Polícia Civil investiga nova modalidade de pirâmide financeira em Minas Gerais

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A pirâmide financeira entrou em 2017 com um novo formato e um sofisticado esquema de captação que, se ainda não chegou, muito em breve estará no seu WhatsApp ou Facebook: a mandala. Com a promessa de um lucro até oito vezes maior que o “investido”, a mandala vem fazendo cada dia mais vítimas. O esquema é alvo de uma investigação da Polícia Civil, ainda sob sigilo.

“A mandala é uma variação de pirâmide financeira, que é um crime antigo contra a economia popular, previsto em lei desde 1951. O esquema surgiu nos Estados Unidos e se espalhou pelo Brasil, principalmente no Norte e Nordeste. Em Minas, atualmente temos investigações em curso”, explica o delegado da Polícia Civil, Alex de Freitas Machado, que é titular da Delegacia Especializada de Falsificação, Sonegação Fiscal e Administração Pública.

A mandala, chamada pelo delegado de “pirâmide de fundo de quintal”, funciona da seguinte forma: é formado um grupo que participa de quatro níveis diferentes (fogo, ar, terra e água), sendo 8 pessoas no primeiro nível, 4 no segundo, 2 no terceiro e 1 no centro. Quando a pessoa entra, ela deve investir um valor X: R$125, por exemplo. Para a mandalar rodar, é necessária a entrada de novos integrantes. Ao chegar ao centro da mandala, a pessoa receberia 8 vezes o valor investido, ou seja, cerca de R$1 mil, por exemplo. À medida que o grupo aumenta, ele é desmembrado em outros. E depois que a pessoa recebe, ela pode, se quiser, reiniciar outro ciclo.

Como o recebimento depende da adesão de novos membros, o risco de calote é alto. “Geralmente são atraídos os consumidores mais fragilizados, em um momento mais sensível da vida”, segundo a vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados de Minas Gerais, Ana Carolina Caram.

Um homem que pediu para não ser identificado contou que investiu R$125 e recebeu R$1 mil. O problema foi a “indicação” de parentes e amigos para sustentar o esquema: cinco deles, que investiram R$125 cada um, perderam o dinheiro. Ele contou que entrou no grupo a convite da namorada. Ela chegou a receber R$1 mil, mas devolveu parte do dinheiro porque o grupo não se sustentou. “O grupo fica parado quando as pessoas param de entrar. No ínício dá certo, mas depois não. Tem sempre que entrar alguém para pagar por isso. É uma prática arriscada”, relata.

Ele disse ainda que após retirar o “prêmio”, chegou a entrar em outras duas mandalas, investindo mais R$125 em cada uma, mas o valor foi perdido. “É difícil, porque a gente às vezes faz o pagamento para uma pessoa que nunca viu e aí não tem como cobrar. No caso de amigos e família, é uma situação complicada. Por enquanto, ninguém me cobrou ainda”, explica.

A auxiliar administrativo Wendy Souza, de 22 anos, contou que entrou em um grupo para ajudar o amigo, que precisava levar mais pessoas. Ela investiu R$25 e espera receber R$200. “Como o valor é baixo, arrisquei”, disse. Já o amigo Gabriel Silva disse que vai sair do grupo assim que receber o montante prometido. “Devo receber daqui a uma semana, depois saio”, disse.

Riscos para os participantes

A vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB alerta que, como o grupo não tem um administrator oficial, em caso de prejuízo, o maior responsável é quem levou o amigo, vizinho ou parente. É ele quem deve ser acionado na Justiça, afirma a advogada. Segundo ela, na maioria das vezes, a pessoa não tem o dinheiro de volta. Normalmente, quando há rescisão de contrato, o contratante tem direito a pelo menos parte do valor aplicado, o que geralmente não é feito nesse caso. Por isso, a orientação é que a pessoa tenha em mãos documentos como depósitos bancários, e.mails, mensagens de whatsapp e gravação de converas.

A cozinheira Tatiane Queles, 38 anos, conta que o grupo dela se desfez quando estava quase para receber. Ela relata que chegou a investir R$125, mas após a veiculação de uma reportagem sobre o tema, ficou mais difícil conseguir novos integrantes. “A mandala estava andando, faltava apenas uma casa para eu cair no verde, mas as pessoas não quiseram mais entrar”, disse. No caso dela, ela conseguiu o dinheiro de volta.

O modelo de ajuda financeira mútua não é proibido. O problema, segundo Caram, é o que pode surgir dessa relação. Um grupo grande, sem nenhum contrato e com a obrigação de conseguir cada vez mais pessoas para pagar uma “cota” pode não se sustentar por muito tempo. Aí entram os prejuízos, a má fé e a não devolução de dinheiro, que pode caracterizar o roubo.

O delegado da Polícia Civil afirma também que, em grandes proporções, quando há envolvimento de empresa, o golpe pode configurar vários crimes, dependendo do que ocorreu. “Quem começa um grande golpe desses está sujeito a ser incluído em investigações de organização criminosa e lavagem de dinheiro. As penas somadas podem chegar a 30 anos”, explica. Ele alerta que não existe investimento financeiro fora de instituição autorizada pelo Banco Central. “Se a pessoa entrar, ela pode perder tudo. É preciso denunciar”, diz.

Onde denunciar

– As denúncias podem ser feitas ao Ministério Público Federal, Ministérios Públicos Estaduais e Polícias Civil e Federal.
– Delegacia Especializada de Falsificação, Sonegação Fiscal e Administração Pública / Av. Francisco sales – 780 / Floresta



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(Fonte: Hoje em Dia/Liziane Lopes)

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