Municípios como Diamantina e Sabará avaliam que crescimento do carnaval na capital reduz público em outras cidades. Falta de recursos também é problema no interior: pelo menos quatro prefeituras já cancelaram festa.
O carnaval em Minas mudou de rota. Com o crescimento da festa em Belo Horizonte no ano passado e diante da expectativa da capital de receber até 1,5 milhão de pessoas na folia deste ano, cidades do interior com forte tradição carnavalesca admitem ter perdido foliões. Algumas estão tendo de reinventar suas festas e, além de atrações locais e grupos de batucadas, investem em artistas de expressão nacional para tentar atrair visitantes. Em pelo menos quatro municípios, o problema é outro. Com poucos recursos para bancar blocos de carnaval ou escolas de samba, quatro prefeituras cancelaram as festividades de 2015. Por questões econômicas, Formiga (Centro-Oeste), Mateus Leme (Central), Santa Maria de Itabira (Vale do Aço) e Santos Dumont (Zona da Mata) estão fora do circuito de carnaval.
Em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a opção foi alterar o perfil da festa depois que a prefeitura percebeu redução de 10% no número de visitantes do ano passado. “Todos os anos fazemos uma pesquisa durante o carnaval com questões relacionadas à origem dos turistas, meio de transporte, hospedagem, entre outras. O estudo de 2014, quando 20 mil turistas vieram para Diamantina, mostrou queda significativa de pessoas de Belo Horizonte”, afirmou o secretário de Cultura, Turismo e Patrimônio, Walter Cardoso França Junior. Ele lembra que, como BH não tinha tradição durante esta época do ano, as cidades coloniais e destinos mais agitados ficavam lotadas. Situação que se inverteu no ano passado. “Houve uma explosão do movimento de blocos de rua na capital e o interior sentiu esse esvaziamento”, disse o secretário.
Para alcançar a expectativa de 30 mil visitantes na folia deste ano, o investimento foi pesado. Na cidade, a festa tradicionalmente marcada pelos bloquinhos de rua e bandas Bartucada e Bat Caverna, vão ganhar reforço dos grupos Biquini Cavadão, Jota Quest, Inimigos da HP, Sambô e do cantor Wilson Sideral. “As pesquisas dos últimos cinco anos mostravam que o público queria alguma atração de fora. Diamantina nunca teve perfil de axé. Por isso, estamos arriscando em pop rock, estilo para o público mais adulto”, afirmou Walter. Por lá, serão 367 horas de shows durante seis dias. As bandas vão tocar em três pontos da cidade, de 15h às 6h. A folia em Diamantina custará em torno de R$ 2 milhões. Por acordo com o Ministério Público, o município e a empresa terceirizada para organizar a festa devem ter gastos proporcionais.
Em Sabará, na Região Metropolitana, a prefeitura teme perder foliões este ano. “O carnaval em BH cresceu muito. Como estamos ao lado da capital, já estamos tomando providências para que a cidade não fique vazia”, explicou o secretário de Turismo de Sabará, Saulo Laranjeira. Segundo ele, o planejamento inclui a contratação de artistas conhecidos. “Ainda não fechamos a programação, mas a lista para escolha conta com artistas considerados patrimônio da cultura brasileira”, disse Saulo. Os músicos de fora serão um reforço para as tradicionais apresentações de blocos caricatos, bandas de marchinhas e escolas de samba da cidade.
O diretor de eventos de Ouro Preto, na Região Central, Carlos Roberto Pedro disse que 60 mil pessoas visitaram a cidade no carnaval do ano passado, número considerado bom. Apesar das ruas cheias, ele afirma que muitos turistas de BH deixaram de ir por causa do crescimento da festa na capital. “Recebemos muitas pessoas de Belo Horizonte, mas esse número poderia ter sido maior”, disse. Este ano, a estratégia para atrair 65 mil foliões é investir nas atrações e infraestrutura. Uma empresa credenciada pela Lei de Incentivo à Cultura arrecadou R$ 1,5 milhão para aplicar na festa no centro histórico, enquanto a prefeitura organiza o carnaval nos distritos.
Abadás
Outra atração da festa em Ouro Preto são os eventos fechados, organizados por universitários em centros de convenção e ginásios, com venda de abadás e programação entre 13h e 19h. As festas pagas também são aposta de Pompéu, na Região Central, para manter o carnaval em alta. Segundo o prefeito Joaquim Campos Reis (PPS), o perfil diferenciado da festa na cidade – com shows de axé, venda de camarotes e de abadás – é um modelo consolidado no estado, que atrai público diferente de quem gosta de marchinhas e blocos de rua. “São 18 anos de tradição. De todo modo, vamos monitorar a visitação na cidade, tendo em vista o crescimento do carnaval de BH”, afirmou o prefeito.
Além da previsão de aumento de público no carnaval de rua da capital, outro indício de que a folia em BH surpreendeu são os pacotes turisticos voltados para a festa momesca. De acordo com a diretora de Promoção Turística da Belotur, Stella Kleinrath, o carnaval de Belo Horizonte cresceu e ganhou proporção de um evento turístico. “Além de ser uma oportunidade de entretenimento para o belo-horizontino, a festa está atraindo turistas do interior e de outros estados do país, movimentando o comércio, a hotelaria, agências receptivas, bares e restaurantes da cidade”, afirmou, por meio de nota.
Enquanto cidades com carnaval forte adotam medidas para atrair público, outros municípios decidiram não investir na folia este ano. Santos Dumont, por exemplo, vai conter gastos. “O cancelamento ocorreu por necessidade de contenção de gastos, já que o Fundo de Participação dos Municípios tem chegado com atraso e com valor menor”, disse a secretária de Meio Ambiente, Turismo, Esporte e Lazer, Cláudia Rocha. Segundo ela, a ordem é poupar para garantir investimentos em áreas como saúde, educação e infraestrutura. A economia aos cofres públicos do município será de aproximadamente R$ 1 milhão.
(Estado de Minas)