Ação foi defendida por policiais civis e questionada por representantes de jornalistas.
Em um clima tenso, com o Auditório completamente tomado por policiais civis, deputados, autoridades e representantes de classe repercutiram a prisão de Armando Pereira da Cruz enquanto dava uma entrevista ao vivo nos estúdios da Rádio Itatiaia, na última terça-feira (9). De um lado, inconformados com a ação policial, representantes de sindicatos de profissionais da imprensa apontaram falta de bom senso e agressão à liberdade de expressão. Já os policiais alegam que um mandado de prisão tem que ser cumprido seja onde for, para a segurança da população. A discussão se deu em audiência promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta terça-feira (16/12/14).
Armando Cruz foi preso pela Polícia Civil dentro dos estúdios da Itatiaia enquanto dava uma entrevista para o programa Chamada Geral, apresentado por Eduardo Costa. Ele é investigado na operação Lavagem III da Polícia Civil, que investiga esquema de fraude, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e corrupção que atuaria em Santa Luzia, Vespasiano e Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e também na Capital e em Sete Lagoas (Região Central do Estado). Ele também é acusado de coação de testemunhas.
O jornalista Eduardo Costa apresentou um vídeo com imagens do episódio e fez um breve relato do que aconteceu. Segundo ele, os dois policiais responsáveis pela ação entraram na rádio e procuraram por ele no estúdio, em que apresentava o programa ao vivo. Comunicado de que os policiais queriam prender o acusado naquele momento, Eduardo Costa relatou ter pedido paciência, enquanto entrava em contato com diretores da rádio e o ouvidor de Polícia Paulo Vaz Alkimim.
Apesar de o próprio ouvidor ter solicitado que os policiais aguardassem fora da rádio para efetuar a prisão, eles seguiram adiante com a operação e conduziram Armando Cruz à delegacia. O jornalista alega que não foi apresentado nenhum mandado de prisão e questionou se eles não estariam cumprindo ordens de alguém que queria “pegar” o acusado. Para embasar essa afirmação, ele mostrou documento em que o delegado Jonas Tomazi pede apoio imediato para a prisão de Armando Cruz, inclusive com a informação de que ele estava na rádio.
O deputado Durval Ângelo (PT), que solicitou a reunião, fez questão de esclarecer que a discussão não coloca em xeque o comportamento de toda a corporação policial. Ele inclusive elogiou a polícia de Pedro Leopoldo (RMBH) pela prisão da quadrilha envolvida nos crimes investigados pela operação Lavagem III.
No entanto, o parlamentar questionou a razoabilidade da ação policial, uma vez que o acusado se encontrava em uma emissora de rádio, sem risco de fuga. Ele evocou também a liberdade de imprensa para criticar a prisão do suspeito e ponderou que o episódio passa uma ideia de truculência, ruim para a imagem da polícia.
O deputado João Vítor Xavier (PSDB), também radialista da Itatiaia, defendeu o colega Eduardo Costa e criticou a prisão realizada na emissora. “É inadmissível que um profissional da comunicação tenha seu trabalho impedido”, protestou. Ele ainda defendeu o direito constitucional de liberdade de expressão para atacar a ação policial e argumentar que esse mesmo direito permitiu que servidores da segurança pública fizessem suas reivindicações nos microfones da rádio.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Kerison Lopes, descreveu a tensão vivida pelos jornalistas da Rádio Itatiaia no momento da prisão. Ele disse que o presidente da emissora, Emanuel Carneiro, destacou que não passou por episódio semelhante nem na ditadura militar.
Policiais defendem cumprimento de ordem judicial
Contrapondo as críticas feitas na reunião, vários representantes da Polícia Civil fizeram questão de elogiar os dois policiais que efetuaram a prisão de Armando Cruz. O mais enfático foi o presidente da Comissão de Prerrogativas do Sindicato dos Delegados de Polícia (Sindepominas), delegado Paulo Felipe Saback. Ele ratificou que já havia sido expedido mandado judicial para a prisão de Armando Cruz e menosprezou a importância do documento, que segundo ele é dispensável em caso de crime inafiançável.
O delegado, fazendo referência aos termos “razoabilidade” e “bom senso” utilizados pelos críticos à atuação da polícia, ressaltou que a doutrina policial estipula celeridade na prisão em situações similares e que isso demonstra que os policiais foram prudentes. “Não houve arbitrariedade e ilegalidade. Além disso, ninguém sabia se o procurado estava armado ou poderia fazer o próprio jornalista de refém”, ponderou.
O presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol-MG), Denílson Martins, assim como o presidente do Sindepominas, Marco Antônio de Paula Assis, também defenderam a atuação da polícia. “Todos se assustaram sim, mas porque a rádio estava ocupada por um bandido procurado pela polícia”, resumiu Marco Antônio Assis.
Os deputados Sargento Rodrigues (PDT) e Cabo Júlio (PMDB) também se uniram à defesa dos policiais. Para o deputado Sargento Rodrigues, foi uma “tempestade em copo d’água”, até pelo fato de os envolvidos possuírem “ficha irretocável”. Ele afirmou que é mesmo inconveniente cumprir um mandado de prisão, mas que não existe nada que impeça que a decisão seja cumprida em uma emissora de rádio.
No mesmo sentido, o deputado Cabo Júlio destacou que a prisão se justificava pelo fato de que o acusado de intimidar testemunhas poderia se utilizar de sua fala na rádio para dar continuidade às suas ameaças. “O resultado pedagógico dessa prisão é que o cidadão com mandado de prisão em seu nome será preso até se estiver no colo do Papa”, disse.
Corregedoria investiga o caso
Em resposta a diversos questionamentos dos participantes da reunião, o subcorregedor da Polícia Civil, Antônio Gama Júnior, informou que no mesmo dia da prisão ele foi à rádio e entrevistou funcionários. Com base nessas informações, preparou um relatório preliminar e sugeriu apuração administrativa e penal. Agora, o procedimento está a cargo de outro membro da corregedoria. Assim, o subcorregedor não soube informar o resultado da investigação, que será encaminhado para o Ministério Público.
(Fonte: ALMG)