Pimenta-do-reino melhora renda de agricultores familiares no Vale do Mucuri

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Uma cultura que é valorizada há séculos, mas que ainda era pouco difundida em Minas Gerais, começa a ganhar espaço nas propriedades do estado: a pimenta-do-reino. De acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), existem cerca de 110 hectares ocupados com os plantios em municípios do Vale do Mucuri e Norte de Minas, como Novo Oriente de Minas, Teófilo Otoni, Ataléia, Ouro Verde de Minas, Águas Formosas, Serra dos Aimorés, Crisólita, Itabirinha e Bocaiúva.

A maioria das lavouras é conduzida por agricultores familiares, que estão investindo na atividade como uma alternativa de renda. É o caso do município de Ataléia, no Vale do Mucuri, que hoje conta com aproximadamente 13 hectares de pimenta e uma produção anual de 60 toneladas.

“A principal atividade econômica de Ataléia é a pecuária leiteira extensiva, com baixa produtividade, de três litros de leite por cabeça/dia. Diante desta realidade, a cultura de pimenta-do-reino virou uma alternativa de renda, com custo de implantação baixo, comparando com os investimentos necessários para melhorar a produtividade da pecuária leiteira”, afirma o técnico da Emater-MG do município, Mário de Souza Silva.

Ele também explica que outro fator que levou à implantação da cultura foi a migração temporária e anual de aproximadamente 500 pessoas para o norte do Espírito Santo, nos períodos de colheita de café e de pimenta no estado vizinho. “Nestas épocas, trabalhadores, agricultores familiares e principalmente os jovens rurais buscam estes trabalhos para complementação da renda familiar. Diante deste quadro, eles decidiram buscar alternativas no município como forma de evitar esta migração”.

Início

Para começar a produção no município, a Emater-MG organizou vários eventos e excursões a propriedades e viveiros nas regiões produtoras do Espírito Santo, onde a cultura da pimenta-do-reino já está implantada, organizada e, inclusive, é exportada. A Emater-MG também contou com o apoio do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) para o repasse de tecnologia, capacitação na introdução da cultura e intercâmbios guiados pelos técnicos da empresa do Espírito Santo.

A aquisição das mudas pelos produtores de Ataléia foi feita em viveiros credenciados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária de Abastecimento (Mapa). Os primeiros plantios foram em 2016, com seis agricultores familiares que adquiriram as mudas com recursos próprios, sem financiamentos. Os primeiros experimentos foram na faixa de 0,5 a um hectare, já que os produtores estavam conhecendo os tratos culturais e aprendendo a conduzir a lavoura. A partir de 2019, com a cultura consolidada, os agentes financeiros começaram a disponibilizar crédito para os agricultores.

A pimenta-do-reino é uma planta trepadeira. É preciso instalar estacas ou tutores vivos (moringa, nim indiano e gliricídia) nas áreas de cultivo para a sustentação dos pés de pimenta. O plantio é feito por mudas. De acordo com o técnico Mário de Souza Silva, a cultura se adaptou bem na região por causa do clima. “A pimenta-do-reino é ideal para regiões quentes com disponibilidade de água. Toda a área de pimenta em Ataléia usa a irrigação por microaspersão”, explica.

A pimenta-do-reino começa a produzir no segundo ano após o plantio. Mas, segundo Mário Souza, a produção se torna viável a partir de três anos. “No terceiro ano, a produção chega a três quilos por pé. Já no quarto ano, ela aumenta, chega a cinco quilos por planta”.

A colheita é realizada de seis em seis meses. O estágio de maturação das espigas (ou cachos) na colheita e o processo de secagem determinam a cor da pimenta. A pimenta branca, por exemplo, é colhida mais madura e tem um processo de despolpa e secagem mais trabalhoso. As vendas são feitas coletivamente para as cooperativas do norte do Espírito Santo ou empresas autônomas, que exportam o produto.

O produtor Luiz Carlos Barbosa, produz pimenta junto com o filho. Ele faz parte do grupo de produtores de Ataléia que começaram a cultivar pimenta-do-reino há cinco anos.

Seu Luiz formou uma lavoura de pimenta para complementar a renda que tem com a pecuária leiteira. Mas antes de investir na atividade, fez várias visitas ao Espírito Santo. Atualmente ele tem três mil pés plantados, em dois hectares irrigados. “Não é difícil. A família pode tocar, não há grandes dificuldades. Mas como toda lavoura, é preciso controlar as pragas, doenças e adubar”, afirma.

Preços

O técnico da Emater-MG informa que um hectare de pimenta-do-reino produz acima de oito mil quilos por ano. “Nesta safra de julho de 2021, o produto atingiu o preço de R$ 18,00 por quilo. O rendimento bruto foi próximo a R$ 150 mil”, diz.

Os preços da pimenta-do-reino costumam variar de acordo com a oferta e demanda internacionais. Por isso, a recomendação é de que a cultura seja um complemento de outras atividades, e que os primeiros investimentos sejam feitos em pequenas áreas, aos poucos. “Com a estabilidade dos preços de comercialização, a tendência é um aumento da atual área plantada em Ataléia”, prevê Mário Souza.

Mesmo com a volatilidade de preços, o técnico da Emater-MG explica que, sabendo administrar os custos e mantendo a qualidade do produto, é possível ter um bom retorno. “Um hectare de pimenta-do-reino gera a mesma renda de quem produz 150 ou 200 litros de leite por dia em Ataléia”, afirma.

História

A pimenta-do-reino recebeu este nome no Brasil porque era trazida pelas caravelas que vinham de Portugal na época da colonização. Mas ela é originária da Índia e foi muito valorizada no período das Grandes Navegações pelo poder de conservar alimentos, principalmente carnes.

Hoje a pimenta-do-reino continua a ser um dos condimentos mais consumidos no mundo e o Brasil se transformou em um exportador do produto, principalmente para os Estados Unidos.

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