Valorizar o desenvolvimento local é um dos conceitos mais usados atualmente em muitos países que buscam o crescimento de determinada região, aliando, principalmente, turismo e gastronomia. E aqui em Minas Gerais não é diferente. Um dos órgãos que têm se preocupado com o reconhecimento de produtos locais, de caracterização de bens imateriais, de melhoria na produção é a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). Um dos trabalhos feitos por sua equipe nesse sentido foi o de valorizar o queijo do Serro e agregar aos produtos selos de qualidade e de origem. E esse tipo de política pode ser adotada para diversas mercadorias Made in Minas, como os móveis e o artesanato de Bichinho (perto de Tiradentes), os trabalhos em barro de Araçuaí, malhas do Sul de Minas, quitandas variadas, os doces de Araxá, enfim, uma infinidade de comidas, receitas, objetos que levam a marca de artistas e cozinheiros daqui.
Marina Gomes de Almeida se apaixonou pelos biscoitos depois de um curso de panificação. Bastou para ela fazer disso um negócio – Foto: Beto Magalhães
Segundo a cientista social Élida Abrantes, coordenadora Regional de Bem-Estar Social da Emater-MG em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, essa é uma tendência e Minas está antenada para a questão. “Estamos trabalhando demais neste aspecto de agregação de valor e de boas práticas de fabricação. Um fator que levou o agricultor a participar mais ativamente dessas propostas foi a divulgação das políticas públicas e os programas de inclusão social. Quando ele começaram a conhecer exemplos de sucesso, passaram a vislumbrar o mercado e a se capacitar. Hoje, temos inúmeros casos de sucesso, como a Associação de Mulheres da Comunidade de Floresta, que ganhou um prêmio em dinheiro, além de troféu das mãos da presidente Dilma Rousseff”, conta.
A associação nasceu em 1999, quando, reunidas, mulheres da comunidade de Floresta, na zona rural de Malacacheta, decidiram colocar energia positiva em algo que já faziam nas horas vagas e por lazer: quitandas e doces. Nilza Ferreira Couy e Almerinda Pereira Marques Quadros tomaram a frente do negócio, compraram máquinas, reformaram um espaço e começaram a produzir saborosos biscoitos. Hoje, elas e outras seis mulheres comandam o fornecimento de sequilhos de polvilho e milho para o comércio e para as escolas da região. Além da grande produção, Nilza e Almerinda ensinam o ofício para as jovens da comunidade, por meio de aulas teóricas e práticas.
Fazer turismo e conhecer casos pitorescos como esses, aprender uma nova forma de usar a pimenta ou escaldar um biscoito de polvilho é de uma riqueza ímpar. “Existem projetos sustentáveis de cooperativas de muito sucesso. E precisamos de um estudo acadêmico mais aprofundado, além de vontade política, para fazermos essa identificação geográfica de produtos, assim como foi feito com a cachaça de Salinas e o seu selo de identificação. Hoje ainda não conseguimos colocar em prática esse desafio, mas fica minha sugestão para que as universidades do Norte de Minas se engajem nessa proposta”, acrescenta Élida Abrantes.
BISCOITEIRA
Em Poté, um exemplo de gente que quer brilhar com sua própria produção é Marina Gomes de Almeida. Conhecida como Marina Biscoiteira, ela não nega, em nada, o apelido. Depois de fazer um curso de panificação, se apaixonou pelo ofício e dele nunca mais quis largar. Começou a fazer biscoitos para “treinar a mão” e doava toda a produção para hospitais e creches. Com isso, ela foi ganhando clientela, que sempre a procurava, atrás das guloseimas. Foi quando Marina pensou em transformar sua experiência em negócio. Foi para o mercado de Poté e levou alguns pacotes para comercializar, vendendo-os a R$ 0,50. Voltou na semana seguinte com mais produtos e vendeu tudo. A partir daí, não parou mais. Da carroça que transportava os produtos até o mercado, ela comprou uma bicicleta, passou para uma moto e, mais recentemente, uma caminhonete. “Emprego três pessoas na minha cozinha e tenho marca própria: Biscoitos da Marina. Faço tudo com amor e dedicação”, conta.
(Estado de Minas)