Dor, comoção e revolta marcam o enterro de vítimas da tragédia na Avenida Pedro I em BH

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“Vou às últimas consequências para saber a causa da morte do meu filho. Não quero dinheiro, só respostas”. Com esse desabafo de dor, angústia e revolta, o cuidador de idosos Juarez Moreira de Melo, pai de Charlys Frederico Moreira do Nascimento, morto no desabamento do Viaduto Batalha dos Guararapes, acompanhou, ontem, o enterro do jovem de 25 anos no Cemitério Municipal Campo da Saudade, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “O prefeito falou na televisão que acidentes acontecem. É um absurdo. A obra teria que ser supervisionada pela prefeitura”, disse Juarez.

Amigos e familiares são tomados por comoção e revolta no velório de Charlys – Foto: Frederico Haical/HD

Amparada por amigos e ao lado do filho Álexis, enteado de Charlys, Cristilene Pereira Sena, de 24, limitou-se a dizer que não acredita em justiça. “Perdi a pessoa que amava. Sinto muita tristeza e sei que simplesmente não vai acontecer nada”, afirmou a mulher da vítima do desabamento. O corpo foi coberto pela bandeira verde da Comitiva Minha Vó Tá Maluca, grupo de cavaleiros de Lagoa Santa do qual participava.

“Ele era louco por cavalos”, contou o amigo de infância Marcyano da Silva Vicente, de 26. “Era um cara tranquilo, humilde, prestativo, bom de coração. Não conseguia falar não a ninguém”, disse Marcyano. Dez minutos antes do acidente, ele passou sob o viaduto da Avenida Pedro I. “Podia ter sido comigo. Isso é resultado da negligência de gente que estudou para construir obras e não causar mortes.”

Poucos minutos depois da chegada do corpo à capela do cemitério, a tia e madrinha de Charlys, Cleusa do Nascimento, desmaiou e foi carregada para a varanda do velório. A amiga da família, Tânia Maria Estêvão Candeias, elogiou o rapaz: “Não bebia, não fumava e era trabalhador”. Funcionário da empresa Soares Engenharia, Charlys trabalhava na área de serviços gerais. O chefe, Clébio Henrique Coelho, não continha as lágrimas. “Vamos sentir muita saudade dele. Foi a melhor pessoa que conheci”, afirmou.

Emocionados, parentes e amigos se despedem da motorista de ônibus morta na tragédia

O pai de Hanna Cristina, José Antônio dos Santos, é consolado pelo filho, Tiago, durante velório no Cemitério Bosque da Esperança – Foto: Edésio Ferreira / Estado de Minas

Há cinco anos, José Antônio dos Santos, de 61 anos, venceu um câncer na garganta e decidiu morar em Florestal, na Zona da Mata de Minas Gerais. Pai de três filhos, dedicado à família e com 40 anos de experiência como motorista de ônibus em Belo Horizonte, José, ontem, viveu a maior derrota da sua vida: enterrar a filha caçula, Hanna Cristina dos Santos, de 25.

Vítima do desabamento do Viaduto Batalha dos Guararapes, na tarde de quinta-feira, Hanna havia telefonado, poucos minutos antes do acidente, para pedir a bênção ao pai. “Eu disse: ‘Deus te abençoe, minha filha’. Ali, nos despedimos”, lamentou José Antônio durante o velório da motorista, cujo corpo foi enterro ontem à tarde no Cemitério Bosque da Esperança, na Região Norte da capital. No momento do telefonema, ele estava em Florestal.

José é exemplo para todos os filhos. Mesmo contra a sua vontade, eles decidiram seguir a carreira de motorista. Desde 2001, o pai dirigia o suplementar que ficou sob o viaduto, mas teve de abandonar a profissão, há cinco anos, por causa de um câncer na garganta. Hanna dividia com o irmão, Tiago, de 28, o volante do micro-ônibus pertencente à família. “Era excelente motorista, elogiada por todos”, orgulha-se José Antônio, convicto de que sua “menina”, como a chama, não bateu no viaduto. “Tiraram a vida da minha filha”, desabafou ele.

Com base no que ouviu de testemunhas, José diz que Hanna havia dado preferência ao BRT/Move que seguia pela pista mista da Pedro I e, por alguns segundos, escapou do acidente. “Além de salvar a vida da minha esposa, Débora Nunes, cobradora do suplementar, ela salvou a vida de muita gente, inclusive da própria filha, que estava no capô do veículo. Em um reflexo, a mãe a afastou da cabine. Hanna é a nossa heroína”, afirmou Tiago. De acordo com ele, a tragédia foi algo “encomendado para acontecer”.

(Estado de Minas)

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