“Qualquer 500 quilômetros” é perto para um casal de aposentados carioca que há mais de 30 anos viaja pela América Latina a bordo de um fusca de 1981. Em mais uma viagem, mas dessa vez mais perto de casa, entre os dias 5 e 7 de agosto, Alfredo Vazquez, de 66 anos, e Gilda Vazquez, de 65, estacionarão o possante no “Encontro de Carros Antigos de Cachoeira do Campo”, em Ouro Preto, na região Central de Minas Gerais, onde participarão do evento.
As histórias das aventuras enfrentadas pelo casal em cima de quatro rodas tiveram início em 1983. Além de usar o fusquinha como transporte, eles tiveram a ideia de aproveitar o carro como hospedagem.
“Nós já tínhamos como esporte o camping, só que chegou uma hora que nós queríamos nos aventurar mais. Então decidimos partir para viagens onde em primeiro lugar estava esta opção. Depois, decidimos dormir dentro do carro, estacionado em postos de gasolina 24 horas, e, por último, estava a opção de escolher as hospedagens em hotéis e pousadas”, lembra Vazquez.
Com tamanha animação, o fusquinha verde já foi de Salvador, na Bahia, passando por São Luiz, no Maranhão, Chuí, no Rio Grande do Sul, Pantanal, entre o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, todos no Brasil, e pelo Uruguai, Paraguai, Argentina, chegando até o Chile, onde viveu uma de suas maiores aventuras. O que poderia ser visto como uma dificuldade por boa parte dos turistas, foi visto com bom humor pelo casal, que parece encarar tudo na vida com muito otimismo.
“Na Cordilheira dos Andes, ficamos retidos por três dias, com temperatura de -22º. Mas, tiramos tudo de “letra”. Foi um grande espetáculo, já que nunca tínhamos visto neve e muitas emoções”, conta entusiasmado.
Foi no Chile que o casal viveu sua maior viagem, percorrendo o deserto do Atacama, eles rodaram um total de 16.296 km, em 33 dias e 17 noites, dormindo no carro.
Em meio a tantos anos de estrada, o fusquinha, com adesivos de cada cidade por onde já passou pregados na janela, mostra ser um fiel amigo. O veículo, que já enfrentou lama, areia, asfalto e resistiu ao calor, a chuva e a neve, nunca apresentou um problemas mecânicos.
“Sempre antes das viagens é feita uma revisão, onde se troca o básico: vela, platinado, condensador, lonas de freio, correia, etc. Ele vai e volta perfeitamente, sem problemas. Não é para ter orgulho dele?”, o aposentado se exibe.
A disposição desse casal é de causar inveja em qualquer jovem. “Por duas vezes, tentamos fazer viagens com mais um casal e, infelizmente, não deu certo. É muito difícil ter pessoas para esse tipo de aventura. Já é difícil conseguir pessoas para acampar. É mais difícil, ainda, encontrar gente que queira dormir no carro”, relata.
O casal Alfredo e Gilda Vazquez (Foto: Lucas Benevides/O Fluminense)
Organização
Durante as aventuras, as funções do casal, que não tem filhos, é muito bem definida. Enquanto ele conduz o fusquinha, Gilda fica responsável pela arquitetar de toda viagem. “Ela é a navegadora. Ela traça todo roteiro e contabiliza os custos das viagens (gastos com gasolina quilometragem, gastos pessoais, etc)”, contou o aposentado.
Dicas
Quem ficou inspirado pela história desse casal e pretende iniciar uma viagem, deve ficar atento para o tempo do trajeto. “Uma das principais é não começar por longa viagem, pois, seria uma grande loucura”, afirma.
Novos amigos
Por onde passam, o casal e seu fusca ganham a admiração dos admiradores por carro antigos. Entre os apaixonados pela história de vida desses cariocas, está o mineiro Cornélio José da Silva, de 37, que é fundador do “Encontro de Carros Antigos de Cachoeira do Campo”, em Ouro Preto.
Cornélio viu o casal pela primeira vez em um encontro de carros antigos em Congonhas do Campo, em Minas Gerias. “Na ocasião, eu estava usando uma blusa com o desenho da minha Kombi, 1974. Ele me viu e já veio me dar um abraço. Fiquei impressionado com esse jeito simples dele”, lembrou.
Nos primeiros dias de agosto, o casal estará no “Encontro de Carros Antigos de Cachoeira do Campo”, onde pretendem contar detalhes dessas viagens, passar recomendações sobre possíveis aventuras e expor o grande amigo, o fusquinha verde. “É o nosso “filhão”. Nosso carinho e apreço por ele é imenso. Somos um trio inseparável”, brinca.
Próximo destino
Para o casal que começou as viagens há 30 anos, não faltam próximos destinos, mas, com a aposentadoria, os gastos, principalmente, com a gasolina dificultam os novos passeios. Enquanto o preço dos combustíveis não ajuda, os dois apaixonados se ocupam com vários convites para participar em exposições da carros antigos pelo Brasil.
Fotos
(Fonte: O Tempo / Repórter: Camila Kifer)