Sarau reúne poesia, música e dança em penitenciária de Ipaba

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A primeira edição do Sarau livre “Vida e Liberdade” foi realizado na tarde desta quinta-feira (12), na Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho

Um auditório repleto de olhos atentos e um palco iluminado por luminárias artesanais. Bandeirolas, cores, sons e um varal de poesias. Vinte e três poemas declamados entre uma apresentação musical e outra. Este foi o cenário da primeira edição do Sarau livre “Vida e Liberdade”, realizado na tarde desta quinta-feira (18/12), na Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho, em Ipaba, região do Rio Doce.

No palco, os artistas eram internos da unidade prisional que, ao longo do semestre, se dedicaram às oficinas culturais conduzidas pelo músico Mateus Soares Malaquias e pelo rapper mineiro Peterson Rodrigues, conhecido como Pets Killaone. Foram doze oficinas e muita força de vontade dos detentos para aprender técnicas de criação, rimas e desenvolvimento de poesias, bem como aulas práticas de instrumentos musicais. O resultado das oficinas encheu de alegria todos os envolvidos no projeto: muita emoção e a certeza de que a arte é capaz de transformar.

O sarau é a consequência de um projeto articulado entre a unidade prisional, técnicos do Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PrEsp), da Secretaria de Estado de Defesa Social, e o projeto “A Rua Declama”, de Pets Killaone. Para Francislaine Sampaio, gestora social do PrEsp, que acompanhou todo o trabalho realizado durante as oficinas, o sarau superou as expectativas. “Foram 23 poesias autorais declamadas e um envolvimento muito grande por parte dos detentos. A ideia foi criar alternativas diante de um contexto de habilidades que eles não estavam habituados”, disse. Para Francislaine este foi um evento que possibilitou aos expectadores ter outro olhar sobre os internos, que não fosse o rotulado e estigmatizado.

O professor de música e facilitador do projeto, Mateus Malaquias, captou as habilidades dos detentos, aproveitando os talentos já demonstrados e os ensinou algumas técnicas instrumentais. O resultado foi um show musical que emocionou a todos. O projeto foi abraçado também pelo reconhecido rapper Pets Killaone, que trabalha há dez anos com expressão artística urbana, demonstrada por meio do rap, dos poemas e da dança. Killaone é idealizador do projeto “A Rua Declama”, que está disponível em seu canal no site youtube e representa a exposição do grito que vem das ruas, da periferia, entoado em forma de poesias e suas métricas.

Com tantos interessados pelas oficinas, a ideia em se produzir um sarau livre surgiu pela necessidade de se destinar espaço para as mais diferentes demonstrações artísticas: a música, a poesia, a dança e o canto. E o evento possibilitou tudo isso. Quem não escreveu uma poesia, mas teve vontade de ler um poema, recolheu um dos versos do varal e declamou. Quem sabia dançar, dançou. Os que sabiam cantar, assim o fizeram.

Para Killaone o resultado do sarau foi surpreendente. “Quando as oficinas começaram os detentos não sabiam se expressar sem serem tão explícitos. Os ensinei a escrever poesia sem serem tão agressivos. Ensinei técnicas de rima, composição de estrofes e versos. Eles estavam dispostos a aprender e encontraram nesta oportunidade a possibilidade da mudança, da reflexão e do autoconhecimento, deixando aflorar o talento que cada um tem dentro de si”, disse o rapper.

A lição foi aprendida e o resultado foi um sarau repleto de poesias que retratam a liberdade, as mazelas da vida cotidiana, a política, o arrependimento, o perdão e o desejo de uma vida nova. E foi por meio do poema “Caminho da Liberdade” que o detento Francislan Pires da Mata expressou o seu sentimento. Nas últimas estrofes do seu poema ele escreveu: “Mas quem é aquele que saiu da fábrica de monstros? Mudados podemos falar, sou alguém e estou pronto. Com a minha família ganhei não dez, mas mil pontos. De carteira assinada me orgulho e conto. Estou mudado, regenerado. Aí mundão eu, alguém estou pronto! Graças a Deus hoje me orgulho e conto. Hoje sou cidadão, não monstro”.

A primeira edição do sarau livre resultou em muitas satisfações e a principal delas foi a certeza de que a arte é um dos caminhos para o resgate da dignidade. Participaram do evento artistas da região, técnicos do PrEsp, facilitadores das oficinas culturais e convidados da Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho.

Sobre o PrEsp

O Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional – PrEsp é um programa da Política de Prevenção Social à Criminalidade desenvolvido pela Secretaria do Estado de Defesa Social (SEDS) por meio da Coordenadoria Especial de Prevenção à Criminalidade (CPEC) que visa favorecer o acesso a direitos e promover condições para a inclusão social de egressos e egressas do sistema prisional, minimizando as vulnerabilidades relacionadas a processos de criminalização agravadas pelo aprisionamento.

(Agência Minas)

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