Um dia após o presidente Barack Obama anunciar uma revisão na Lei de Imigração, oferecendo a possibilidade de legalização e permissão de trabalho temporário a cerca de 5 milhões de imigrantes, o assunto predominou nas rodas de conversa em Governador Valadares, no Leste de Minas, bem como entre norte-americanos e estrangeiros. A “Vala-dólares” é pioneira na emigração de brasileiros para o exterior e tem pelo menos 40 mil dos 260 mil habitantes em território estrangeiro, a maioria ilegalmente.
A notícia trouxe euforia para alguns, mas também gerou desconfiança. Para o fotojornalista Djavan Guilherme, de 46 anos, o decreto é “um pequeno curativo numa grande ferida”. E decretos podem cair. Ele emigrou há 14 anos, mora em Leominster, estado de Massachusets, trabalha como pintor e tem um filho de quatro anos. “Assim como eu, muitos conhecidos estão felizes, mas esperávamos mais que isso, uma lei”, reclama. Segundo o valadarense, os latinos decidem as eleições nos EUA e a medida de Obama foi uma estratégia política.
A artesã J.F.M., de 53 anos, desconfia das intenções do decreto. Ela tem dois filhos, quatro irmãos, uma neta e vários outros parentes nos EUA, a maioria ilegalmente. O primeiro partiu há 30 anos. “E se for uma armadilha para identificar, localizar e depois deportar todo mundo”, questiona. Apesar disso, revela que torce para que Barack Obama cumpra a promessa do alívio imigratório. “Não vejo meus filhos há nove anos. A saudade é dolorosa porque mãe precisa tocar, ver, sentir o abraço. Se eles puderem vir me ver, vai ser maravilhoso”.
“Só se fala disso por aqui. As pessoas se esqueceram de todos os outros assuntos”, conta o mineiro Elinézio Fialho, de 43 anos, nascido em Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce, radicado em Boston há 12 anos. Ele é um dos possíveis beneficiados pela medida.
Para Rosemayre Santos, que saiu de São João Evangelista, também no Vale do Rio Doce, há dez anos, para morar em Nova Jersey, pouca coisa deverá mudar. “Só muda o fato de trabalharmos de forma regular, pagando impostos e, talvez, recebendo um salário mais digno, porque quem vive aqui ilegalmente tem remunerações menores e nenhum benefício”, diz a brasileira de 30 anos que ganha a vida fazendo faxina.
Segundo ela, muitos imigrantes temem que as alterações não sejam colocadas em prática, por causa do descontentamento dos republicanos. “Vamos esperar e ver se ela trará benefícios mútuos. Mas uma coisa é certa: o Obama não terá mais nada aprovado pelo Congresso, que terá minoria democrata”.
Mudanças
Na última quinta-feira, o presidente norte-americano garantiu que aqueles que se enquadrarem nos requisitos propostos terão a garantia de que não serão deportados, podendo, dessa maneira, “sair da sombra e ficar em dia com a lei”, afirmou, em um discurso de 15 minutos. Cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais vivem nos Estados Unidos, segundo o Pew Research Center.
Para a pesquisadora sobre migração internacional Sueli Siqueira, professora da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) em Governador Valadares, com o decreto, o trabalhador imigrante poderá sair da informalidade e deixar de ser explorado. E os casos, revela, não são poucos. “Os que vencerem a burocracia e se enquadrarem nos critérios, serão muito beneficiados”.
Conterrâneo de Elinézio Fialho, Rander Fagundes, de 29 anos, não se encaixa nos quesitos, mas sentiu-se mais esperançoso. “Acho que a medida foi só para adoçar a boca dos imigrantes, mas, ainda assim, ela ajuda somente a metade deles”.
Critérios para a legalização
– Estar presente em solo americano desde 1º de janeiro de 2010 (ao invés de 15 de junho de 2007).
– O limite de idade de 31 anos em 2012 passa a ser nulo para participar do programa.
– Os candidatos devem ter chegado aos Estados Unidos antes dos 16 anos (inalterado).
– As condições de diploma (bacharelado) e antecedentes criminais (não tendo sido condenados) permanecem.
As informações são do Jornal Hoje em Dia, Agência Brasil e Agência Lusa.