O machismo da sociedade brasileira colabora para a baixa participação feminina na política, diz a prefeita de Nova Bandeirante (MT), Solange Kreidloro. Para ela, o problema vem desde a infância, quando as meninas, diferentemente dos meninos, não são incentivadas pela família a assumir cargos de poder.
“A mulher é sempre vista como frágil. Quando, em um cargo de liderança, ela se destaca, é porque tem mãos de ferro, uma ‘mulher de calças’. Mas, quando acontece algo de ruim é porque é fraca, incompetente”, critica a prefeita. Solange diz ainda que nas escolas, só se estuda os grandes homens e articuladores: “Não se conta a história das grandes mulheres do mundo e suas conquistas.”
A secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Rosali Scalabrin, diz que o sistema eleitoral brasileiro dificulta a inserção feminina na política. “Tradicionalmente, os partidos políticos são coordenados por homens. A presença de mulheres nas direções de partidos é muito pequena”, constata.
“Temos só duas presidentes nacionais de partidos, entre os 28 com representação na Câmara. Em que pese a lei do fundo partidário para destinar às mulheres um percentual ou a lei que prevê a obrigatoriedade de no mínimo 30% de candidaturas femininas, dificilmente as mulheres entram na lista de prioridades na hora de priorizar as candidaturas”, afirma.
De acordo com a Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95), até 5% dos recursos devem ser aplicados na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres. A Lei 9.504, de 1997, estabelece normas para as eleições, define que o número de vagas para cada partido ou coligação deve preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo.
Rosali Scalabrin ressalta que a utilização de no mínimo 5% do fundo dos partidos para formação política das mulheres não tem sido cumprida e diz que uma ampla reforma é necessária para ampliar a inserção feminina na política. Para ela, o fato de o poder econômico também estar concentrado no sexo masculino piora a situação.
“Talvez o fato de ter sido proibido o financiamento privado, ou seja, de empresas para as campanhas, isso seja um ponto favorável. Como as mulheres não estão no mundo da elite econômica do país, quem detinha mais poder econômico e relações com grandes empresas recebia mais financiamento”, declara a secretária.
“É óbvio que as doações de empresas têm influenciado muito o perfil das pessoas eleitas, tanto para o Congresso como para as outras unidades da Federação. Acho que o fato de ter caído [o financiamento privado de campanhas], vai colocar um pouquinho mais em pé de igualdade a disputa eleitoral, pelo menos no quesito recursos financeiros”, acrescenta.
Para a prefeita Solange, uma das diferenças entre mulheres e homens é que elas são menos corruptíveis. “As mulheres são mais centradas, conduzem as decisões com mais amor e devoção, em favor da sociedade”, declara.
Prefeita Solange Kreidloro (Foto: Reprodução)
Campanha permanente
A SPM lançou, em 2008, em parceria com o Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, a campanha Mais Mulheres no Poder: Eu Assumo Esse Compromisso. O objetivo da ação, que é permanente, é ampliar a discussão de gênero nas campanhas eleitorais para aumentar o número de mulheres eleitas.
De 10 a 13 de maio ocorrerá, em Brasília, a 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (4ª CNPM). Entre os temas a serem discutidos estão a inserção feminina na política e a criação de um Sistema Nacional de Políticas para as Mulheres. (Agência Brasil)