Adolescente teve morte violenta após sair de calourada em Viçosa, diz Polícia

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Corpo encontrado em vala tinha marcas de agressões. Polícia investiga circunstâncias do assassinato.

A Polícia Civil já tem uma linha de investigação para descobrir quem são os responsáveis pela morte de Gabriel Oliveira Maciel, de 17 anos, morador de Ponte Nova, na Zona da Mata. Ele foi assassinado na madrugada de sábado em Viçosa, na mesma região, depois de participar de uma calourada universitária promovida por alunos da Universidade Federal de Viçosa (UFV). O delegado Felipe Fonseca Peres informou que o corpo tinha um ferimento na parte de trás da cabeça, provavelmente de tiro, e marcas de violência. “Foi uma morte violenta, que não teve relação com consumo de álcool ou entorpecentes. A análise preliminar mostra que o ferimento na cabeça é compatível com o de um projétil de arma de fogo. Vamos aguardar o laudo final para confirmar”, afirmou. O corpo foi enterrado ontem em Raul Soares, na Zona da Mata.

Gabriel Oliveira Maciel, de 17 anos, foi visto pela última vez na festa realizada em sítio perto do câmpus da Universidade Federal de Viçosa – Foto: Reprodução / Facebook

As investigações apontam que a vala em um terreno da UFV, próximo à BR-120, onde o corpo foi encontrado, provavelmente foi usada apenas para desova do cadáver. Pessoas ouvidas pela polícia dizem que o último local onde Gabriel esteve foi a festa Entornando o Béquer 2015, calourada organizada por 10 cursos da universidade, com bebida liberada, em um sítio do distrito de São José do Triunfo.

O delegado prefere não divulgar nomes de suspeitos. A Polícia já tomou depoimentos como o de Julia Mariano da Motta Floresta, de 19, com quem testemunhas afirmam que Gabriel tinha relacionamento afetivo, que não era considerado namoro, e estava na festa com ele. “Ela disse que eles foram juntos para a festa, mas, quando acabou, foi embora com uma prima e uma amiga e ele ficou com os amigos”, revelou o policial. A informação foi confirmada pelo advogado Francisco Rodrigues da Cunha Netto, que representa Julia. “Eles têm um relacionamento que não é namoro. A Julia chegou a ir à casa de Gabriel em Ponte Nova, pedindo para que a mãe dele o deixasse ir à festa, e ela ficou de pensar no assunto. Na sexta-feira, ele chegou a Viçosa e ela já tinha vendido o ingresso, mas Gabriel insistiu e eles acabaram indo na calourada”, disse o advogado. Netto afirmou ainda que Gabriel alternava durante a festa a companhia de amigos de Ponte Nova e de Julia e que, por volta das 3h, a jovem foi embora. “Ela ouviu que ele ficaria com os amigos e foi embora com a prima e a amiga”, completou.

Local onde ocorreu a calourada de estudantes da UFV – Foto: Paulo Filgueiras / EM

O tio de Gabriel, que prefere não se identificar, confirmou que a garota chegou a ir à casa do sobrinho, em Ponte Nova, para pedir que a mãe o deixasse ir à festa com ela, ficando inclusive na casa de Julia. “Minha irmã proibiu, mas depois ficou com dó e deixou ir, sabendo que no sábado teria uma aula de preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio”, afirmou o parente. O tio, porém, estranhou a reação da prima de Julia, quando, já no sábado, entrou em contato para pedir notícias. “Ela disse que a Julia não poderia atender e que os dois não eram namorados”, disse. Um familiar afirmou que os dois foram à comemoração juntos.

Confusão na festa

Declarações de três amigos de Gabriel foram incluídas no boletim de ocorrência da Polícia Militar. Eles confirmaram que o corpo encontrado era do jovem. “A mãe do Gabriel não o deixou ir à festa porque costumamos beber. A gente o viu na festa com a Julia, mas, na hora de ir embora, fomos pegar o ônibus e ele disse que ficaria com ela”, disse ao Estado de Minas Wesley Monteiro da Silva, de 19. Segundo ele, houve uma briga durante a festa, mas que, aparentemente, não teve ligação com o homicídio. “A gente jogou cerveja para o alto e deu confusão. Teve uma hora que um cara deu um chute e acabou acertando o Gabriel. Nós o ajudamos a levantar e ele saiu de perto”, contou.

Um dos indícios que pode ajudar a polícia é uma ligação feita do celular de Gabriel para a mãe, por volta das 8h de sábado. Depois de a mãe tentar falar com o filho por diversas vezes, o delegado confirma que ela recebeu a retorno da chamada, mas ninguém disse nada. “É uma tristeza muito grande. O Gabriel era uma pessoa extremamente do bem, não bebia e não usava drogas. Estava no terceiro ano do ensino médio e tinha o sonho de ser engenheiro. Queremos entender o que aconteceu”, contou o tio.

Após ouvir testemunhas, o delegado Felipe Peres chegou à conclusão que Gabriel bebeu durante a festa, mas não foi visto descontrolado ou causando tumulto.

Repercussão

A morte estarreceu a comunidade acadêmica da UFV e fez os estudantes cobrarem mudanças na rotina de Viçosa. “Fiquei muito sentido, pois fui à festa e peguei o ônibus que ele pegaria”, disse o aluno de pedagogia Hélio Netto, 26. “Falta segurança em Viçosa. Talvez, se tivesse mais policiamento, poderia acontecer uma ronda durante festas para ver se está tudo bem, se as pessoas estão usando drogas. Principalmente na saída”, afirmou a estudante de letras, Laura De Filippo, 24.

Pelo Facebook, a República Qkické, organizadora da calourada, lamentou a morte de Gabriel. Vários jovens se manifestaram criticando a organização por permitir a entrada de uma pessoa de 17 anos, abaixo da idade requisitada (18).

Mais de 5 mil pessoas confirmaram presença em um ato contra a violência em Viçosa, que será realizado sábado às 9h. A descrição do evento diz que a segurança de Viçosa piorou muito em 2015 e por isso os estudantes e moradores prometem uma passeata na cidade, passando na porta de locais como a Câmara Municipal e a sede da prefeitura. Mais de 15 mil pessoas foram convidadas.

Em nota, a UFV disse que o local onde o corpo foi encontrado “é uma área experimental da universidade, onde são realizadas atividades durante o dia e, por isso a vigilância não permanece ali 24 horas”, diz o texto. A faculdade informou ainda que “embora as calouradas sejam organizadas por estudantes da UFV, a instituição não se responsabiliza pela realização delas. Qualquer fato ocorrido durante esses eventos, que não acontecem no câmpus universitário, é de responsabilidade de seus organizadores. A UFV repudia qualquer ato de violência e lamenta profundamente o fato ocorrido”.

(Fonte: Jornal Estado de Minas)

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