Patrimônio Cultural Mundial desde 1985, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, localizado na cidade mineira de Congonhas, a 75 quilômetros (km) de Belo Horizonte, ganha nesta terça-feira (15) um espaço que o homenageia e reconhece sua importância histórica e artística: o Museu de Congonhas. A instituição, que será aberta a partir das 10h30, é fruto de uma parceria entre Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a prefeitura da cidade.
O objetivo é que o museu funcione como uma extensão da parte histórica da cidade, para que os turistas conheçam o passado e compreendam a importância da região. “Queremos potencializar a interpretação do museu a céu aberto que temos aqui. Todas as pessoas que passarão pelo museu terão mais recursos para entender as questões ligadas à devoção e à arte do Santuário”, afirma a coordenadora do programa educativo do museu, Maria de Lourdes Reis.
A instituição, construída ao lado do Santuário, tem espaços como sala de exposições, biblioteca, auditório, ateliê, espaço educativo, cafeteria e anfiteatro ao ar livre. A mostra permanente do Museu de Congonhas retrata manifestações de fé do povo mineiro por meio de práticas como as romarias e a exposição de ex-votos (objetos que representam concretização de um pedido ou milagre e são oferecidos como agradecimento).
O Museu de Congonhas é uma homenagem à importância histórica e artística do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos – Foto: Ana Elisa / Portal EBC / Divulgação Agência Brasil
Interatividade
A visita ao museu oferece diferentes percepções: logo na entrada, os visitantes deparam com os sons dos passos e a imagem dos romeiros que, todos os anos, reúnem-se em Congonhas para um jubileu que acontece há mais de dois séculos. Em uma das salas seguintes, o som ambiente é uma ladainha gravada por beatas da cidade. Telas interativas apresentam detalhes das obras e histórias retratadas em maquetes, ilustrações e vídeos que se encontram em todo o espaço.
A participação da comunidade foi essencial no processo de concepção do museu, segundo Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação Municipal de Cultura, Lazer e Turismo de Congonhas (Fumcult), responsável pela administração do espaço. “Moradores foram preparados para ser monitores; convidamos artesãos para fazer tapetes de serragem, andores, terços de conta de lágrima, estandartes que serão vendidos como souvenir. Congonhas tem uma tradição riquíssima e isso cria uma sensação de pertencimento da comunidade para tudo que está aqui”, acredita Reis.
O setor educativo do museu tem 12 mediadores, especializados em apresentar o espaço em linguagens diferentes, de acordo com público. Assim, será possível trabalhar com visitas agendadas de escolas, grupos de jovens e terceira idade, por exemplo, além das visitas espontâneas. A ideia da coordenadora é estimular a preservação contextualizada de tudo na região. “A gente precisa compreender nosso patrimônio e ressignificar isso dentro da nossa vida; não apenas trazer o conhecimento puro e simples”, explica Maria de Lourdes Reis.
O acervo do museu também conta com 342 peças que pertenceram à coleção Márcia de Moura Castro, pesquisadora que se dedicou a adquirir arte sacra e objetos de religiosidade popular, com destaque para ex-votos e santos de devoção. Em breve, o espaço terá também uma biblioteca com a coleção Fábio França, que é referência no Brasil sobre o barroco, a arte e a fé. Entre os títulos doados ao museu, estão publicações de temas históricos e artísticos, com foco especial nas obras sobre a arte barroca, o barroco mineiro e a temática da vida e obra de Aleijadinho.
Telas interativas apresentam detalhes das obras e histórias retratadas em maquetes, ilustrações e vídeos – Foto: Ana Elisa / Portal EBC / Divulgação Agência Brasil
Preservação
O Santuário foi construído entre 1757 e o início do século XIX e é formado pela Basílica, que tem uma escadaria decorada por esculturas dos 12 profetas em pedra-sabão, todas obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; além de seis capelas com cenas da Via-Sacra, somando 64 esculturas em cedro feitas em tamanho natural. No conjunto, trabalhou também o pintor barroco Manoel da Costa Athaíde, conhecido como Mestre Athaíde.
Por se localizar em região de intensa atividade mineradora, a Basílica e as obras de Aleijadinho expostas ao ar livre sofrem com a deterioração natural. Por isso, há cinco anos foi realizado o escaneamento em 3D das 12 esculturas dos profetas, em uma parceria da Unesco com a Universidade Federal do Paraná, a partir do qual é possível construir réplicas que podem, futuramente, substituir as obras originais, que seriam colocadas dentro do museu para maior preservação. A ação, no entanto, ainda não está definida e precisa passar por diversas discussões. “O museu já está preparado para uma ampliação; o anfiteatro ao ar livre seria o espaço da galeria que deveria futuramente receber os profetas na mesma disposição do santuário. Mas esse ainda é um debate muito amplo que precisa ser feito”, explica Sérgio Rodrigo Reis.
O Museu de Congonhas teve um custo total de R$ 25 milhões e foi financiado com recursos captados pela Lei Rouanet, recursos próprios da prefeitura de Congonhas e o apoio de patrocinadores. Outros investimentos, como a restauração da parte interna da igreja, estão sendo realizados com verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas. (Agência Brasil)