Vaticano pode beatificar padre que viveu na Zona da Mata Mineira

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Júlio Maria Lombaerde morou em Manhumirim e criou diversas obras sociais

Minas Gerais poderá ganhar o seu terceiro beato. No próximo dia 24, representantes do Vaticano visitarão a cidade de Manhumirim, na Zona da Mata, para iniciar o processo de beatificação de padre Júlio Maria Lombaerde, religioso belga que viveu no Brasil por 32 anos. Ele nasceu em 7 de janeiro 1878 e se mudou para o Brasil com 34 anos. Depois de viver 16 anos nas regiões Norte e Nordeste do país, chegou a Manhumirim, onde ficou por 16 anos. Padre Júlio Maria morreu em 24 de dezembro de 1944, em um acidente de carro.

Por causa de suas ações, moradores de Manhumirim dedicam orações ao padre – Foto: Divulgação

O padre Heleno Raimundo da Silva, responsável pelo processo de beatificação no Brasil, explica que ainda não há prazo para a conclusão dos trabalhos. Após o reconhecimento das virtudes cristãs do religioso, ainda será necessária a comprovação de um milagre realizado para a beatificação.

“Ainda em vida, havia um reconhecimento dos moradores da santidade de padre Júlio Maria, e as pessoas hoje pedem bênçãos e a interseção dele em suas causas. Esse reconhecimento do Vaticano vai ser importante para que o mundo inteiro conheça a obra dele”, disse padre Heleno, que também é pároco em Manhumirim.

Durante o tempo que viveu no município mineiro, padre Júlio Maria criou dois colégios, o único hospital da cidade, uma comunidade agrícola para jovens em situação de vulnerabilidade social e um asilo. Seu protagonismo na causa social e o compromisso com a fé cristã fez do padre um homem considerado santo pela comunidade católica da região, mesmo antes de sua morte.

“É um homem muito querido aqui na cidade. Todas as obras que ele fez continuam funcionando até hoje e sempre fazemos orações à ele. Diante da devoção da minha sogra, o meu marido recebeu o nome de Júlio Maria. Foi uma homenagem”, contou a servidora pública Sandra Elisabeth Miranda, 64.

Padre Júlio Maria também teria enfrentado a censura imposta pelo governo de Getúlio Vargas e sobrevivido a tentativas de assassinato. A abertura do processo de beatificação foi autorizado pelo Vaticano em janeiro de 2013. Agora, será iniciado o recolhimento de toda documentação sobre a vida e a obra do padre.

Processo de beatificação

Para ser iniciado o processo, o Vaticano aprova o Nada Obsta, autorizando os trabalhos. O religioso se torna Servo de Deus.

Em seguida, inicia-se a pesquisa sobre a obra do religioso para comprovar que ele teve as 11 virtudes: fé, esperança, caridade, prudência, justiça, fortaleza, temperança, pobreza, humildade, castidade e obediência. Ele se torna Venerável.

Para se tornar beato é preciso comprovar um milagre. Para ser santo é preciso outro milagre.

Resistência dentro e fora da Igreja

A vida de padre Júlio Maria Lombaerde foi marcada por desafios dentro e fora da Igreja. Em resposta aos movimentos de resistência, ele se mostrou combativo. Quando ainda estava no Norte do país, criou uma congregação de freiras em Macapá (AP), com o intuito de abrir um colégio feminino na região.

Sua preocupação era proteger as adolescentes da região que sofriam com abusos sexuais, comuns naquela área no início do século passado. A Igreja não aceitou a congregação inicialmente, mas ele a fundou, mesmo de forma não oficial.

Já em Manhumirim, em Minas, o padre combateu arduamente o ataque ao culto de Nossa Senhora feito por parte dos protestantes. Ele ainda criou o jornal “O Lutador”, que circula até hoje e teria sido alvo da censura durante a ditadura do governo Getúlio Vargas.

Apesar de nunca se envolver com política, seu protagonismo nas ações do município irritaram alguns partidos e ele chegou a ser alvo de uma tentativa de homicídio dentro da igreja, mas sobreviveu.

Beatos

Dois religiosos que atuaram em Minas já foram reconhecidos como beatos pelo Vaticano. Um deles é Nhá Chica, que viveu em Baependí, no Sul do Estado, entre 1810 e 1895. O outro beato de Minas é Padre Eustáquio (1890-1943), que era holandês, mas viveu na capital. Existem cerca 60 processos de beatificação abertos no país.

(Fonte: Jornal O Tempo)

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