Associação capacita mulheres para a confecção de tapetes arraiolos em Conceição do Mato Dentro

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Natural de Miguel Calmon, na Bahia, Maria Sirley Lopes Rios Freitas, de 51 anos, mudou-se para Minas, estado em que nasceu seu marido, há 14 anos. Em fevereiro deste ano, a família, que morava em Itabira, transferiu-se para Conceição do Mato Dentro. Nos primeiros dias, Sirley não tinha amigos nem tinha o que fazer. Foi quando tapetes arraiolos de uma feira de artesanato atraíram o seu olhar. Ela não só gostou, como teve o desejo de aprender aquela técnica. Ao buscar informações, chegou ao Projeto Mulheres Tapeceiras, uma iniciativa da Associação Escolar Fazenda de Artes e Ofícios de Conceição do Mato Dentro (Aefao). “Vi os tapetes e fiquei com aquilo na cabeça, perguntei e as pessoas me indicaram”, lembra. Depois de participar do curso de capacitação, ela passou a integrar o grupo e é uma das 30 artesãs. “Foi uma forma de me entrosar com a comunidade.”

A participação na associação também mudou a vida de Márcia Rodrigues Utsch, de 41. Há dois anos, ela aprendeu a tecer. “É uma terapia para mim. É importante para a parte psicológica. A gente se diverte e se sente muito bem lá. O projeto é muito bom”, afirma. Tão bom que ela vai à associação todos os dias e não se importa de continuar tecendo em casa, caso seja preciso para concluir uma peça. Para fazer um tapete pequeno, são necessárias duas semanas de dedicação. Para os maiores, pode levar até dois meses.

A presidente da Aefao, Maria do Rosário Silva Campos, de 52, lembrou que o trabalho é feito desde 1984. No entanto, em 2012, o grupo estava prestes a entregar a camisa. Apenas seis mulheres atuavam, havia muita dificuldade para conseguir os materiais e vender o que era produzido. A parceria com a mineradora Anglo American foi fundamental para que elas mantivessem o projeto vivo. “O projeto completa a renda das mulheres e funciona como terapia. A tapeçaria também é o artesanato mais procurado na região”, completa. Os tapetes são de ponto arraiolo, que se assemelha ao ponto cruz. A diferença é que o arraiolo é um ponto mais alongado. A técnica é usada para fazer tapetes, almofadas e pesos de portas.

De origem portuguesa, a técnica ganhou um jeito conceicionense de ser produzida. Os tapetes do Mato Dentro são muito conhecidos na região. As peças têm riqueza de detalhes e de cores, que espelham a marca do barroco na cidade. A arte barroca – especialmente imagens sacras e florais –, festas folclóricas e aspectos da fauna flora inspiram as mulheres.

Tapetes bordados pelas artesãs têm riqueza de detalhes e de cores, que espelham a marca do barroco na cidade (Foto: Laura Milan / Divulgação)

VOCAÇÃO LOCAL

A gerente de Desenvolvimento Social da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil, Viviane Menini, informou que o objetivo do projeto é fomentar o desenvolvimento socioeconômico das comunidades que recebem a mineradora. “Procuramos mapear oportunidades de desenvolvimento em projetos sociais alinhados com o direcionamento do investimento social da empresa e respeitando a vocação local”, diz. O propósito é fazer o resgate cultural e contribuir para a manutenção da tradição das cidades. Viviane destaca que, para que o projeto fosse para frente, foi necessário uma parceria entre o poder público, a empresa e a sociedade civil, por meio da associação.

A empresa contribui no processo de resgate da identidade, remodelação da marca, produção de material de comunicação e no treinamento para que as mulheres conseguissem vender os seus produtos. Para isso, foram investidos R$ 100 mil. “Um dos problemas era como expor fora de Conceição do Mato Dentro e como vender”, ressalta. Na parceria, a contrapartida da prefeitura é o investimento em transporte, alimentação e hospedagem para que as mulheres pudessem participar de feiras em outras cidades. “A contrapartida das mulheres era ensinar o ofício de fazer tapetes”, conta. As seis mulheres atuaram como agentes multiplicadoras, ensinando a técnica para outras 50 mulheres. A opção foi por mulheres em estado de vulnerabilidade social. “O foco é a inclusão dessas mulheres, trazê-las para o mercado de trabalho. É uma forma que elas têm para aumentar a renda.” O segundo processo de capacitação está em andamento.

A próxima etapa prevê que as mulheres possam se capacitar para buscar recursos e manter a entidade. Para isso, elas participaram do Programa Germinar, cujo objetivo é a capacitação do terceiro setor. “O objetivo é que elas saibam estruturar projetos e o passo a passo para captar recursos.” A associação participou do processo de formação com outras 130 entidades. Em dois anos, houve incremento de 76% nas vendas. Algumas mulheres aumentaram em quase 200% a renda delas.

O trabalho na associação transformou a vida de muitas mulheres, que passaram a se sentir incluídas e parte da comunidade (Foto: Laura Milan / Divulgação)

(Fonte: Jornal Estado de Minas)

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