Obras do projeto Minas-Rio deixam rastro de destruição em 525 km

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Em Conceição do Mato Dentro, a instalação do projeto da Anglo American está virando a vida dos moradores de cabeça para baixo


Fazenda Santa Cruz Areas, no distrito de Alvorada, sofre com a falta de água e com a obra que passa pela região. Foto: Mariela Guimarães

Se Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas Gerais, tivesse saído da imaginação do colombiano Gabriel García Márquez, talvez a cidade se chamasse Macondo e sua riqueza fosse banana em vez de minério. Tal como o povoado fictício da obra “Cem Anos de Solidão”, do autor, a cidade mineira também viu sua vida alterada repentinamente pela chegada de uma empresa estrangeira. No livro, é a Companhia Bananeira quem faz “uma invasão tão tumultuada e intempestiva que nos primeiros tempos era impossível andar na rua”. Em Conceição, é a instalação do projeto Minas-Rio, pela Anglo American, que está virando a vida dos moradores de cabeça para baixo.

A cidade é apenas a ponta do projeto e dos problemas causados por ele. O empreendimento começa com a mina e a barragem de rejeitos em Conceição do Mato Dentro e termina no porto do Açu, em São João da Barra, no Norte do Rio de Janeiro. Um mineroduto que terá 525 km, que será o maior do mundo, vai unir as duas pontas. O projeto corta 32 municípios, sendo 25 em Minas Gerais e sete no Rio de Janeiro. Outras quatro cidades são afetadas indiretamente, totalizando 36.

Assim como a Companhia Bananeira criada pelo escritor que venceu o Nobel de Literatura, a atuação da Anglo American vai deixando um rastro de histórias quase invisíveis, escondidas em pequenos povoados e comunidades rurais onde os moradores relatam uma coleção de problemas que vão desde a invasão de terrenos até o soterramento de nascentes, falta de água, passando pela destruição de sítios arqueológicos e prejuízos a aldeias indígenas.

O Minas-Rio está em fase de Licença de Operação, a última antes de iniciar seu funcionamento. A expectativa é que a autorização para funcionar saia ainda neste ano. A obra que a empresa considera praticamente acabada, deixou cicatrizes profundas em gente simples que habita seu caminho.

Durante duas semanas, rodou 3.400 km de uma ponta a outra do empreendimento para descobrir essas histórias, que serão apresentadas na série de reportagens “Um Mineroduto que Passou em Minha Vida”, que começa hoje. (O Tempo)

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