Manifestantes estiveram ontem (18/3), na Avenida Paulista, para protestar contra o impeachment da presidenta Dilma Roussef e em defesa da democracia. Desde as 17h30, os participantes se reuniram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) e se espalharam pela avenida.
Vestidos predominantemente de vermelho, o público carregou bandeiras também vermelhas, bexigas e faixas que pediam democracia e repudiavam o golpe, referindo-se ao impeachment de Dilma. A palavra de ordem mais gritada na manifestação, convocada pela Frente Brasil Popular, foi “não vai ter golpe”.
A presença de jovens no protesto foi notável, porém havia pessoas de diversas faixas etárias. O estudante João Carlos Martins, 20, acredita que o país está “à beira de um caos, de uma guerra civil”, caso haja impeachment. “Eu vim para a defesa da democracia no país, que está sendo afetada por pessoas que não aceitam a eleição que teve no passado”, disse. Ele lamentou ainda a intolerância e o ódio que se vê nas ruas por divergências políticas. “As pessoas nem podem mais andar vestidas com roupa vermelha na rua que são espancadas”.
Manifestação na Avenida Paulista (Juca Varella/Agência Brasil)
Renato Zapata, 27, jornalista, criticou a política desenvolvida pelo governo atualmente, no entanto, manifestou-se “em defesa da democracia, contra o que temos visto esses dias, as pessoas agredindo as outras só porque elas estão de vermelho”. Ele é contra o impeachment e acredita que isso significaria um golpe.
“Hoje o governo precisa ser defendido em relação ao meu voto, ao voto de todo mundo. As pessoas vêm para defender seu voto e não o governo em si”, disse ao explicar que a questão não é simplesmente partidária.
O pesquisador Alexandre Ferro Otsuka, 27, disse que foi à Avenida Paulista em defesa da democracia. “O que o [juiz Sérgio] Moro está fazendo no Judiciário, inorando as leis, passando por cima do processo jurídico que deveria ser feito, coloca em risco nosso Estado de Direito e a nossa democracia”, avaliou.
Segundo levantamento da Polícia Militar, 80 mil pessoas estavam presentes na manifestação às 18h45, horário considerado de pico pela corporação.
Diversas entidades apoiaram o ato, entre elas a Central Única dos Trabalhadores; Central de Trabalhadores do Brasil (CTB); Frente Brasil Popular; sindicatos, como bancários e professores; e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Manifestação na Avenida Paulista (Juca Varella/Agência Brasil)
Lula
Mais cedo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou em um carro de som posicionado em frente ao Museu de Arte de São Paulo. Sob aplausos, ele defendeu a democracia e disse que o tempo que resta ao final do governo Dilma é “suficiente para virar a história do país”.
“Quero dizer para aqueles que não gostam de nós, talvez falte informação, mas temos que convencê-los que democracia é acatar o voto da maioria do povo brasileiro”, destacou. Durante o discurso, Lula juntou-se ao coro dos manifestantes gritando a frase “Não vai ter golpe”.
O ex-presidente destacou a importância de se restabelecer a paz no país e lembrou que perdeu as eleições muitas vezes, mas nunca protestou contra quem ganhou. “Tem gente que fala em democracia da boca pra fora. Perdi as eleições em 89, em 94 e em 98 e em nenhum momento vocês viram eu ir pra rua protestar contra quem ganhou”.
Lula durante ato na Avenida Paulista contra o impeachment (Juca Varella/Agência Brasil)
Manifestação na Avenida Paulista (Juca Varella/Agência Brasil)
Brasília
Na capital federal, manifestantes a favor do governo Dilma Rousseff e contra o processo de impeachment se reuniram no Museu da República, no início da Esplanada dos Ministérios. O ato foi organizado pela Frente Brasil Popular, e os manifestantes levaram cartazes com frases de apoio a Dilma e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contra o que chamam de golpe.
“Esse é um ato em defesa da democracia, contra o golpismo e o fascismo que está explodindo no país. Estamos defendendo a mudança de discurso no Congresso, que pare de discutir só o golpe e que encaminhe avanços nos direitos da classe trabalhadora”, disse o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-DF), Rodrigo Rodrigues.
Com gritos de ordem e críticas ao juiz Sérgio Moro, aos partidos de oposição e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os manifestantes marcharam em direção ao Congresso Nacional. Eles ficaram concentrados por cerca de duas horas em frente ao Museu da República, onde foi projetada a frase “Não vai ter golpe!!!”. A máquina de laser usada para a projeção estava em um carro de som. À medida que o carro andava, a frase ia sendo projetada em outros prédios da Esplanada.
Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, mais de 4 mil pessoas participam do ato.
Manifestação em Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Manifestação em Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Manifestação em Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Manifestação em Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a manifestação contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff reuniu manifestantes na Praça XV, no centro do Rio. Eles carregavam cartazes e defendiam a permanência da presidenta. Os manifestantes também fizeram atos de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Ministro Lula estamos com você”, dizia um dos cartazes.
Para a atriz Letícia Sabatella, que participou do ato no Rio, o objetivo em comum entre todos os movimentos presentes nas manifestações de hoje é a luta pela democracia e o combate à corrupção, mas não a que atinge apenas um grupo. “Vamos fazer uma reforma política, vamos lutar por esta reforma para que a gente limpe todos os focos de corrupção. E não apenas pegar um bode expiatório e dizer que esse é o grande corrupto. Vamos olhar onde está a corrupção, ver porque ela existe e porque o sistema funciona desta maneira”.
Manifestação no Rio De Janeiro (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Manifestação no Rio De Janeiro (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Salvador e Fortaleza
Em Salvador, militantes, estudantes e representantes de centrais sindicais e movimentos sociais da Bahia fizeram um ato contra o impeachment desde o início da tarde em Campo Grande, região central da cidade. Eles gritavam palavras de ordem como “Não vai ter golpe” e seguravam cartazes de apoio a Dilma. Segundo a Polícia Militar, mais de 70 mil pessoas acompanharam a passeata que seguiu em direção à Praça Castro Alves, onde o evento foi encerrado.
Manifestação em Salvador (Sayonara Moreno/Agência Brasil)
Em Fortaleza, a manifestação organizada pela Frente Brasil Popular começou à tarde e percorreu as ruas do centro da capital cearense até chegar à Praça do Ferreira no começo da noite. Segundo a PM, 7 mil pessoas compareceram ao ato.
Porto Alegre
Na capital gaúcha, cerca de 10 mil pessoas se reuniram na Esquina Democrática, no cruzamento entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua dos Andradas.
Entre um e outro discurso de lideranças partidárias e de movimentos sociais, a multidão gritava “Não vai ter golpe, vai ter luta”. A maioria dos participantes vestia roupas vermelhas e muitos carregavam bandeiras do Brasil, de partidos políticos (PT e PCdoB) e de movimentos sociais, entre eles o MST e a CUT.
Os manifestantes elegeram a Rede Globo como um dos principais alvos do protesto em Porto Alegre. A atuação da emissora na divulgação das notícias envolvendo o ex-presidente Lula foi encarada como “orquestração” para forçar a derrubada do governo Dilma.
A empregada doméstica Lídia dos Santos disse temer que a instabilidade política do país permita que um governo de exceção seja instaurado, como em 1964. “Estou aqui porque quero lutar por um Brasil livre para meus filhos. Eu vivi durante a ditadura e reconheço o golpe quando vejo um em curso”, disse Lídia.
Manifestação em Porto Alegre (Daniel Isaia/Agência Brasil)
Manifestação em Porto Alegre (Daniel Isaia/Agência Brasil)
Recife e Manaus
No Recife, a manifestação ocupou as ruas do centro da cidade e tomou a Avenida Conde da Boa Vista, uma das maiores da região. Entre os manifestantes, se destacava a presença de grupos de maracatus, de caboclinhos (manifestação cultural popular de Pernambuco), bonecos gigantes de Olinda até o dragão de pano do bloco de carnaval Eu Acho é Pouco.
A maior parte das pessoas vestia vermelho, mas muitos optaram pelo verde e amarelo, entre bandeiras do Brasil e de Pernambuco. A mobilização reuniu partidos, movimentos sociais e sindicais e também pessoas sem ligação com entidades organizadas.
Em Manaus, a manifestação contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff levou cerca de 3.000 pessoas à Avenida Sete de Setembro, no centro da capital do Amazonas, conforme cálculo da Polícia Militar (PM) do Amazonas. Os participantes do ato defendem ainda a democracia e os direitos sociais.
Vestidos de vermelho e branco, usando apitos e carregando bandeiras do Brasil, de movimentos sociais, sindicais e do PT, os manifestantes gritam, a todo momento, “não vai ter golpe”. A presidenta da Associação Afrodescendente e Indígena do Amazonas, professora Elisoneide Rodrigues, foi prestar apoio à presidenta Dilma Rousseff.
“Nós, mulheres negras, a partir dos governos de Lula e da presidenta Dilma, tivemos mais oportunidade de fazer nossas propostas, porque a população negra é uma parcela excluída da sociedade e, no governo deles, teve essa abertura”, disse a professora.
Belo Horizonte
As ruas do centro de Belo Horizonte foram tomadas de vermelho durante o ato contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Manifestantes vestidos em sua maioria da cor que simboliza a esquerda entoavam palavras de ordem contra o que acreditam ser uma tentativa de golpe.
A presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, fez um balanço positivo da manifestação. “Foi um claro recado de que há resistência. Um aviso aos partidos e a ala do Judiciário que defendem o golpe que nós vamos resistir. Vamos buscar caminhos dentro da democracia pra resolver esse impasse”, disse.
Segundo Beatriz, os recentes vazamentos de ligações grampeadas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de pessoas próximas a ele são ilegais. “Por que interessa com quem a mulher do Lula conversa ao telefone? Como de repente isso vira manchete de jornal? É inacreditável”, criticou.
O ato começou por volta das 16h, com concentração na Praça Afonso Arinos, região central de Belo Horizonte, de onde saiu até a Praça da Estação. Cartazes contra o juiz Sérgio Moro e a TV Globo dividiam espaço com bandeiras do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Em frente a praça, na sacada do edifício da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estudantes exibiram cartazes em apoio às manifestações.
Líderes da CUT-MG, do MST e de outros movimentos sociais dividiram o microfone nos carros de som que acompanhavam o trajeto. “Estamos vendo direitos individuais sendo violados. Trouxemos aqui uma carta assinada por diversos promotores que não concordam com a ilegalidade”, disse o promotor do Ministério Público de Minas Gerais Gilvan Alves Franco, um dos oradores.
A crítica à atuação do juiz Sérgio Moro deu o tom da maioria dos discursos. “Se nós violarmos a Constituição de 1988, também perdemos as bases do Estado Democrático de Direito. O Judiciário é um poder autônomo, porém não pode ser partidário”, disse o cientista político Lucas Cunha.
Além de apoiadores do governo, pessoas que têm críticas ao Executivo, mas que nem por isso apoiam o impeachment, também aderiram à manifestação desta sexta-feira na capital mineira.
A funcionária pública Maria Lina Soares Souza, 66 anos, lembra que viveu a ditadura militar, participou da campanha das Diretas Já, se entusiasmou com o surgimento do PT e mais tarde se decepcionou com o partido.
“Me frustrei com as falhas éticas de alguns políticos do partido. Mas é inegável as conquistas deste governo e quando se trata de defender o Estado Democrático de Direito eu viro petista de novo”, disse.
A contadora Cláudia de Souza e Silva, 52 anos, criticou os que esperam a renúncia da presidenta Dilma Rousseff. “É uma mulher que foi torturada na época da ditadura militar e não delatou nenhum companheiro. Então não esperem que ela vá esmorecer. Estamos firmes na luta.”
O ato de BH também teve a presença de prefeitos de municípios mineiros e outros políticos, como o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), e a deputada federal Jô Morais (PCdoB). Por outro lado, o governador Fernando Pimentel (PT) não compareceu. Ele foi representado pelo secretário de Direitos Humanos de Minas Gerais, Nilmário Miranda, que acusou a oposição de usar o aparato judiciário para fazer luta política.
“As elites que comandaram os países há séculos não conseguem conviver com quem tem outros projetos. Já vivemos outros momentos semelhantes. O golpe de 1964 foi isso”, comparou.
Segundo a Polícia Militar, 15 mil pessoas participaram da manifestação. Ao fim do ato, um evento cultural: músicos mineiros como o rapper Flávio Renegado e a sambista Aline Calixto assumiram o trio elétrico.
(Agência Brasil)
PUUUTA QUE ME PARIU, JURA QUE DEFENDEM ESSA CRIMINOSA MESMO?