Agricultores familiares de Minas Gerais investem na produção sustentável de cafés especiais

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A cafeicultura do município de Fervedouro, localizado na região produtora conhecida como Matas de Minas, está passando por uma transformação. A atividade é desenvolvida predominantemente por agricultores familiares que, nos últimos anos, começaram a investir na produção sustentável de cafés especiais, com a orientação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater–MG).

A mudança teve início em 2014, quando o técnico da Emater-MG, Adenilson Mendes Chaves, começou um trabalho de melhoria da qualidade do café com dez agricultores, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura. Uma das primeiras iniciativas foi levar o grupo para conhecer propriedades em outros municípios da região, que já estavam em um estágio mais avançado de produção de cafés especiais. 

“Visitamos municípios que são referência na região, como Araponga, Caparaó e Espera Feliz. Eles também começaram a participar de simpósios, cursos, feiras e concursos. A ideia era que o pessoal fosse conhecendo melhor o universo do café”, explica.

Hoje, o grupo que investe no cultivo de cafés especiais em Fervedouro conta com 30 produtores. O técnico da Emater-MG relata que, em um segundo momento, a mudança para melhoria da qualidade ocorreu na colheita e na secagem dos frutos. “O pessoal começou a fazer a colheita seletiva, quando é retirado do pé apenas o café maduro. Também houve investimentos na lavagem do produto, na construção de estufas e de terreiros suspensos para a secagem adequada. A demanda por análise de solo também aumentou, com uma adubação mais racional”, afirma.

Referência

A cafeicultora Bruna Carolina da Silva, de apenas 22 anos, se tornou a principal representante desta nova fase da cafeicultura de Fervedouro. Ela toma os cuidados durante a colheita seletiva, investiu em terreiros suspensos para a secagem, e faz os processos de torra e moagem do café na propriedade. As mudanças garantiram ao produto, conhecido como Café Especial da Bruna, a pontuação que define os cafés especiais.

O trabalho desenvolvido pela jovem em Fervedouro se destacou até fora do país. No ano passado, ela foi finalista do Premio a La Innovación Juvenil Rural de América Latina y el Caribe (Prêmio Juventude Rural Inovadora da América Latina e do Caribe). A cafeicultora concorreu na categoria Geração de Renda, pela experiência inovadora e empreendedora com a produção de cafés especiais. O prêmio é uma iniciativa do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização das Nações Unidas (ONU).

O reconhecimento internacional e o empenho em produzir um café de qualidade superior abriram o mercado para a jovem, que hoje vende a produção para vários estados do país. “Ano passado, fizemos dez sacas. Por termos nossa marca, vendemos cada saca de café por mais de R$ 1,6 mil”, conta.

Ronivon Xavier Rosa é mais um agricultor familiar de Fervedouro que começou a investir em cafés especiais. Em 2019, ele construiu uma estufa, com terreiro suspenso, para melhorar os cuidados pós-colheita. E o resultado não demorou a aparecer, com destaque nos concursos municipais de cafés especiais. “Ganhei o concurso de Fervedouro em 2019. Em 2020, já deu para fazer uma quantidade maior porque a colheita foi mais fácil, e ganhei de novo o primeiro lugar”, conta.

Para este ano, o Ronivon pretende aumentar a área da lavoura dedicada ao café especial e, também, a quantidade de terreiros suspensos. “Comecei sozinho, com a ajuda do Adenilson da Emater-MG, e depois o próprio manejo vai te ensinando a trabalhar. Fui vendo as melhores variedades que se adaptavam para o café tipo especial”, afirma.

Premiações regionais

Além do concurso municipal, os cafeicultores de Fervedouro também foram premiados em concursos regionais de qualidade de café e chegaram à final do Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais.

A agricultora Nelizilda Castelani Doná Ferreira também resolveu aprimorar o sistema de produção para vender um café diferenciado. Dos 16 mil pés da propriedade, foram separados 2 mil para a produção de café especial. “Tivemos o incentivo da Emater-MG, que nos orientou a fazer cata seletiva dos grãos e construir o terreiro suspenso. Se tudo der certo, queremos aumentar os talhões para fazer cafés especiais”.

Ela destaca também a criação da Associação dos Cafeicultores Familiares de Fervedouro (ASCAFF). Em grupo, eles conseguem comprar insumos a preços mais acessíveis e também trabalham para divulgação do café do município. “Tivemos a ideia e fizemos um concurso de café especial para mostrar nosso trabalho, mostrar que temos que cuidar do café, porque ele é um alimento, e assim também agregar preço ao produto de qualidade”, diz Nelizilda Ferreira.

Meio ambiente

Um dos destaques do trabalho desenvolvido com os cafeicultores de Fervedouro é o cuidado com o meio ambiente. A produção sustentável no município fez parte dos nove projetos que deram o primeiro lugar à Emater-MG, na categoria Destaque Estadual, na 11ª edição do Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza. O prêmio é uma referência nacional e homenageia o ambientalista mineiro, falecido em 2008, que é considerado um dos precursores da consciência ecológica na América Latina.

“Além da preservação de nascentes e da manutenção das Áreas de Preservação Permanente, os produtores fazem o uso consciente de defensivos, visando reduzir custos e causando o menor impacto possível ao meio ambiente”, informa o técnico da Emater-MG, Adenilson Mendes Chaves.

Na propriedade de Bruna Carolina, foram construídas bacias de contenção e curvas de nível para reter a água no solo. “Temos uma área fechada de preservação, que é nossa reserva ambiental. Vamos cercar outra área este ano. Sobre os defensivos, usamos o mínimo possível, só se tiver alguma coisa incontrolável”, explica Bruna.

Os mesmos cuidados também são tomados na propriedade de Ronivon Xavier, com a construção de bacias de captação de água da chuva e manutenção das estradas vicinais, para evitar enxurradas. “A água aqui na propriedade aumentou muito. E este ano já reduzi bastante o uso de agrotóxicos. Estou usando só adubo e a roçadeira, no lugar da enxada, para evitar erosão”, relata o produtor.

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