Chocolate de pinhão é novidade em festival gastronômico mineiro

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Quem passa por Monte Verde, no Sul de Minas Gerais, durante a primeira quinzena de abril é tomado por cores, cheiros e sabores que encantam e aquecem. O início do outono é a época de experiências nas cozinhas do distrito de Camanducaia para o Festival Gastronômico. Entre as delícias na mesa, o chocolate de pinhão.

O pinhão é uma semente da araucária, árvore abundante no Sul do país, em algumas partes do Estado de São Paulo e no Sul de Minas Gerais. Ele é rico em minerais, previne a anemia, fornece energia e funciona como antioxidante. Normalmente é cozido para o consumo, mas em Monte Verde é comum o seu emprego em uma grande variedade de pratos, da culinária tradicionalmente mineira à alta gastronomia.

Casca de chocolate e recheio de brigadeiro à base de pinhão (Foto: Silvia Urias/Divulgação)

Semente na sobremesa

Silvia Urias trabalha com chocolates há mais de uma década, mas foi há cinco anos que descobriu na semente um recheio diferente e gostoso para os bombons. “Eu tenho paixão por pinhão. Eu sou de São Paulo e lá a gente não sabe quando ele foi colhido. Quando cheguei aqui, eu vi essa abundância. Já fiquei contente. E logo comecei a pensar se ele não combinava com chocolate”, conta.

Bolo, patê, molho, nhoque. O pinhão pode ganhar muitas formas pelas mãos dos chefs que estão à frente de restaurantes e bares da localidade com cerca de 5 mil habitantes. Pelo instinto de Silvia, ele ganhou mais uma utilidade, que tem feito bastante sucesso.

“Primeiro fazíamos como uma bolinha coberta com chocolate, quando eu trabalhava em uma loja de chocolate daqui. A loja fechou e eu continuei fazendo os doces, agora com formas que imitam o pinhão. No começo, as pessoas achavam que nós usávamos a própria casca [da semente] para colocar o recheio”, comenta rindo.

O bombom de pinhão lembra a semente da araucária em sua forma. O recheio remete a um doce de coco com sabor suave e textura leve. Uma lata de leite condensado, manteiga e 500 gramas de pinhão cozido e triturado são os ingredientes básicos da fórmula do sucesso que Silvia vai ensinar em um dos workshops organizados gratuitamente pelo festival na Casa da Gastronomia.

O espaço, montado por meio de parceria com a Prefeitura de Camanducaia (MG), oferece aulas todos os dias, até 17 de abril, com o tema da sétima edição do Festival Gastronômico, Sabores de Minas.

“Era um sonho antigo nosso oferecer para a própria população, e também aos turistas, algo que fosse além do festival mesmo. Nos outros anos tínhamos as palestras, mas não tínhamos um espaço do evento, que pudesse ser usado depois pelos moradores. E esperamos conseguir isso”, conta a chef e produtora do festival, Sônia Kohen.

Valorizando tradições

A Casa da Gastronomia é uma tentativa de reforçar uma característica que tem tornado cada vez mais atrativo o distrito: a valorização da culinária mineira por meio de receitas criativas com uso de produtos locais. De petiscos a refeições completas, o toque de quem é apaixonado por cozinhar e pelos hábitos de criar e cultivar alimentos que vão muito além dos pinhões que caem das araucárias.

Da cervejaria de André Ostermayer é difícil sair sem beliscar algo. O salmão é defumado pelo pai de Ostermayer e servido com pão alemão. A truta defumada que acompanha a bolinha com massa de mandioquinha é criada na propriedade da família e degustada com uma geleia de maçã verde e pimenta produzida no distrito.

Já Leandro Schultz aposta na cozinha rústica de Minas Gerais para ganhar o paladar dos turistas. “O combo mineiro é a estrela deste ano, com o que tem de melhor: carne na lata, leitão à pururuca, torresmo, tutu, linguiça, ovo, couve e banana acompanhados de arroz branco”, diz com orgulho, mostrando o prato preparado pela esposa Aparecida Pereira Lemos. Mais de 10h de dedicação apenas a essa iguaria.

“A marca do festival é deixar evidente o que Monte Verde pode oferecer o ano todo, que é esse sabor, esse clima. Temos a comida, temos as cervejarias, o vinho, uma natureza que é linda e acho que por isso vem crescendo em atividades e em número de apoiadores”, diz Tiago Mentor, um dos organizadores.

Neste ano, o Festival Gastronômico de Monte Verde conta com pratos de 35 restaurantes e 93 patrocinadores, entre empresas, associações e entidades. Para o jantar que antecipou a abertura do evento aos turistas, no dia 31 de março, todos os ingredientes dos pratos servidos foram doados e tanto o trabalho dos chefs quanto do serviço de cozinha e atendimento foi voluntário, possibilitando que a renda das refeições fosse revertida ao Canil de Camanducaia, que precisa de reformas.

A 12 mãos

E entre os destaques da programação, há dois jantares exclusivos que prometem apresentar produtos da região em receitas especiais. No dia 9 de abril, os chefs Ari Kespers, Gabriel Broide e Mônica Rangel fazem o menu-degustação em seis etapas “Sabores da Mantiqueira”, em referência à serra onde o distrito se localiza. Bochecha de porco na cerveja preta com curau e pele de milho e truta fresca com emulsão de limão-cravo, salada de erva-doce e brotos de girassol são os destaques.

Em 16 de abril, entram em cena os chefs Cláudio Aliperti, Sônia Kohen e Thiago Blanes com um jantar que tem entre os pratos codorna recheada com farofa de pinhão e polenta de canjiquinha com crispie de torresmo.

(Fonte: G1 Sul de Minas / Repórter: Daniela Ayres)

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