Mineira mãe de 20 filhos narra desafios na criação

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Que ser mãe é ter amor maior do mundo, ninguém dúvida. Mas para dar à luz a 20 filhos é necessário também força e coragem. Esses dons concedidos a Neli Maria de Carvalho, de 75 anos, moradora de Divinópolis, que venceu a fome, a pobreza e inúmeros desafios na criação para dar dignidade e educação para todos os filhos. Atualmente, com 15 filhos vivos e mais de 100 netos e bisnetos.

“Tá doido, é coisa de louco! Imagina criar essa filharada sozinha, enquanto o meu marido trabalhava muito para ganhar dinheiro e trazer comida para a gente. Já teve épocas em que eu dava comida sem manteiga para os meninos, ralava os pães de sal, junto com café para render mais, ou até comiam farinha com água. Foi difícil demais, se não fosse Deus não conseguiria”, disse.

Neli teve o primeiro filho aos 16 anos e o último aos 45 anos. Mãe de Maria Luiza, José Raimundo, José Luís, Rosângela, Vera Lúcia, Marli, Lucimar, Simone, Keyla, Márcia, Silmara, Solange, Willian, João Batista, Ailton, Marcos, Márcio, Adriano, Amilton, além de outro filho, que perdeu antes de registrar, ela disse que o médico ainda afirmou que ela teria saúde para ter mais quatro partos, mas já satisfeita, preferiu fazer a laqueadura.

“Loucura, era um filho atrás do outro, não tinha tempo nem para fazer comida. Era assim, com pouco tempo de resguardo, estava grávida de novo (risos)”, concluiu.

No entanto, com muitos filhos e pouco dinheiro, Neli sentiu na pele a dor da perda. Apesar de a criação ter sido preenchida de amor e carinho, por falta de recursos os filhos cresceram em situação de risco e esgoto a céu aberto, além de uma alimentação precária. Dos cinco falecidos, quatro foram motivados por desnutrição e fraqueza.

“Para mim é um sonho que isso tudo aconteceu. É muito triste e choro até hoje. Mas sabe, tenho fé que eles estão olhando por nós e nos abençoando. É o modo de minimizar a dor que sinto”, disse.

Dona Neli, Luizão e onze, dos quinze filhos vivos (Foto: Marli Aparecida/Arquivo Pessoal)

Cumplicidade

Casada há 59 anos com Luiz Romão da Silva, de 75 anos, sempre estiveram juntos na criação dos filhos. O marido trabalhou em metalúrgica, vendeu peixes, fez revendas de carvão e atualmente é proprietário de um comércio, segundo ele, sozinho conseguiu melhorar de vida e dar aos filhos o mínimo.

“Eu nunca exigi de nenhum filho trabalhar. Acordava cedo, ia para a metalúrgica e quando voltava, saía para vender peixes. Trabalhei muito, muito mesmo. Com o trabalho digno fui conseguindo vencer, mas não foi fácil viu. Cheguei a não poder estar no velório de uma das minhas filhas. Paguei caro, mas com a graça de Deus, hoje é só fartura!”, afirmou.

Apesar de Luizão não exigir dos filhos, ainda na infância eles começaram a trabalhar e alguns até chegaram a pedir esmola. Eles viviam a dificuldade de Neli e sonhavam com uma vida melhor, queriam retribuir o esforço da mãe, ajudando-a nas despesas da casa.

“Lembro bem disso. Na infância eu e meus irmãos saíamos às ruas para pedir dinheiro, foi sofrido, faltava comida, sempre estávamos doentes, mas graças a Deus, conseguimos vencer”, lembrou Willian, um dos filhos.

O esforço foi recompensado com a ajuda de todos e o empenho de Luizão. Hoje já não falta mais comida, a casa está sempre cheia, não apenas dos filhos e dos netos. Dona Neli se tornou mãe da vizinhança e diariamente cerca de 50 pessoas almoçam na casa dela.

“Eu tenho disposição viu, não sinto nada, graças a Deus. Tenho dois fogões de lenha e faço comida pra todo mundo, quem chegar aqui vai ter o que comer. No natal é a coisa mais bonita, todo mundo junto, aquele povão. A gente mata uns cinco porcos e duas vacas, não falta nada pra ninguém. Hoje é só fartura”, afirmou Neli.

Dona Neli, Luizão e alguns netos e bisnetos (Foto: Marli Aparecida/Arquivo Pessoal)

(Fonte: G1 Centro-Oeste de Minas / Repórter: Laiana Modesto)

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