Ex-candidata, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições, afirmou que “a alternância de poder fará bem ao Brasil”
Terceira candidata mais votada no primeiro turno das eleições presidenciais, Marina Silva (PSB) anunciou neste domingo (12) apoio formal a Aécio Neves (PSDB). O tucano disputa o segundo turno com Dilma Rousseff (PT).
“Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos”, disse Marina ao ler nota.
O apoio foi dado um dia após o tucano se comprometer a cumprir, mesmo que de forma vaga, quase todas as exigências feitas por Marina.
Em documento divulgado pela campanha de Aécio, ele se comprometeu a garantir ao Executivo o papel de demarcação de terras indígenas, a ampliar a reforma agrária e acabar com a reeleição de cargos do Executivo.
O único dos principais pontos que ficou de fora do documento lido por Aécio foi a redução da maioridade penal, que Marina é contra.
“Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com os brasileiros, com a nação. Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio”, disse Marina.
Ao apoiar o tucano, Marina não repete o que fez em 2010, quando também terminou o pleito na terceira posição. Na ocasião, ela preferiu ficar neutra em relação à disputa entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
A Rede Sustentabilidade, o movimento político de Marina, que pretende se transformar em um partido, pediu a seus militantes que no segundo turno não votem em Dilma ao recomendar voto branco, nulo ou em Aécio.
O PSB, partido pelo qual Marina concorreu à Presidência, declarou seu apoio ao tucano. Ontem, a família do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em agosto, também declarou apoio formal a Aécio.
Leia na íntegra o pronunciamento de Marina Silva
Ontem, em Recife, o candidato Aécio Neves apresentou o documento “Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo Desenvolvimento Sustentável”.
Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com os brasileiros, com a nação.
Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio.
Seria um amesquinhamento dos propósitos manifestados por Aécio imaginar que eles se dirigem a uma pessoa e não aos cidadãos e cidadãs brasileiros.
E seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar que me tomo por detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser individualmente destinatária de promessas ou compromissos.
Os compromissos explicitados e assinados por Aécio tem como única destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu cumprimento.
E é apenas nessa condição que os avaliei para orientar minha posição neste segundo turno das eleições presidenciais.
Estamos vivendo nestas eleições uma experiência intensa dos desafios da política.
Para mim eles começaram há um ano, quando fiz com Eduardo Campos a aliança que nos trouxe até aqui.
Pela primeira vez, a coligação de partidos se dava exclusivamente por meio de um programa, colocando as soluções para o país acima dos interesses específicos de cada um.
Em curto espaço de tempo, e sofrendo os ataques destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de poder pelo poder, mantivemos nosso rumo, amadurecemos, fizemos a nova política na prática.
Os partidos de nossa aliança tomaram suas decisões e as anunciaram.
Hoje estou diante de minha decisão como cidadã e como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira.
Me posicionarei.
Prefiro ser criticada lutando por aquilo que acredito ser o melhor para o Brasil do que me tornar prisioneira do labirinto da defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que percorresse e passasse só me levariam ao abismo de meus interesses pessoais.
A política para mim não pode ser apenas, como diz Bauman, a arte de prometer as mesmas coisas.
Parodiando-o, eu digo que não pode ser a arte de fazer as mesmas coisas.
Ou seja, as velhas alianças pragmáticas, desqualificadas, sem o suporte de um programa a partir do qual dialogar com a nação.
Vejo no documento assinado por Aécio mais um elo no encadeamento de momentos históricos que fizeram bem ao Brasil e construíram a plataforma sobre a qual nos erguemos nas últimas décadas.
Ao final da Presidência de Fernando Henrique Cardoso, a sociedade brasileira demonstrou que queria a alternância de poder, mas não a perda da estabilidade econômica.
E isso foi inequivocamente acatado pelo então candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, num reconhecimento do mérito de seu antecessor e de que precisaria dessas conquistas para levar adiante o seu projeto de governo.
Agora, novamente, temos um momento em que a alternância de poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o caminho dos avanços sociais, mas com gestão competente do Estado e com estabilidade econômica, agora abalada com a volta da inflação e a insegurança trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas.
Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula em 2002, que assumiu compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os setores produtivos.
Doze anos depois, temos um passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros, intitulada: “Juntos pela democracia, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável”.
Destaco os compromissos que me parecem cruciais na carta de Aécio:
– O respeito aos valores democráticos, a ampliação dos espaços de exercício da democracia e o resgate das instituições de Estado.
– A valorização da diversidade sociocultural brasileira e o combate a toda forma de discriminação.
– A reforma política, a começar pelo fim da reeleição para cargos executivos, que tem sido fonte de corrupção e mau uso das instituições de Estado.
– Sermos capazes de entender que, no mundo atual, a ampliação da participação popular no processo deliberativo, através da utilização das redes sociais, de conselhos e das audiências públicas sobre temas importantes, não se choca com os princípios da democracia representativa, que têm que ser preservados.
– Compromissos sociais avançados com a Educação, a Saúde, a Reforma Agrária.
– Prevenção frente a vulnerabilidade da juventude, rejeitando a prevalência da ótica da punição.
– Lei para o Bolsa Família, transformando-o em programa de Estado
– Compromissos socioambientais de desmatamento zero, políticas corretas de Unidades de Conservação, trato adequado da questão energética, com diversificação de fontes e geração distribuída.
– Inédita determinação de preparar o país para enfrentar as mudanças climáticas e fazer a transição para uma economia de baixo carbono, assumindo protagonismo global nessa área.
– Manutenção das conquistas e compromisso de assegurar os direitos indígenas, de comunidades quilombolas e outras populações tradicionais. Manutenção da prerrogativa do Poder Executivo na demarcação de Terras indígenas
– Compromissos com as bases constitucionais da federação, fortalecendo Estados e municípios e colocando o desenvolvimento regional como eixo central da discussão do Pacto Federativo.
Finalmente, destaco e apoio o apelo à união do Brasil e à busca de consenso para construir uma sociedade mais justa, democrática, decente e sustentável.
Entendo que os compromissos assumidos por Aécio são a base sobre a qual o pais pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente e seu futuro.
É preciso, e faço um apelo enfático nesse sentido, que saiamos do território da política destrutiva para conseguir ver com clareza os temas estratégicos para o desenvolvimento do país e com tranquilidade para debatê-los tendo como horizonte o bem comum.
Não podemos mais continuar apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas pela disputa de poder que dividem o Brasil.
O preço a pagar por isso é muito caro: é a estagnação do Brasil, com a retirada da ética das relações políticas.
É a substituição da diversidade pelo estigma, é a substituição da identidade nacional pela identidade partidária raivosa e vingativa.
É ferir de morte nossa democracia.
Chegou o momento de interromper esse caminho suicida e apostar, mais uma vez, na alternância de poder sob a batuta da sociedade, dos interesses do país e do bem comum.
É com esse sentimento que, tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio neste segundo turno.
Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos.
Faço esta declaração como cidadã brasileira independente que continuará livre e coerentemente, suas lutas e batalhas no caminho que escolheu.
Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar.
O que me move é minha consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas.
(Fonte: UOL Eleições)