caminhamos nas igrejas e nas nossas comunidades.

Mesmo os que discordam das práticas homossexuais devem, no mínimo, escandalizar-se com esse tipo de pronunciamento. O presidente sob o paradigma do Estado Democrático de Direito precisa governar para todos e lhes garantir seus direitos – esse princípio é profundamente evangélico. A justiça e a equidade são dois princípios fundamentais nas pregações de Cristo. Consequentemente, uma nação precisa de equilíbrio de seu governante maior para ser exemplo de união e produzir com suas falas e atitudes um ambiente de agregação e convívio harmônico. Por isso, não podemos compactuar com qualquer candidato que carregue ideias de extremismo homicida. Não é compatível ao seguidor de Cristo achar normal um candidato usar as expressões e posturas violentas, além de xingamentos e palavrões de baixo calão como os instrumentalizados por Bolsonaro e continuar tendo-o como opção. Sua fala é tão chula e boçal, que consegue ruborizar a nação brasileira, de tão baixas que são as expressões usadas. Lula não fechou igrejas, não envergonhou o Brasil mundo afora com divisões religiosas ou homofóbicas, nem disse que “… preto se pesa em arrobas”, ou que “… o filho é homossexual porque faltou porrada”, nem disse que “…mulher deve ganhar menos porque engravida”.

Eis porque voto em Lula: Não criou nenhum problema para as igrejas evangélicas em seus 08 anos de governo, cada igreja funcionou como bem quis e ainda por cima Lula criou 15 milhões de empregos e o salário mínimo teve ganho real de 67%. Foi criado o programa “Minha Casa, Minha Vida”, que construiu um milhão de moradias, e também o “Luz Para Todos”, que levou energia elétrica a mais de dois milhões de pessoas e 600 mil pequenas propriedades. Os investimentos em educação foram triplicados e 214 escolas técnicas federais foram inauguradas. Além disso, 14 universidades e 126 campus universitários foram implantadas no país. Inclusive nossa UFVJM aqui em Teófilo Otoni com curso de medicina. Foi criado o Prouni, que beneficiou 750 mil jovens de baixa renda e 28 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza, sendo que 36 milhões entraram na classe média. Nos 08 anos de Lula houve manutenção da estabilidade econômica, a retomada do crescimento do país, a redução da pobreza e, consequentemente, da desigualdade social. O governo Lula registrou crescimento de 32,62% do PIB com média de 4% e 23,05% da renda per capita com média de 2,8%, não esquecendo ainda que Lula assumiu com a inflação em 12,53% e entregou a 5,90%.

O Governo Lula caracterizou-se pela baixa inflação, que ficou controlada, redução do desemprego e constantes recordes da balança comercial. Na gestão do presidente Lula observou-se o recorde na produção da indústria automobilística em 2005, e o maior crescimento real do salário mínimo. Em 2010, Alan Mulally, presidente mundial da Ford afirmou que graças aos programas de incentivo do Governo Lula foi possível ao país sair de forma efetiva da crise mundial. Durante a crise a retração do PIB foi de apenas 0,2%, mostrando um resultado melhor que as grandes economias do mundo obtiveram. Durante a gestão de Lula, a liquidação do pagamento das dívidas com o FMI contraídas em governos anteriores foram antecipadas. Esta ação resultou em melhor prestígio internacional e maior atenção do mercado financeiro para investir no Brasil. O Governo Lula terminou com um valor total de 288,575 bilhões de dólares em reservas internacionais em 31 de dezembro de 2010, o que representou recorde histórico.

O PIB no Governo Lula apresentou expansão média de 4% ao ano, entre 2003 e 2010. O desempenho superou o do governo anterior, FHC (1995-2002), que mostrou expansão média do PIB de 2,3% ao ano.  Quando se divide o período por dois mandatos, a média foi de 3,5%, no primeiro (2003-2006), e de 4,5%, no segundo (2007-2010). Além disso, criou o programa social Bolsa Família através da Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004.  A finalidade do programa, que atendia cerca de 12,4 milhões de habitantes, era a transferência direta de renda do governo para famílias pobres e em extrema miséria.

A Bíblia fala em governantes sábios, os quais possam liderar com temor e capacidade. Bolsonaro é um ser humano e governante despreparado, mesmo depois de 28 anos na Câmara Federal, não se informou das questões básicas relacionadas à economia, desenvolvimento, dinâmica do sistema de governo, por isso não conhece os pontos essenciais do funcionamento político-econômico do país. Mesmo com anos de mandato não demonstrou qualquer relevância e sua incapacidade teórica e pratica ficou demonstrada, desqualificando-o como governante à luz das expectativas bíblicas. E a destacar ainda que seus votos como deputado foram risíveis, senão vejamos: votou contra o plano real, contra o projeto de proibição de nepotismo no setor público, votou contra o projeto de teto salarial no setor público, votou contra o projeto para o fim da aposentadoria especial dos senadores e deputados, votou contra o projeto que daria fim à pensão para filhos de militares, votou contra o fundo de combate à pobreza e a favor do aumento do salário dos deputados e senadores. Bolsonaro é uma tragédia que não podemos repetir. Eis porque sou evangélico e voto em Lula!

DR. JOAO DOMINGOS

Advogado, Jornalista e Pastor Evangélico (vice-presidente da Assembleia de Deus
do Campo de Ouro Verde de Minas – Cadeeso).

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