Tema polêmico em 2012, expansão do metrô de Belo Horizonte some de planos de candidatos

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A ampliação do metrô de Belo Horizonte foi apontada nas eleições de 2008 e 2012 como uma solução para enfrentar gargalos na mobilidade urbana da cidade. Porém, a promessa não saiu do papel. A maioria dos candidatos à prefeitura da capital mineira não trata da questão em suas plataformas de campanha divulgadas na internet.

O metrô é citado nos planos dos candidatos João Leite (PSDB) e Délio Malheiros (PSD), mas sem menção à ampliação. Os dois propõem a integração tarifária com outras modalidades de transporte público, permitindo por exemplo que a pessoa pague apenas uma passagem para se deslocar utilizando metrô e ônibus. É o que já acontece em outras capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Por meio da assessoria de comunicação, a campanha de João Leite destacou que a expansão do metrô poderá ser viabilizada retomando o diálogo com o Ministério das Cidades para liberação dos recursos necessários. “O prefeito tem que ser o protagonista dessa iniciativa e nós vamos buscar esses recursos”, diz a nota enviada à reportagem da Agência Brasil. João Leite promete ainda criar trilhos para o VLT, em uma linha que ligaria o centro à Cidade Administrativa.

Já o candidato e atual vice-prefeito Délio Malheiros, que representa a atual gestão, defende articulação com os parlamentares mineiros e com a sociedade civil organizada para garantir a ampliação, segundo resposta enviada epla assessoria à reportagem. Apesar da gestão do atual prefeito Márcio Lacerda não ter ampliado o metrô conforme defendido na campanha passada, o texto destaca alguns avanços da atual gestão. “Já foram concluídos os trabalhos de sondagem e topografia, bem como os projetos de engenharia de todas essas intervenções”.

O plano do candidato Eros Biondini (PROS) também menciona o metrô ao sugerir criação de bicicletários nas estações. Ele pretende também avaliar a liberação de estacionamentos privados subterrâneos e verticais próximos ao metrô. Para ele, a medida contribui para o fim do mito de que estacionamento provoca trânsito. “Ao contrário, eles retiram veículos das vias, dando fluidez ao trânsito”, diz o plano. No entanto, a plataforma de Eros não menciona meta de expansão. Questionado pela reportagem, o candidato respondeu, em nota, que sonha com o metrô e que já existe terraplanagem para construir uma linha ligando os bairros Calafate e Barreiro. Ele destacou também que pretende instalar o monotrilho e o VLT, e já dispõe de estudo para várias linhas. “Se o prefeito tiver credibilidade e for hábil em fazer parcerias, logo que tomar posse já pode fazer o chamamento que vão correr para cá para fazer o monotrilho”.

A proposta de mais bicicletários e estacionamentos nos arredores das estações também aparece no plano de Rodrigo Pacheco (PMDB). Mas diferente de Eros, ele é favorável a estacionamentos públicos e não privados. Pacheco é o único que registra em sua plataforma de governo uma proposta para a expansão dos trilhos. Ele pretende “articular com o governo federal a liberação de recursos para a ampliação do atendimento do metrô em Belo Horizonte, tanto no trecho que liga o Barreiro ao Calafate quanto nas demais regiões, seja na forma de metrô tradicional, seja de forma inovadora”.

O programa de Luis Tibé (PTdoB) reconhece que a expansão do metrô seria a melhor solução para melhorar o trânsito de Belo Horizonte, mas lembra que “nada de concreto foi feito além de promessas” e afirma que “esta alternativa não irá garantir a solução imediata que a população espera, dado o prazo necessário para a realização dos investimentos e realização das obras”. Ele acaba não se comprometendo com a expansão. Tibé sugere entre suas propostas a integração do metrô com outras modalidades de transporte, assim como João Leite e Délio Malheiros.

Marcelo Álvaro (PR) não disponibilizou seu plano de governo na internet. Ele porém respondeu à reportagem por nota dizendo que “a função principal de um prefeito no processo de ampliação do metrô é a de pressionar as esferas federal e estadual para que deem prioridade na liberação dos recursos”. O candidato lembra que verbas federais já foram previstas dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade e promete atuar para destravar os impasses. “Temos que enxergar a mobilidade urbana em Belo Horizonte sob a perspectiva de quem usa o transporte coletivo”, acrescenta.

Os candidatos Reginaldo Lopes (PT), Vanessa Portugal (PSTU), Maria da Consolação (PSOL) e Sargento Rodrigues (PDT) também não disponibilizaram seus planos de governo na internet. A reportagem procurou os candidatos para se manifestarem sobre o tema, mas não obteve retorno.

Alexandre Kalil (PHS) divulgou na página oficial de sua campanha um programa centrado no que considera ser o “tripé básico que importa à população: saúde, educação e segurança pública”. Segundo o site, “não quer dizer que não estaremos tratando também dos temas da mobilidade urbana, meio ambiente, habitação e infraestrutura urbana”. Kalil também foi procurado pela reportagem, mas não deu resposta.

Projetos de ampliação

Inaugurado em 1986, o metrô de Belo Horizonte completou 30 anos no mês passado. O transporte dispõe de apenas uma linha que passa por 19 estações. São 28,2 km de extensão, em trilhos na superfície. Não há trechos subterrâneos. O modal liga a Estação Vilarinho, na região de Venda Nova, à Estação Eldorado, em Contagem (MG), município da região metropolitana. Passa ainda pelo centro da capital, mas deixa três regiões desassistidas: Centro-sul, Pampulha e Barreiro.

Mesmo por onde ele passa, o atendimento é limitado. Há apenas duas estações tanto na região Nordeste quanto na Noroeste, que possuem respectivamente 69 e 52 bairros. A região Leste é a mais estruturada. São 5 estações para atender uma área de 28,5 quilômetros quadrados, que engloba 47 bairros.

Uma pesquisa realizada em 2011 pela própria administração do metrô mostrou que os ônibus eram utilizados por 49,4% dos usuários para chegar à estação de origem e por 45,3% para se deslocarem do ponto onde desembarcaram até o local de destino final. Considerando ainda os que fazem uso de carro e moto, os números mostram que para mais da metade dos passageiros, a estação não está suficientemente perto para que o deslocamento até ela seja feito a pé.

Projetos para a ampliação da Linha 1 e para a criação de outras duas foram desenvolvidos. A Linha 2, na superfície, ligaria o Barreiro ao Nova Suíça. Já a Linha 3 sairia da Savassi e iria até a Lagoinha. Os trilhos seriam subterrâneos e, futuramente, poderiam ser expandidos até a Pampulha. Os dois novos ramais teriam integração com a Linha 1.

As expansões do metrô são apontadas como forma de melhorar a qualidade de vida de quem faz os trajetos. Conforme estimativa da plataforma Google Maps, no horário de pico, se leva cerca de 1h para transitar 11km de ônibus entre a Pampulha e a Savassi. Considerando a velocidade média do metrô de 40km/h, o trecho poderia ser feito em 16 minutos, praticamente um quarto do tempo. Entre Barreiro e Nova Suiça, cuja rota tem aproximadamente 9,5km, o que levaria 54 minutos de ônibus nos horários de trânsito intenso, poderia ser concluído em pouco mais de 14 minutos.

Polêmica eleitoral

Em 2008, quando o atual prefeito Márcio Lacerda (PSB) foi eleito para o seu primeiro mandato, a expansão do metrô foi tratada como prioridade por praticamente todos os candidatos. Leonardo Quintão (PMDB), Jô Morais (PCdoB) e Sérgio Miranda (PDT), os mais bem votados entre os não eleitos, elencavam o assunto com destaque em suas plataformas. O vencedor do pleito, Márcio Lacerda, defendeu uma Parceria Público-Privada para alavancar a ampliação do modal.

Quatro anos depois, o tema esteve entre os mais polêmicos da disputa política de 2012 em Belo Horizonte e era usado para troca de acusações entre os dois principais candidatos: Patrus Ananias (PT) e Márcio Lacerda (PSB), que buscava a reeleição. O petista lembrava que o governo federal já havia anunciado em 2011 um investimento de R$3,16 bilhões para as obras de ampliação do metrô dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade, mas nada havia sido feito por falta de iniciativa da prefeitura.

Lacerda, por sua vez, reafirmava o compromisso com a expansão em um possível segundo mandato, e argumentava que no mandato do petista Fernando Pimentel, que governou Belo Horizonte entre 2002 e 2008, a expansão também não foi para frente. Márcio Lacerda foi reeleito.  Em 2013, no lançamento do programa BH Metas e Resultados, que trazia diretrizes para a prefeitura, o prefeito afirmou que daria início às obras em 2016. Mas em junho deste ano, ao apresentar a nova versão do Plano Estratégico BH 2030, o prefeito se disse frustrado por não ter conseguido ampliar o metrô.

Márcio Lacerda culpou divergências entre os governos estadual e federal pelo insucesso na ampliação. Um desses impasses diz respeito à gestão do metrô. Diferentemente das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde o modal é administrado pelo governo estadual, em Belo Horizonte é operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), vinculada ao Ministério das Cidades. O governo de Minas Gerais defendia a transferência patrimonial da CBTU para a estatal mineira Metrominas.

(Agência Brasil)

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