Centro de pesquisa vai potencializar o extrativismo sustentável do Cerrado mineiro

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IGTEC e Unimontes apoiam o desenvolvimento da cadeia produtiva de frutos, fito medicamentos e resíduos florestais encontrados no bioma

Minas dá um passo importante para expandir a exploração econômica e ecológica das plantas medicinais, frutos e resíduos do Cerrado. O Instituto de Geoinformação e Tecnologia (IGTEC), em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), vai implantar o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Sustentável do Cerrado com a intenção de orientar e dar suporte tecnológico aos milhares de produtores e famílias mineiras que vivem da renda do extrativismo.

O pequi é muito importante para as populações do Cerrado – Foto: Emater / MG

As obras do centro, nas dependências da Unimontes, no Norte de Minas, em uma área de 1.500 metros quadrados, devem ser iniciadas no segundo semestre deste ano, com previsão de conclusão em 2015. A ideia é que o espaço se torne em uma referência para os produtores locais, onde eles possam ser capacitados para trabalhar com o conceito de extrativismo sustentável e aprimorar os processos de coleta, armazenamento e controle da qualidade de acordo com as exigências de parceiros e clientes.

“Não existe um ambiente para discutir e desenvolver as ações de forma bem organizada e planejada. O centro vai cumprir esse objetivo. Vamos ensinar as famílias que elas precisam preservar o Cerrado e interromper a degradação, porque é dali que elas vão retirar os frutos e plantas para manter as agroindústrias e transformá-los em produtos que agreguem valor, renda e qualidade de vida”, esclarece o pesquisador do IGTEC, Fernando Madeira.

“A Unimontes vai oferecer pesquisadores que estudam o Cerrado para desenvolver as atividades no centro, o que não aconteceria se ele fosse instalado em outro lugar, enquanto pesquisadores do Cetec vão poder trabalhar mais próximos do campo de estudo. Esses fatores vão potencializar os trabalhos que já estão em andamento e permitir estar presente junto às comunidades para desenvolver as cadeias produtivas”, acredita o pró-reitor de Pesquisa da Unimontes, Mário Marcos do Espírito Santo.

O projeto prevê organizar toda a cadeia produtiva, partindo da identificação das áreas de ocorrências dos insumos naturais até a comercialização dos produtos. Os frutos são transformados em polpa, licor, óleo, sabão, creme, farinha e até mesmo em adubo. As plantas são vendidas para a indústria farmacêutica, onde são aplicadas na fabricação de cosméticos, cremes, pomadas, comprimidos e cápsulas. Por sua vez, os resíduos florestais são aproveitados como matéria-prima para a confecção de artesanato.

“Tem ainda uma questão social, que busca verificar a melhoria de qualidade de vida dos trabalhadores beneficiados com o projeto”, acrescenta Fernando. Além da Unimontes, o IGTEC conta com a apoio das Secretarias de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), Meio Ambiente (Semad) e Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Sebrae.

Trabalho contínuo

O centro é um desdobramento de outros projetos que foram desenvolvidos nos últimos 20 anos pelo IGTEC. A instituição é fruto da junção do Instituto de Geociências Aplicadas (IGA) e da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, em dezembro de 2013. Um deles faz o diagnóstico, mapeamento e levantamento do extrativismo e do potencial econômicos da Fava D’anta, árvore típica do Cerrado, desde 2002. Da Fava D’anta é extraída a rutina, substância que serve como base para a produção de medicamentos e que tem cerca de 90% de sua produção enviada ao mercado externo, o que coloca o país na posição de maior exportador do mundo.

“As famílias foram cadastradas, agrupadas e instruídas a colher a fava de modo sustentável, o que tem viabilizado o processo de preservação da espécie e uma negociação mais justa com as indústrias”, explica Fernando. Prova disso é que, em 2002, a rutina era vendida a R$ 0,20 o quilo. Atualmente, o valor é de R$ 1,29. Além disso, nesse período o número de famílias envolvidas saltou de 115 para 586 e a quantidade de fava coletada avançou de 104 para 977 toneladas.

Outra iniciativa está voltada para a implantação de unidades de beneficiamento e comércio de produtos oriundos da base produtiva local. Atualmente, o IGTEC oferece suporte tecnológico a nove cooperativas que transformam frutos em doces, geleias, compostas e licores. Em 2002, o preço médio dos produtos comercializados era de R$ 0,40 o quilo com o envolvimento de 52 famílias. Hoje, o valor é de R$ 6,80 e o número de grupos familiares participantes é de 282.

Rico e sustentável

O cerrado é um bioma característico do Brasil que se destaca pela diversidade e riqueza da flora. As plantas e frutos deste bioma são usados na fabricação de alimentos, remédios, forragem, fertilizantes, energia, fibra, resina, goma, materiais de construção, entre outros. Em diversas regiões ainda se encontram populações tradicionais que conciliam o uso dos recursos naturais com a conservação do Cerrado, bioma que ocupa mais de 50% do território de Minas Gerais (veja imagem).



Entre as diversas frutas, destaca-se o pequi. O pequizeiro é uma planta muito importante para as populações do Cerrado, que a utilizam tradicionalmente para diversos fins, dando origem a uma série de produtos. Atualmente, Minas Gerais produz cerca de 30% de toda a produção brasileira de pequi, sendo o Norte de Minas responsável por 22,34%. Além do pequi, também destacam-se outras plantas e frutos típicos do cerrado, como o buriti, cagaita, umbu, araticum, baru, macaúba, coquinho azedo e mangaba. (Agência Minas)

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