COMENDO E MORRENDO – Alexandre Sylvio Vieira da Costa

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Foi comprovado o que já sabíamos há muito tempo: estamos sendo envenenados e morrendo lentamente. Diferente de outras áreas, a agricultura pode causar a contaminação e morte de um grande número de pessoas. Um médico, por exemplo, quando comete um erro na mesa de cirurgia causa a morte de uma pessoa. Na engenharia, um prédio que cai pode causar a morte de dezenas de pessoas, mas na agricultura, um agrotóxico pulverizado de forma errada, não respeitando o seu processo de segurança pode causar a morte lenta e dolorosa de milhares de pessoas. Alguns agrotóxicos quando ingeridos em excesso induzem a formação de tumores e cânceres ao longo dos anos e quando são detectados nem imaginamos que a sua causa pode ser de origem alimentar, principalmente por não termos base histórica para provar as teorias já que a ingestão do veneno foi lenta e gradual.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária cita nos seus relatórios o estudo de contaminação dos alimentos por agrotóxicos. Os produtos foram coletados nos mercados, ou seja, nos pontos de aquisição do consumidor. A primeira parte do estudo mostra que, das vinte culturas analisadas, em quinze foram encontrados agrotóxicos que estão em processo de reavaliação toxicológica por conta dos seus efeitos negativos para saúde humana. Muitos agrotóxicos estão sendo reavaliados no Brasil porque em vários países eles já foram banidos há muito tempo. Foram identificados, por exemplo, nos frutos de pepino e pimentão contaminação por endossulfan, cebola e cenoura contaminados por acefato e pimentão, tomate, alface e cebola contaminados por metamidofós. O problema aumenta quando verificamos o número de amostras com elevada presença de agrotóxicos: no caso do pimentão, 80% das amostras coletadas no mercado apresentaram algum tipo de problema com os agrotóxicos, uva 56,4%, pepino 54,8% e morango 50,8%. O produto que apresentou menor grau de contaminação foi a batata com 1,2% das amostras. Foram coletadas 3.130 amostras com 29% delas apresentando algum tipo de irregularidade.

O grande problema é encontrado nas frutas e produtos hortícolas onde a aparência é fundamental e que são consumidos in natura. Para evitar que pragas e doenças danifiquem a aparência do produto, a carga de agrotóxicos na lavoura, em muitos casos, é muito maior do que a recomendada. O que fazer? Recomendações da ANVISA indicam que o consumidor deve optar por produtos com origem conhecida, mas o nosso sistema de rastreabilidade dos produtos praticamente não existe. O estudo incluiu a rastreabilidade dos produtos e em 64,9% das amostras a agência conseguiu rastrear apenas até o distribuidor, ou seja, quem produziu? Como produziu? Comemos frutas e verduras como se fosse uma loteria, sem saber da sua origem ou se está contaminado. Em alguns casos, até mesmo produtos considerados orgânicos são suspeitos, pois quem nos garante que ele foi cultivado organicamente?

Infelizmente, a falta de regulamentação em relação a produção de alimentos no Brasil nos coloca a mercê de agricultores que por má fé ou ignorância põe em risco a vida de milhares de pessoas, consumidores que, sem saber, pensam estar fornecendo a sua família uma alimentação saudável, mas que na realidade podem estar criando sérios problemas de saúde no futuro.

Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?



– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;

– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br

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