Com promessas de enriquecimento fácil, a Ifreex, empresa em paraíso fiscal envolvida em suposto esquema de pirâmide financeira desmantelada nesta quarta-feira (15/6) pela Operação Mintaka, mostra que as semelhanças com a Telexfree não estão apenas no nome.
As duas empresas são suspeitas de usar o marketing multinível e serviços de telecomunicações como fachada para esconder fraudes contra o sistema financeiro. Enquanto a Telexfree afirmava atuar com VoIP, a Ifreex era apontava como uma companhia inovadora ao criar um aplicativo para smartphone capaz de gerar renda para os associados.
A “coincidência” entre as companhias, acusadas de vender valores mobiliários de forma ilegal,não para por aí. Figuras famosas na Telexfree, como Sanderley Rodrigues Vasconcelos, o Sann, eram os principais representantes da Ifreex, que só não chegou a ter o mesmo sucesso de sua antecessora por ter sido interrompida pelas investigações.
Na operação desta quarta, a Polícia Federal no Espírito Santo, que analisa o esquema desde o ano passado, cumpriu quatro mandados de busca e apreensão para combater a organização criminosa por trás da fraude, que pode ter causado prejuízos milionários ao sistema financeiro brasileiro. Foram alvo da ação pessoas do Espírito Santo, Paraíba, Mato Grosso e Bahia.
O esquema funcionou entre novembro de 2014 e maio de 2015, tendo as atividades encerradas após um dos líderes mundiais, o Sann, ter sido preso pelas autoridades americanas por fraudes na obtenção do green card (cartão que dá direito ao imigrante à moradia permanente nos Estados Unidos).
Sann, desde fevereiro do ano passado, é foragido da Justiça brasileira. Apesar de uma decisão que o proibiu de sair do país, ele conseguiu embarcar, de maneira ainda não revelada, para os EUA, pelo Aeroporto de Guarulhos. Após a fuga misteriosa, a Justiça brasileira decretou a prisão de Sann. O nome dele está na lista da Interpol.
O esquema
O esquema da Ifreex, segundo a Polícia Federal em release enviado à imprensa, disse que o grupo anunciava lucros astronômicos para quem se filiasse à rede e adquirisse o aplicativo. O objetivo dos envolvidos, contudo, não era o de vender o app, mas sim de recrutar o maior número de pessoas. O produto era apenas um artifício usado para dissimular a fraude.
O endereço da Ifreex é um dos grandes segredos. Ao contrário das empresas de pirâmide que tinham sede no Brasil, a companhia foi conduzida por escritórios em Belize, Hong Kong e Panamá.
Segundo o advogado Sérgio Carlos de Souza, que representa o Sann, seu cliente nunca foi dono do negócio. Ele também nega que o empresário tenha saído ilegalmente do Brasil. “Sann era apenas distribuidor independente das duas companhias. Ele é investigado pela Polícia Federal apenas por ter recursos no exterior. Não por atuar nos negócios”.
“Não fugi do Brasil. Sou um bode expiatório”, diz Sann Rodrigues.
Sanderley Rodrigues, conhecido no mercado como Sann, é suspeito de ser o dono da Ifreex e de ter executado papel importante na Telexfree. Em entrevista para o Gazeta Online do Espírito Santo, ele afirmou ser apenas vítima de mais um golpe de pirâmide e disse ter abandonado o marketing multinível após várias acusações infundadas contra ele.
No Espírito Santo, ele é alvo de duas investigações. O inquérito em mãos da PF apura a participação do consultor na Telexfree. A ideia é desvendar se o empresário era apenas divulgador ou um dos cabeças do negócio. O outro inquérito visa a verificar o envolvimento dele na Ifreex. Os dois procedimentos focam em crimes de evasão de divisas, além de venda de valores mobiliários sem autorização.
Durante visita do empresário ao Brasil para divulgar os trabalhos da Ifreex, em fevereiro do ano passado, a Justiça Federal do Espírito Santo proibiu Sanderley de sair do território brasileiro. A decisão com data de 5 de fevereiro de 2015 foi descumprida pelo especialista em marketing multinível. Ele conseguiu embarcar para os EUA, de forma ainda não revelada, no dia 20 do mesmo mês.
Sob a suspeita de ter fraudado a obtenção do green card, no dia 18 de maio de 2015, Sann chegou a ser preso nos EUA. Se condenado, o empresário pode pegar até 10 anos de prisão. Há indícios de que ele tenha morado ilegalmente nos EUA entre 2003 e 2006. Em 2009, Sann conseguiu um visto de turista. Na ocasião, disse ao consulado que nunca havia entrado sem visto nos Estados Unidos.
Você é suspeito de ser idealizador da Telexfrre e de ser dono da Ifreex, questões que você sempre negou. Qual era o seu envolvimento nos negócios? No caso da Ifreex, eu aproveitei que a empresa estava na internet e achei que era uma boa oportunidade de trabalhar. Mas eu não desenvolvo esse tipo de negócio nos Estados Unidos, pois enfrentei alguns problemas aqui. Meu papel na Ifreex era apenas de distribuidor independente. Mas não faço nem farei mais parte de empresas de marketing multinível. É a minha decisão. Publiquei isso na internet.
Por que a Ifreex saiu do ar logo após a sua prisão nos EUA? Eu tomei um susto quando estava tudo fora do ar. Não sei o motivo.
Quem são os donos da Ifreex? Não sei.
Por que desistir desse negócio? Vejo que as pessoas estão me perseguindo. Eu decidi não me envolver nesse mercado mais.
Se você nunca foi dono da Ifreex, porque veio ao Brasil divulgar a empresa em fevereiro do ano passado? Eu fui apenas fazer uma palestra num evento da Ifreex. Eu não fui divulgar a empresa.
A Justiça lhe proibiu de sair do Brasil, no ano passado, mas mesmo assim, você conseguiu voltar para os Estados Unidos. Como conseguiu fugir do país? Na verdade, eu não fugi do Brasil. Quando saí daí não havia impedimento. Eu simplesmente vim embora. Infelizmente, a mídia só publica conteúdo pejorativo sobre mim. Eu não sou bandido. Sou vítima dos esquemas.
Você disse ter ficado milionário na Telexfree, mas depois disse ter sido vítima do golpe. Quanto realmente lucrou com o negócio? Eu ganhei muito dinheiro, mas fui um milionário virtual. Meu dinheiro ficou todo preso no backoffice, com o bloqueio da Telexfree.
Você perdeu dinheiro com a Ifreex? Quanto perdeu? Não quero falar sobre minhas perdas na Ifreex.
Existe um vídeo seu na internet mostrando a suposta sede da Telexfree, que mais tarde foi revelada não pertencer à empresa. Era um prédio grande, onde estavam outras várias companhias. A sala da Telexfree era um escritório virtual do grupo de locação Regus. Por que você mentiu nesse vídeo? Deixa eu explicar. Na verdade, a Telexfree era uma empresa nos Estados Unidos em que eu me cadastrei, porque conhecia ela na internet. Eu fui no escritório, lá no prédio. Eu não sabia que era um escritório da Regus. Fui saber disso só mais tarde.
Você foi preso nos Estados Unidos por fraude no green card. Como está a tramitação desse processo? Não quero falar sobre esse processo.
E o processo aberto contra você nos Estados Unidos por causa da Telexfree? Engraçado é que eu sou a pessoa mais perseguida por causa da Telexfree. Ninguém fala do Carlos Wanzeler (dono da Telexfree) que fugiu dos EUA para o Brasil. Todos querem me colocar como bode expiatório. No processo nos Estados Unidos, eu sou apenas um dos cinco vendedores citados. Estamos provando que éramos apenas vendedores da Telexfree.
Você disse ter abandonado o marketing multinível. Como vive agora? Eu sou palestrante, eu vendo cursos, minhas palestras, ganho dinheiro com isso. Eu já tinha vida antes da Telexfree, antes de qualquer marketing multinível que fiz. Ganho muito dinheiro com as minhas palestras, com meus treinamentos.
(Fonte: Gazeta Online)