Agricultores de orgânicos adotam homeopatia nas lavouras

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Já são comuns, em áreas rurais de Minas Gerais, relatos de experiências bem-sucedidas com a utilização da homeopatia nas culturas agrícolas e atividades que envolvem a criação de animais. O objetivo é incrementar a qualidade nutricional do solo, das plantas e dos animais, seguindo o princípio geral de que “semelhante cura semelhante”.

O entendimento é que o que é capaz de produzir doença é capaz, também, de curá-la. Uma ação semelhante à vacina aplicada para tratamento da picada de uma cobra venenosa. Como se sabe, o imunizante é feito a partir do veneno da serpente.

Na homeopatia, aplicada em lavouras de grãos, hortaliças, frutíferas e produção de leite, o processo é o mesmo para os medicamentos destinados ao tratamento de doenças em humanos. Os preparos são produzidos a partir de substâncias extraídas da natureza (minerais, vegetais ou animais). Essas substâncias passam por técnicas de alta diluição em água ou álcool e dinamizações específicas (agitação). A técnica leva à confecção de remédios capazes de estimular o sistema de defesa dos organismos e de resistir às doenças e ataques de insetos e pragas, além de impactos climáticos ou ambientais, tais como seca e geada.

Assistência

Em Claraval, no Sudoeste de Minas, muitos agricultores familiares filiados à Cooperativa das Agricultoras e Agricultores Orgânicos de Claraval e Região (Coorgânica), que engloba também produtores de mais outros sete municípios próximos, já aderiram à especialidade terapêutica para cuidar de suas plantações de café, hortaliças e frutas, cultivadas no sistema. A técnica é também usada na pecuária leiteira. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) presta assistência técnica e acompanha os cooperados, orientando na preparação das substâncias utilizadas.

O técnico do escritório local de Claraval, Enes Barbosa, conta que a Coorgânica começou a usar a homeopatia a partir de 2018, após alguns produtores e ele participarem de um curso de Agro-homeopatia, no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Florestal.

“Foi a partir daí que replicaram as técnicas e as práticas da homeopatia com os demais cooperados. Foi um processo de demonstração de resultados, por meio de dias de campo, encontros, palestras, reuniões, oficinas e seminários”, explica.

Além disso, foram criados grupos de estudos formados também por produtores locais e dos municípios de Pratápolis e Capetinga. Esses grupos se empenhavam em estudar, praticar e aplicar os preparados homeopáticos. “Atualmente, todos os cooperados utilizam algum tipo de homeopatia em suas propriedades”, afirma.

Grupo de estudos

A pandemia de covid-19 levou a Coorgânica a criar, também, um grupo de estudos virtuais. Formada por extensionistas e agricultores, a equipe se reúne semanalmente.

“Participam do grupo 57 produtores, mais os técnicos. Discute-se sobre o que usar de medicamentos homeopáticos, quando e como, criando uma troca de experiência muito rica para o fortalecimento do grupo e a melhoria dos processos de produção”, argumenta o extensionista Enes Barbosa.

De acordo com o técnico, essa é uma tecnologia inovadora, de baixo custo, que muitas vezes utiliza insumos da própria da propriedade e que tem trazido excelentes resultados. “Podemos destacar casos de hortas e lavouras de café atingidas pela geada. Como vinham sendo tratadas com homeopatia, a recuperação foi muito melhor que as lavouras não tratadas”, garante.

Prevenção

A agricultora familiar Adelina Maria de Souza e seu marido Luciano Santana estão entre os primeiros cooperados da Coorgânica a usarem a homeopatia em suas plantações, no Sitio dos Ipês. A iniciativa teve início em 2017 e algumas aplicações têm sido de forma preventiva.

“A gente usa como prevenção frequentemente, e são excelentes os resultados”, afirma Adelina, que destaca como ficou o cafezal, após forte geada na região, no ano passado. “Mesmo com uma quedinha neles, porque a geada foi bem forte, o café aguentou bem e a brotação foi boa, diferente do vizinho, onde os pés de café queimaram e a brotação foi atrasada. Isso vai obrigar ele a usar outros produtos. A gente, não”, conta.

Outro exemplo de problema combatido pelo casal com preparos homeopáticos foi o aparecimento da chamada ferrugem do cafeeiro. Provocada por um fungo, a doença provoca manchas nas folhas de uma coloração que vai do amarelo escuro a marrom, causando a desfolha da planta. Com a aplicação de Arnica Montana 6CH, a ferrugem foi aniquilada.

“Agora você vê a pintinha da folha, vira para o outro lado e ela está toda apagada. A homeopatia fez com que a planta reagisse contra a cercoesporiose. O café está uma maravilha”, sinaliza o extensionista da Emater-MG.

A propriedade de Adelina e Luciano tem 5,8 hectares e fica no distrito de Três Barras, em Claraval. Tem seis certificações, sendo uma delas, o Certifica Minas, concedido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). A produção é orgânica e bem diversificada. O casal trabalha com 12 mil pés de café, variadas hortaliças (alface, almeirão, chicória, cheiro verde, tomate, cenoura, beterraba, chuchu e pimenta) e frutíferas (banana, manga, goiaba, jabuticaba, pitanga, morango e seriguela).

Toda a produção é certificada, sendo que o café é exportado e vendido a particulares. As hortaliças e frutas são comercializadas para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e para os 120 clientes particulares do casal de agricultores, sendo entregues em domicílio semanalmente, a partir da pandemia. Os produtos homeopáticos são preparados e aplicados em todas as plantações pelo Luciano Riarto, sob a supervisão do extensionista da Emater-MG local.

Cooperativa

A Coorgânica começou em 2017, a partir da ação de 12 mulheres que queriam vender verduras orgânicas para o Pnae e tinham necessidade de emitir nota fiscal. Elas se organizaram e, em maio daquele ano, fundaram a cooperativa, que hoje tem 63 cooperados, entre homens e mulheres, de 16 municípios de Minas Gerais e de seis municípios de São Paulo.

Dirce de Souza Rodrigues, presidente da cooperativa, está começando a usar os preparos homeopáticos, mas afirma que os relatos dos cooperados sempre destacam os impactos positivos da homeopatia nas culturas. “Pelo que tenho ouvido aqui dos testemunhos, no nosso grupo, os resultados são excelentes”, afirma.

Com a ajuda da Emater-MG, ela aderiu à experiência e aplicou a Arnica Montana 6CH na lavoura de café convencional pela primeira vez. “ Foi na quinta-feira passada. A gente fez o experimento para combater a broca e a ferrugem. Agora estamos aguardando”, conta.

Dirce é proprietária do Sítio Capoerão, de 15,8 hectares, no distrito de Porteira da Pedra, em Claraval. No local, ela também produz hortaliças, mandioca e banana, no sistema orgânico. Os produtos são comercializados para o Pnae, em Claraval, e Franca, município paulista. Ela também vende as hortaliças para clientes particulares.

Prêmio MelhorInovação 2021

O trabalho da Emater-MG com Coorgânica foi um dos trabalhos regionais da empresa premiados pelo concurso interno MelhorInovação 2021. O concurso tem por objetivo destacar as melhores iniciativas da empresa que valorizem profissionais e clientes da empresa.

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