Bioquerosene é a nova fronteira do desenvolvimento sustentável em Minas Gerais

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Ao perceber o movimento mundial das companhias aéreas, que estabeleceram metas ambiciosas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa – entre elas atingir crescimento neutro em carbono até 2020 –, Minas dá os primeiros passos para criar uma cadeia produtiva de bioquerosene para aviação. A alternativa energética, apontada pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) como a principal solução para mitigar as emissões, ganha impulso no estado com a inauguração, neste mês, do primeiro Aeroporto Industrial do país e a assinatura do acordo entre o Governo de Minas e 17 instituições para o desenvolvimento e consolidação da Cadeia Produtiva de Bioquerosene para a Aviação no Estado.

Localizado no sítio do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (AITN), o Aeroporto Industrial é um recinto alfandegário credenciado para a realização de atividades de industrialização, abrigando empresas não poluentes, voltadas principalmente para a exportação via aérea. Foram investidos R$ 17 milhões por meio da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), para a construção e implementação da infraestrutura do espaço.

Segundo a IATA, no mundo, a demanda potencial para o uso de bioquerosene é de cerca de 140 bilhões de litros por ano. De acordo com o memorando de entendimento assinado pelo governador Antonio Anastasia, o objetivo do Estado é transformar Minas na primeira plataforma integrada de produção de bioquerosene do país. A ideia é incentivar toda a cadeia de pesquisa, produção, logística e consumo para combater as alterações climáticas, diversificar a economia mineira e favorecer o desenvolvimento da aerotrópole de Belo Horizonte e a expansão brasileira e mundial da indústria da aviação.

“Certamente, essa será a nova fronteira do desenvolvimento sustentável com reflexos positivos no campo, abrindo novas oportunidades de pesquisa, além de transformar o Aeroporto Internacional Tancredo Neves no primeiro terminal aéreo verde do Brasil”, esclarece o subsecretário de Investimentos Estratégicos, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede), Luiz Antônio Athayde Vasconcelos.

(Foto: Lúcia Sebe)

Copa do Mundo será ponto de partida

A intenção é usar a Copa do Mundo de 2014 como ponto de partida do projeto. Com a proximidade dos grandes eventos esportivos, o Brasil vai se tornar o quarto maior mercado de tráfego aéreo doméstico do mundo. Devido à relevância do tema, empresas como Boing, Embraer, GE Turbinas, Gol e Azul Linhas Aéreas, destilarias de etanol, universidades e consultorias, além das secretarias de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, além da Fapemig e Epamig, aderiram à iniciativa.

“Juntamos esforços e competências para fazer com que Minas seja reconhecida, em futuro próximo, como polo produtor e distribuidor mundial de combustível limpo para os jatos. Esta iniciativa vai nos preparar para o desafio de ter uma política de sequestro de carbono com o uso de combustível de aviação renovável a partir de matérias-primas”, explica o subsecretário.

Atualmente, os voos considerados verdes usam cerca de 10% de biocombustível. “A ideia da indústria é ampliar os estudos e ver até onde podemos irem Minas Gerais”, frisa o coordenador do projeto, Bernardo Bahia. Além de ser uma tecnologia ainda em evolução, com sua aplicação sendo testada com cuidado, já que a turbina de uma aeronave não pode falhar, a biomassa ainda é muito cara e é preciso produzi-la em escala para reduzir os custos.

Cadeias de produção podem ser diversas

O projeto do Governo de Minas Gerais busca alavancar a estrutura agrícola para transformar o Estado em grande fornecedor de insumos para produção de bioquerosene por meio da introdução de matérias-primas com potencial bioenergético e de uma cadeia de suprimentos altamente integrada com as vocações regionais. Ou seja, além de usar cadeias já existentes, como da cana-de-açúcar, novas rotas de produção também estão sendo pesquisadas.

Entre elas destacam-se a cadeia extrativista da macaúba (um tipo de palmeira muito comum no país), da macaíba (um tipo de palmeira) e da camelina (uma espécie de arbusto importado). A necessidade de importar a camelina tem um motivo: enquanto seu ciclo é de apenas três meses, a macaúba demora cinco anos para começar a produzir. “A semente da camelina, quando esmagada, gera um óleo. Estamos estudando a plantação dela em várias fazendas da Epamig para ver onde ela pode se adaptar melhor”, conta Bernardo.

O projeto prevê a realização de testes, tratamento tributário diferenciado, programas de capacitação e assistência técnica, desenvolvimento de programas de integração de silvicultura, lavoura e pecuária para incentivar os produtores.

O próximo passo é fomentar o desenvolvimento de uma rede integrada de refinarias, de modo a viabilizar a produção sustentável e eficiente do bioquerosene. A ideia é identificar refinarias e outras instalações já existentes, capazes de executar o esmagamento da biomassa, e viabilizar as mesmas para serem utilizadas como plataformas de apoio para as etapas de produção, pré-refino e exportação do biocombustível.

Primeiro laboratório certificado do país

Para que o bioquerosene tenha autorização para ser comercializado e utilizado nos tanques das aeronaves, ele precisar ser certificado. Atualmente, não existe no Brasil um laboratório que emita este tipo de certificação.

Considerando a necessidade de desenvolver competências e estruturas de laboratórios para a certificação, o Governo de Minas e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão em tratativas para criar o primeiro laboratório certificado do país, apropriando-se das capacidades instaladas no Laboratório de Ensaio de Combustíveis (LEC) pertencentes à instituição de ensino superior.

“Há o interesse do Governo de Minas de fazer a certificação e abrigar o primeiro laboratório do país a disponibilizar produtos para as empresas aéreas. Porque sem esta análise 100% segura, os aviões não podem voar. O desafio do bioquerosene é muito grande, ele não é fácil de fazer, tem especificações muito rígidas e não pode falhar”, pontua a engenheira química da UFMG, Vânya Pasa.

Para Vânya, o movimento das companhias aéreas a favor dos biocombustíveis é natural. “O setor automotivo já está incorporando o bioetanol e o biodiesel há mais tempo, exatamente para minimizar as emissões de seus produtos. As companhias aéreas também perceberam que precisam dar essa contribuição e têm adotado uma postura proativa em busca da tecnologia verde”, analisa a engenheira.

“Tudo que vier para impactar menos o meio ambiente é bem-vindo. A aviação é um setor que cresce muito. E o Brasil é uma liderança mundial e com um histórico muito grande na produção de biocombustíveis, com uma expertise que certamente pode ser usada neste segmento”, acrescenta a especialista.

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