Servidores denunciam clima ruim entre contratados que podem perder emprego a qualquer momento. Agente penitenciário escreve carta em protesto contra situação de contratados e se mata em seguida
Um conflito entre agentes penitenciários pode estar comprometendo o funcionamento de presídios de todo o Estado de Minas Gerais. Servidores denunciam que têm trabalhado sob uma pressão que vai muito além do fato de lidar diariamente com criminosos de alta periculosidade. A falta de estabilidade na carreira, com ameaças de demissão, tem transformado o trabalho nas penitenciárias mineiras em um campo de disputa em que colegas concorrem para não estar na próxima lista de dispensados. São várias as denúncias de trabalhadores com problemas psicológicos devido ao estresse a que são submetidos no trabalho. No caso mais extremo, um agente se suicidou em Muriaé, na Zona da Mata.
Com 53 mil detentos, o sistema prisional de Minas conta com 15,5 mil agentes, 85% deles não efetivados, segundo o Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado (Sindasp-MG). Esses funcionários são contratados, seguem as regras de um trabalhador comum, mas não contam com os benefícios dos servidores efetivos da área. A partir de 2012, o Estado começou a fazer concursos para substituí-los, e hoje, a cada agente efetivado, um contratado é demitido. Segundo os servidores, não há um critério objetivo para o desligamento. Os nomes dos demitidos são definidos pela coordenação da unidade, portanto, qualquer contratado pode ser o próximo da lista.
Entre as grades. Segundo sindicato, agentes estão em uma disputa interna para evitar a substituição imediata por servidores efetivos – Foto: Alex de Jesus / Jornal O Tempo
“Essa situação deixou o clima insustentável. A todo momento um colega seu quer te dar uma rasteira. Não fazemos o nosso trabalho da melhor maneira. Com a dispensa iminente, os mais ‘fracos’ ficam mais suscetíveis a ser corrompidos pelos bandidos”, contou um agente penitenciário, que pediu para não ser identificado.
Outro agente reclama que os dispensados voltam para o mercado de trabalho sem nenhuma qualificação. “Você dedica seis anos de sua vida a um serviço que poucas pessoas querem fazer. Depois você é demitido, e qual é a experiência que você tem? Ter sido agente penitenciário não vale nada no meu currículo. E mesmo fora do sistema, você continua a sofrer ameaças de ex-detentos”, reclama.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) afirma que todos os agentes contratados pela Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) são empossados no regime temporário e têm informações acerca do contrato.
Medo contribuiu para suicídio
O medo de perder o emprego, a concorrência dos colegas e um quadro de depressão levaram o agente penitenciário Jefferson Anísio Gonçalves de Avelar, 29, ao nível máximo de desespero, que culminou com o suicídio. Ele trabalhava no presídio de Muriaé, na Zona da Mata, e se matou no último dia 13. O jovem estava em tratamento com antidepressivos, mas os pais dele acreditam que o estresse gerado pela situação que vivia no sistema prisional foi o ponto decisivo que o levou a tomar essa atitude.
Agente penitenciário contratado, Avelar era entusiasmado e orgulhoso com a profissão. Porém, a ideia de ser demitido o aterrorizava. Ele tentou por duas vezes ser aprovado no concurso, mas fracassou. Antes de cometer o suicídio, o agente gravou um vídeo, com o uniforme de trabalho, dizendo que o que estava fazendo era um protesto contra a demissão dos servidores contratados do sistema prisional.
Com a família, as reclamações da situação eram constantes. A mãe de Jefferson Avelar, a aposentada Maria Nilcéia Gonçalves, 63, conta que o filho estava aflito para ser aprovado no concurso. “Ele estava com uma obsessão em passar no concurso. Acordava às 5h todos os dias para estudar”, contou. Apesar de conhecer o quadro depressivo do filho, ela não imaginava que ele teria a atitude extrema. “Ele estava em um momento mais tranquilo. Tinha acabado de sair de férias e iria aproveitar o tempo livre para intensificar os estudos. Se não fosse a pressão que ele vivia no trabalho, não teria se matado”, desabafou.
(O Tempo)