A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) concluiu o inquérito que investigava as circunstâncias e causas do grave acidente ocorrido em dezembro do último ano na BR-116, em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. O episódio resultou na morte de 39 ocupantes de um ônibus e deixou outros feridos. As condutas criminais apontadas incluem homicídio, lesão corporal, crimes de trânsito e falsidade ideológica. O motorista do caminhão carregado de pedras e o proprietário da empresa responsável pelo transporte foram indiciados.
De acordo com o delegado-geral Amaury Tenório de Albuquerque, chefe do 15º Departamento de Polícia Civil em Teófilo Otoni, as investigações reuniram provas técnicas, testemunhais e elementos informativos que permitiram esclarecer os fatos. “É um conjunto de provas que aponta que foi um crime doloso”, resumiu o delegado.
Fatores que Contribuíram para a Tragédia
O inquérito detalhou diversos fatores que culminaram no acidente. Entre eles, destaca-se o excesso de peso da carga transportada pelo semirreboque. “Hoje, com a perícia, já podemos afirmar que aquela carga estava 77% acima do permitido”, explicou Albuquerque. Além disso, alterações estruturais na suspensão do veículo também foram identificadas, o que deslocou o centro de gravidade e comprometeu a estabilidade do conjunto veicular.
A conduta do motorista também foi alvo de análise. Laudos periciais confirmaram a presença de substâncias ilícitas em seu organismo, além do descumprimento das normas de descanso obrigatório e o excesso de velocidade. No momento do acidente, o semirreboque trafegava a 97 km/h. Segundo estudos periciais, qualquer velocidade superior a 62 km/h para um veículo com peso total de 103 toneladas poderia provocar o tombamento, como de fato ocorreu.
Responsabilização dos Investigados
Além do motorista, de 49 anos, preso preventivamente em 21 de janeiro na cidade de Barra do São Francisco (ES), o proprietário da empresa de transportes também foi indiciado. A responsabilidade atribuída ao empresário envolve não apenas as mortes e lesões, mas também a falsidade ideológica. Ele teria preenchido notas fiscais e documentos de transporte com dados falsos sobre a pesagem das pedras. “Ele insere a pesagem falsa daquelas pedras, provavelmente, para se furtar à fiscalização caso ela acontecesse nas rodovias”, pontuou o delegado.
O motorista também foi indiciado por crimes previstos nos artigos 304 e 305 do Código de Trânsito Brasileiro, por deixar o local do acidente e não prestar socorro às vítimas. Ambos respondem pelos homicídios das 39 vítimas fatais e pelas lesões corporais causadas aos demais atingidos.
Trabalhos Periciais e Identificação das Vítimas
O acidente, ocorrido em 21 de dezembro, envolveu um ônibus que fazia a rota de São Paulo para a Bahia com 45 ocupantes, uma carreta e um carro. Equipes da PCMG foram imediatamente ao local para remover os corpos, coletar vestígios e iniciar os levantamentos investigativos.
Após análises periciais, as 39 vítimas fatais foram identificadas por meio de técnicas como papiloscopia (análise de impressões digitais), odontologia-legal e exames de DNA. Os passageiros, com idades entre 1 ano e dois meses e 64 anos, eram majoritariamente naturais da Bahia e de São Paulo, com uma vítima de Minas Gerais e outra da Paraíba.
Para determinar a dinâmica do acidente, especialistas da PCMG utilizaram tecnologia avançada, como o Laser Scanner 3D, que permite simular todo o evento e auxiliar na reconstrução dos fatos. Essa ferramenta foi essencial para compreender os impactos e as condições que levaram à tragédia.