Artista plástico natural de Sabinópolis tem trabalhos reconhecidos no Brasil e no exterior

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A personalidade por trás do desenho



Seja estampado em camisetas, multiplicado na forma de panfletos, ampliado em grandes cartazes nas escadarias da Sciences Po Poitiers, em lugar de grande destaque bem na frente do Cordeliers e na beira do Clain ou pela Internet, o desenho escolhido pela equipe do BDA para representar o Festival de Arte e Política de 2014, dominou o nosso senso de visão nas últimas semanas.

Mas quem é o artista por trás do desenho? Carlos Queiroz, 24 anos, natural de Sabinópolis/MG, formado em Publicidade e Propaganda na Universidade PUC Minas, no Brasil, responde a essa e várias outras perguntas em uma entrevista transatlântica entre São Paulo e Poitiers, trazendo à vida o lema do festival desse ano: Mosaicos do futuro, além das fronteiras!

Nome completo; Idade; Nacionalidade; Estudo; Profissão, etc.

Carlos Henrique Queiroz de Almeida. Mas o nome artístico ficou só Carlos Queiroz. 24 anos. Brasileiro. Estudei Publicidade e Propaganda na Universidade PUC Minas (Brasil) e em um intercâmbio, estudei também Desenho, Pintura (Belas Artes) e Animação em Cinema, na Universidad Nacional de Córdoba (Argentina). Trabalho em diversas áreas, mas tenho foco na área de ilustração, design e vídeo.

Qual é a importância da arte na sua vida?

A arte é importante na minha vida, mas, mais que isso, ela é essencial na vida de todos nós. A arte nos ajuda a sair do lugar, gera em você a necessidade de mudança. A arte é o questionamento que todos nós precisamos incluir em nosso dia-a-dia. Eu acredito muito que a arte não está nas paredes, diante de nós, quando vamos ao museu, acredito que arte é aquilo que você sente quando olha o que está diante de você. O impacto da arte pra mim é a própria arte, e por isso pra mim arte é tão importante: porque não fazemos arte, a sentimos.

Além do desenho, você pratica outros tipos de arte? Se sim, quais?

Além de ilustração, trabalho com fotografia, vídeo, e tenho alguns desvios poéticos, onde escrevo pequenas poesias e anotações. No momento venho me dedicando mais à ilustração. Sinto que é hora de deixar ela tomar conta das minhas coisas.

Como foi o seu percurso com a arte até agora?

Desde pequeno, como todos, eu já vinha tentando desenhar qualquer coisa em qualquer folha branca. Mas foi só há alguns anos que, estudando belas artes, abri o pensamento e me toquei que esse seria o melhor rumo pra minha vida: me dedicar ao que eu gosto, o fazer arte.

Me entendendo como artista visual, me juntei a um grupo de artistas da minha cidade e assim fui chamado pra fazer parte da Galeria Quartoamado (www.quartoamado.com). Participei de algumas exposições coletivas na cidade, mas ainda não parei pra montar uma exposição individual.

Além disso, paralelamente, também me juntei com outros amigos e formamos um coletivo, o LIO Coletivo (www.facebook.com/liocoletivo), que é um coletivo de artistas que querem trabalhar com performance, teatro e todo tipo de arte visual. Aí venho trabalhando com a parte audiovisual, fazendo vídeo-performances e fotos dos trabalhos. Ganhamos alguns prêmios com os trabalhos feitos até agora.

No momento, meu principal desejo é intensificar a parte de ilustração do meu trabalho. Pra este ano planejo minha primeira exposição individual.

Como foi a descoberta por essa paixão?

Me descobri artista quando percebi minha sensibilidade falando por mim. Me vi sensível às coisas que me aconteciam ao redor, ao ponto de deixar que a sensibilidade me controlasse, e não o contrário. Estudar Belas Artes sem dúvida despertou em mim a antiga paixão que tinha quando criança. Quando pequeno eu adorava copiar os desenhos animados que via e, como quase toda criança, deixei esse desejo dormir dentro de mim. Estudando numa escola de artes, fui voltando com todo aquele sentimento e achei que, sem dúvidas, tinha chegado a hora de ter a ilustração também como minha mais nova linguagem pra me expressar. A paixão começou há muito tempo, mas até hoje quando vejo que um desenho pode fazer a diferença na vida de uma pessoa, me apaixono outra vez.

Qual é a sua opinião sobre o Festival de Arte e Política da Sciences Po – Campus de Poitiers? Como você entrou em contato com esse projeto?

Um festival que trás ao cotidiano acadêmico a arte, a dança, a música, me faz ver a Sciences Po como uma universidade de formação sólida. Não conhecia o festival e nunca fui à França, mas reconheço os franceses como verdadeiros apreciadores da arte. Gosto de como reconhecem o valor disso pra formação de um ser humano capaz de perceber o mundo ao seu redor e que pode se aproveitar disso para mudar sua realidade. Entraram em contato comigo perguntando se eu queria fazer parte do projeto, vi como uma oportunidade de me envolver com algo extremamente prazeroso e ao mesmo tempo poderoso. Me senti ajudando a criar uma mensagem que seria repassada a várias outras mentes.

O tema do Festival desse ano é: “Mosaicos do futuro, além das fronteiras”. No que isso te faz pensar?

Creio que até a minha própria participação cultivou este tema. Além das fronteiras, podemos unir os pensamentos e criar uma força sem igual. Um Festival que engloba pessoas de vários países, diferentes formas de pensar. Pra mim este é o dever de uma verdadeira universidade: te colocar em contato com o universo, em contato com o diverso.

De onde veio a inspiração para o desenho ’slogan’ do Festival? Tem alguma história por trás?

No processo de criação eu quis pensar em algo que fosse sólido, mas que não deixasse de ser humano. As construções, paredes, pontes, são de concreto, sólidas. Mas ao mesmo tempo, nós criamos este concreto, nós construímos nossas fronteiras. O desenho tem a forma de uma pessoa por representar isso: uma edificação de concreto mas que na verdade é a construção do próprio ser humano. Nós construímos o que somos nós.

Você se envolveu em outros projetos ou tem algo planejado para o futuro? Algum que te marcou em especial?

Ando pensando muito em levar a minha vida para além das fronteiras também. Participar de projetos como este Festival me faz pensar que hoje em dias já não são muitas as distâncias a enfrentar. Ando firmando alguns projetos com empresas daqui, empresas que vão deixar o meu trabalho mais sólido e pronto pra sair comigo por aí. Agora pretendo dar um foco maior em exposições, a primeira delas está prevista para o meio do ano, plena época do Mundial de Futebol. Queria aproveitar o momento pra passar algumas mensagens através dessas mostras. Nem sempre faço muitos planos pro futuro, nossa cultura imediatista me faz pensar que não há muito o que prever, temos muito o que ver, aqui, agora.

Nos conte um pouco do dia-a-dia de um jovem artista: quais são os pontos fortes e as dificuldades.

Viver como artista te trás dificuldades em qualquer lugar. Alguns mais que os outros. O Brasil está num processo de crescimento maior nos últimos anos. Nos últimos anos começou a usar mais de sua arte, que sempre esteve em constante produção, mas algumas vezes esteve invisível. Por enquanto, um artista como eu, que quer sobreviver de arte na minha cidade, enfrenta a dificuldade do patrocínio. São poucas as possibilidades de apoio para a execução de um novo projeto. Diante dessa dificuldade, às vezes vejo meu trabalho desaparecer meio aos outros trabalhos que tenho que fazer para me sustentar. Até o meu tipo de trabalho ser valorizado, não sei quanto tempo demora, mas estamos a caminho.

Oportunidades surgem e, ainda que às vezes possa faltar estrutura de apoio no trabalho de um artista, a arte sempre acontece. Me orgulho de me permitir ser um artista, ainda que não seja o caminho mais fácil neste país. Me sinto vencedor em minha profissão, como qualquer outra pessoa que não trabalhe com isso. Não me imagino fazendo outra coisa no fim da minha vida, entendo a arte como uma missão que eu já acatei e não tem como mais me separar disso.

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

A cidade, sem dúvida. Este ambiente construído do homem para o homem. Este caos que busca a tranquilidade. Esse “não saber fazer” que já está feito. A cidade pra mim é e sempre será um eterno paradoxo. É o resultado da criação de algo que nos engoliu.

A sociedade. Em geral, me interesso muito pelas relações humanas. A forma como construímos e destruímos isso todos os dias.

Você acredita que a arte precisa ter uma mensagem por trás ou é uma forma de expressão por parte do artista? Onde a sua arte se encaixa?

No fim, a arte acaba sendo os dois: uma mensagem e, por sua vez, uma forma de expressão usada pelo artista. Não existe arte sem mensagem. Quadros, paredes, papéis, todos estes elementos são apenas instrumentos pra que algo seja escrito. Uma mensagem que nem sempre usa letras, mas que te faz pensar.

Vejo na minha arte todas as minhas reflexões transformadas em traço. Tudo aquilo que penso, se transforma e ganha forma no papel. É o meu jeito de falar algo.

Você acha que a arte traz a tal da “liberdade para dentro da cabeça”?

A partir do momento em que a arte te mostra mais possibilidades e maneiras de se ver as coisas, ela te trás a liberdade de escolha entre estes novos caminhos. Saber que você tem o poder de escolher como pensar as coisas te faz alguém mais livre.

Você tem uma cor preferida? Se sim, por quê?

Gosto muito de azul e vermelho. Coincidentemente estão na bandeira francesa. Também sempre estiveram minha vida. As duas cores são carregadas de simbolismos fortes, são, de alguma forma, opostas, cor feminina e cor masculina alí, juntas. Gosto da mistura, de coloca-las lado a lado, da oposição.

Se você pudesse realizar um desejo agora, qual seria?

Viajaria por um bom tempo. Viajar dá sentido a coisas que você não sabia como eram, e ao mesmo tempo acaba com o sentido de muitas outras coisas que você achava que sabia.

(Jornal Mural)

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