Professor da UFV que fez post polêmico sobre estupro é alvo de sindicância

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Estudantes consideraram que comentário incita a violência e cobraram providências da universidade. Professor nega e diz ter se expressado mal.

A Universidade Federal de Viçosa (UFV) determinou, na noite de quarta-feira (17/06), a abertura de uma sindicância para apurar o caso do professor e chefe do Departamento de Comunicação Social da instituição, Joaquim Sucena Lannes, que fez uma série de declarações polêmicas em sua página no Facebook. No caso mais recente, o docente se tornou alvo de revolta dos estudantes ao postar comentário considerado apologia à violência.

O post foi publicado na página pessoal de Lannes na última segunda-feira. Ao comentar uma notícia falsa, em que um juiz teria libertado um ladrão e sido assaltado por ele logo em seguida, o professor escreveu: “Bem feito. Tomara que futuramente este marginal entre na casa do juiz, estupre a mulher dele, a filha e outras mulheres da família dele. Aí quem sabe ele possa ver quem merece ficar solto e quem merece ficar preso. Bem feito!”.

Alunos indignados com o comentário fizeram uma cópia da postagem, que circulou pelas redes sociais. No próprio Facebook, o professor comentou sobre as manifestações de revolta. “Engraçado. Algumas pessoas acharam que o meu pensamento é errado. Mas é só uma reflexão. A polícia prende meliantes, ladrões, estupradores, etc. (…) Depois, um juizinho vem e solta o meliante para fazer mais. (…) Não gostou? Levem o meliante pra casa e deem carinho a ele. O protejam”, respondeu Lannes em outro comentário. Após a repercussão, ele apagou os posts.

Publicação do professor provocou revolta nas redes sociais – Foto: Reprodução

Na quarta-feira, Joaquim Sucena Lannes decidiu se manifestar por meio de sua advogada. Marinês Alchieri, informou ontem à reportagem que o docente afirma que sabia que a notícia era falsa e que usou a rede social apenas para fazer um desabafo em relação à violência. “Ele disse que se expressou mal, mas que tudo o que disse foi no sentido contrário do que estão tentando fazer parecer”, informou a advogada. Segundo ela, em momento nenhum Lannes pretendeu incitar a prática de estupro e usou apenas uma situação fictícia, com personagens falsos, para expressar sua revolta em relação à violência.

A postagem fez com que um grupo de alunos se mobilizasse a fim de se posicionar contra a atitude do professor. Pessoas ouvidas pelo Jornal Estado de Minas na tarde passada disseram que este não é um caso isolado, e que o professor já teria feito outras declarações polêmicas tanto nas redes sociais quanto no ambiente acadêmico.

Em nota divulgada na quarta-feira, o Centro Acadêmico do Curso de Jornalismo (Cajor) se manifestou contra a declaração de Lannes na rede social. “O Cajor, em consonância com o movimento estudantil da universidade, repudia qualquer ato que incite a violência dentro e fora do campus”, diz o documento. Docentes do setor chefiado pelo professor também se pronunciaram. “Os professores do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa vêm a público manifestar seu posicionamento veementemente contrário a todo tipo de violência, incitação ao ódio, preconceito, assédio ou discriminação de qualquer natureza”, diz a nota publicada no site do departamento. Ainda segundo o texto, os professores aguardam o desenvolvimento dos fatos para se posicionar sobre situações específicas.

O pedido de abertura da sindicância foi enviado à universidade por um grupo de estudantes. Eles ainda pretendem formalizar uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF) por incitação ao crime de estupro. Em nota, assinada pela reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares, a UFV ressalta que “não considera legítimo exigir pensamento unânime dos membros da comunidade universitária, muito menos impedir que se manifestem na esfera particular sobre qualquer assunto” mas, “ciente das liberdades democráticas e firme na defesa dos direitos individuais, a Instituição lamenta manifestações que seguramente não refletem o pensamento da maioria de seus membros”. Leia a nota na íntegra:

A Reitoria da Universidade Federal de Viçosa (UFV) vem a público manifestar-se sobre o recente episódio de denúncia contra um de seus professores, em razão de declarações publicadas em perfil particular nas redes sociais, com o objetivo de esclarecer o posicionamento da Instituição e demais encaminhamentos administrativos com relação ao fato.

A administração não considera legítimo exigir pensamento unânime dos membros da comunidade universitária, muito menos impedir que se manifestem na esfera particular sobre qualquer assunto. Todavia, ciente das liberdades democráticas e firme na defesa dos direitos individuais, a Instituição lamenta manifestações que seguramente não refletem o pensamento da maioria de seus membros.

Sendo assim, reafirmamos o compromisso da administração superior da UFV em combater todas as formas de opressão, dentro e fora dos campi. Em nossa gestão, a violência não pode ser relativizada e não será! Este compromisso ultrapassa nosso papel na Reitoria e deve ser incorporado como um pressuposto da vida coletiva na defesa de direitos fundamentais. Essa foi e será a nossa defesa.

Após o protocolo de ofício de estudantes à direção do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCH), foi determinada a abertura de uma sindicância para apurar os fatos, conforme previsto no Regimento e no Estatuto da UFV. Apenas dessa forma a Instituição será capaz de assegurar amplo direito de defesa às partes envolvidas, reforçando os princípios democráticos que pautam nossas ações.

Nilda de Fátima Ferreira Soares – Reitora da Universidade Federal de Viçosa

(Fonte: Estado de Minas)

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