Passagem da Tocha Olímpica por Belo Horizonte é marcada por atos políticos e homenagens

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A passagem da tocha olímpica por Belo Horizonte neste sábado (14/5) assimilou o clima político existente no país. Desde o início do percurso, diversas pessoas manifestaram, por meio de palavras de ordem e cartazes, posição crítica em relação ao afastamento de Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República e a temas como corrupção. Eles classificaram de golpe o processo em curso no país. Na Praça da Liberdade, houve também um ato contra o governador Fernando Pimentel, organizado pelo Vem Pra Rua, um dos movimentos que participaram da mobilização a favor do impeachment.

O trajeto da tocha na capital mineira teve início pela orla da Lagoa da Pampulha. O ponto de partida foi o Museu de Arte da Pampulha, com presença do prefeito Márcio Lacerda. Já ali, dezenas de manifestantes portavam cartazes com os dizeres “golpe nunca mais”. Manifestações aleatórias e espontâneas com o mesmo teor ocorreram em diversos locais do percurso.

O geógrafo Itamar Lucas Magalhães produziu, junto com duas amigas, cartazes com frases em inglês. “É um evento de envergadura mundial. Então é uma forma de darmos visibilidade para a comunidade internacional ao golpe que está em curso no Brasil e à deposição de um governo democrático”, disse.

No centro de Belo Horizonte, quem acompanhou a tocha se deparou ainda com uma manifestação no alto do edifício da Faculdade de Direito da UFMG. A instiuição está ocupada desde quinta-feira (11) por estudantes insatisfeitos com o afastamento de Dilma Rousseff. Com cartazes e palavras de ordem contra o impeachment, eles se prepararam para receber a tocha olímpica.

Na Praça da Liberdade, foi a vez de manifestantes favoráveis ao impeachment marcar presença. Organizados pelo movimento Vem Pra Rua, desta vez eles deixaram de ter como alvo central a presidenta afastada Dilma Rousseff. O centro do ato foi o governador mineiro Fernando Pimentel (PT). “É um ato espontâneo organizado de ontem para hoje. É onde a imprensa está toda reunida. Então é importante trazer uma pauta real. Viemos lembrar ao Pimentel que Minas Gerais agora está de olho nele”, disse o estudante Lucas Dornelas.

Os manifestantes portavam cartazes pedindo a saída de Pimentel do governo do estado. Eles lembravam também as denúncias da Operação Acrônimo. A Procuradoria-Geral da República denuncia o governador por beneficiar empresas na implementação de políticas públicas. Sua mulher Carolina Pimentel também é investigada, suspeita de receber verbais ilegais e repassar para a campanha do marido. Há duas semanas, a primeira-dama foi nomeada para a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social do Governo de Minas Gerais (Sedese), mas uma liminar concedida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais suspendeu o ato na última quinta-feira (12). O magistrado entendeu que houve desvio de finalidade.

No centro de BH, estudantes da Faculdade de Direito da UFMG recebem a passagem da tocha com cartazes contra impeachment de Dilma Rousseff (Foto: Léo Rodrigues/Agência Brasil)

Homenagens

Mas nem só de protesto se fez o percurso da tocha olímpica. O que também chamou a atenção foram as homenagens àqueles escolhidos para carregar o fogo olímpico. Na Praça Raul Soares, no centro da cidade, um grupo de idosos prestava homenagem a Lenisse Germânia. Ela foi escolhida para transportar a tocha em reconhecimento ao trabalho feito no grupo de convivência da terceira idade Realce a Vida. Criado em 2000, trata-se de um projeto voltado para o fortalecimento do Estatuto do Idoso. Os participantes integram grupos de cantigas de roda e teatro e se apresentam em escolas, asilos, faculdades e outros espaços. “Estamos todos com uma bandeira branca porque a Lenisse é muito da paz”, afirmou a aposentada Marlene Soares.

Na Rua da Bahia, judocas de quimono ovacionavam o mestre Shihan Galileu, outro que também foi selecionado para carregar a tocha. A estudante Gabriela Martins da Rocha saiu de São José da Lapa, a cerca de 40 quilômetros da capital, para participar do evento. “Decidimos vir com o nosso uniforme de judô, que é a nossa essência. O Brasil inteiro está de olho no trajeto da tocha, e eu fico lisonjeada de ver meu professor levando ela, simbolizando a união dos povos”, disse. Ela aposta no sucesso do judô brasileiro na Olimpíada do Rio e se inspira em Sarah Menezes. “Eu sou apaixonada por essa mulher. Admiro demais o judô dela”, afirmou.

Entre os integrantes do revezamento da tocha olímpica, em Belo Horizonte, também estavam famosos como a cantora Paula Fernandes, o ex-jogador de vôlei Nalbert Bittencourt e a atual jogadora de vôlei Sheila Castro. Os patrocinadores do ritual – Bradesco, Coca-Cola e Nissan – selecionaram outros participantes entre aqueles que se inscreveram por meio da internet e pessoas que desenvolvem projetos sociais nas cidades. Em todo o Brasil, a tocha deverá passar pelas mãos de 12 mil pessoas.

O evento na capital mineira teve como destino final a Praça da Estação. Um show da banda mineira Jota Quest encerra a programação.

Lenisse Germânia agradece homenagem (Foto: Léo Rodrigues/Agência Brasil)

Espírito olímpico

Para alguns, acompanhar a tocha se transformou num evento familiar. O médico Luiz Fernando dos Santos foi acompanhado de mulher e dos filhos. Segundo ele, é importante apresentar o espírito olímpico às crianças. Quem aprovou a ideia foi Luiz Felipe dos Santos, de 11 anos. “Achei legal que um tanto de gente veio só para ver a tocha. Mas não é só uma tocha, ela simboliza todo o evento e o espírito das olimpíadas”.

A tocha olímpica faz referência ao fogo que queimava em homenagem à deusa Hera durante os Jogos de Olímpia, na Grécia Antiga. Nas olimpíadas modernas, o ritual de revezamento da chama teve início em 1936, quando o evento esportivo ocorreu em Berlim, capital da Alemanha. O objetivo era estabelecer um elo entre os jogos da antiguidade e os jogos contemporâneos. Por isso, a tocha é acessa em uma cerimônia na Grécia e depois levada para o país-sede. Ao longo dos anos, a chama olímpica se consolidou como símbolo de paz, união e amizades entre os povos.

Para a pedagoga e artista plástica Ângela Rosalina Silva, acompanhar o evento é um ato de patriotismo. Para ela, é também uma forma de prestar apoio aos atletas brasileiros. “O esporte no Brasil é muito pouco valorizado. Então acho importante fazer um esforço para prestigiar e mandar nossas energias para os atletas que vão representar o país”.

Trajeto

Nesta edição, a tocha passará por 300 cidades brasileiras ao longo de três meses. O destino final é o Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, que sediará a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2016 no dia 5 de agosto. No evento, a tocha será usada para acendimento da pira olímpica.

O ritual de passagem de chama olímpica teve início no dia 3 de maio em Brasília. Em Minas Gerais, a primeira cidade a receber o fogo olímpico foi Araguari (MG), no dia 7 de maio. Antes de chegar a Belo Horizonte, outros 26 municípios a recepcionaram. O próximo destino é a cidade histórica de São João del-Rei (MG). De lá, o revezamento fará um percurso em um trem Maria Fumaça até Tiradentes (MG). Depois os destinos são Barbacena (MG), Juiz de Fora (MG), Bicas (MG), Leopoldina (MG) e Muriaé (MG), quando se encerra o percurso em solo mineiro.

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