A revista francesa L’Obs desta semana traz uma reportagem de quatro páginas sobre o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (leia aqui a versão on-line). Com o título “o preocupante presidente brasileiro”, a publicação faz um balanço dos primeiros meses do mandato do chefe de Estado e tenta traçar o seu perfil.
“Presidente do maior país da América Latina há quase cem dias, o ex-militar saudosista da ditadura ataca gays negros e jornalistas e governa sem rumo com o seu clã”, lança a revista já na chamada do texto, assinado por Philippe Boulet-Gercourt, correspondente da revista nos Estados Unidos, por onde o líder brasileiro passou essa semana. Para o jornalista, Bolsonaro “continua sendo um mistério”.
L’Obs explica que ao ser eleito por uma população com aspirações e motivações diferentes – que muitas vezes não votou nele, e sim contra o Partido dos Trabalhadores –, Bolsonaro tenta responder à todas as expectativas. Resultado: ele acabou formando uma equipe disparate, misturando economistas ultraliberais, como Paulo Guedes, tecnocratas, como Sergio Moro, e ideólogos, como Olavo de Carvalho. Além de seus filhos, dos militares e dos evangélicos, “que tiveram um papel crucial na eleição”, continua a texto, que qualifica a gestão atual de “bagunça, onde se atira para todo lado”.
“O verdadeiro poder de Bolsonaro é seu clã”, avança a revista. “Mas a situação está mudando, principalmente após as acusações visando seu filho Flávio. “Com isso fica difícil continuar se proclamando ‘senhor certinho’, como ele fez durante a campanha”, afirma L’Obs.
Negros e gays com um alvo nas costas
A reportagem lista ainda as diversas declarações polêmicas do atual presidente, e se mostra preocupada com a situação dos jornalistas brasileiros, que se sentem cada vez mais atacados, e dos povos indígenas, que veem seus direitos sendo feridos. Sem contar com “os gays e os negros, que têm o sentimento de andar pela rua com um alvo nas costas”, afirma a revista francesa.
Já do ponto de vista político, o texto comenta que, ao contrário das reformas esperadas, o mandato começa bem devagar. “Ele concretizou pouca coisa e temos uma sensação de ver alguém à deriva”, analisa Brian Winter, ex-correspondente da Reuters no Brasil, ouvido pela reportagem.
“Trump não sabe governar, mas pelo menos ele é respaldado por um partido potente”, compara o texto, lembrando que Bolsonaro não se dobra aos acordos indispensáveis em um Congresso no qual sua legenda conta com pouco mais de 10%. O que torna ainda mais difícil a aprovação da esperada reforma da aposentadoria, analisa L’Obs. No entanto, pondera a revista, apesar das críticas e da falta de rumo definido, no final do segundo mês de presidência Bolsonaro contava com 57,7% de popularidade. “Um índice de dar inveja a Emmanuel Macron”, avalia a reportagem.
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(Fonte: RFI – Rádio França Internacional)