Advogados pedem revogação da prisão do empresário considerado como o “pai dos pobres” de Salinas

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Empresário tem problemas de saúde, segundo advogado. Antônio Rodrigues é suspeito de tentativa de homicídio e crimes sexuais.

Os advogados, Frederico do Espírito Santo Araújo e Jean Racine, responsáveis pela defesa do empresário Antônio Eustáquio Rodrigues, de 64 anos, conhecido como “O Rei da Cachaça”, entraram nesta quinta-feira, 14 de agosto, com um pedido de revogação da prisão preventiva.

Antônio Rodrigues foi preso na terça-feira (12), foi ouvido na Delegacia de Polícia Civil de Salinas e na manhã de ontem foi transferido para o presídio de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha. O homem foi preso por crime sexual contra dois adolescentes, um garoto de 14 anos e uma garota de 15, e de tentativa de homicídio contra um jovem de 18 anos.

Segundo informações do delegado, depois da prisão do empresário, um adolescente de 13 anos procurou a Delegacia para prestar queixa de abusos cometidos pelo suspeito. Detalhes sobre a nova denúncia não foram reveladas. “O processo corre em sigilo, já que o empresário é personalidade na cidade e se tratam de suspeitas.”, declarou.

Para o advogado de defesa, não há materialidade desses crimes que justifique a prisão preventiva, com isso foi pedida a revogação da prisão para uma pena restritiva a prisão domiciliar ou monitoramento eletrônico, visto que o empresário não seria uma ameaça pública.

“O caso de estupro de vulnerável estava sendo apurado pelo Ministério Público há algum tempo, mas o próprio promotor pediu o arquivamento por ver que não houve este crime. Quanto a suspeita de tentativa de homicídio, trata-se de um desentendimento. Um rapaz teria batido no portão da casa do senhor Toni e uma vizinha teria ouvido ele dizer que iria atropelar o rapaz. Não acreditamos que isso se caracterize como tentativa de homicídio, no máximo uma lesão corporal”, afirma o advogado.

Ainda segundo a defesa, foi apresentado um laudo médico que atesta que Toni Rodrigues sofre de hipertensão grave e precisa ser internado em um hospital.

Cidade está chocada com a prisão

Chocada. Assim está Salinas, com 40 mil habitantes, no Norte de Minas, diante das denúncias contra o empresário Antônio Eustáquio Rodrigues, de 64 anos, criador das marcas Seleta e Boazinha e considerado o maior produtor de cachaça artesanal do país.

(Advogados entraram com pedido de revogação da prisão preventiva – Foto: Divulgação)

Rodrigues é considerado “pai dos pobres” em Salinas, devido a doações diversas que faz à população de baixa renda. Mas o maior temor é de que a repercussão negativa do caso cause prejuízos para a produção de cachaça artesanal, carro-chefe da economia local e responsável por 3,5 mil empregos no município. “Isso provoca impacto negativo no nosso segmento. É preciso cautela”, avalia o presidente da Associação dos Produtores de Cachaça Artesanal de Salinas (Apacs), Eilton Santiago.

“Salinas é uma cidade de paz. Ninguém pode ser culpado antecipadamente. Mas a nossa expectativa é que os fatos sejam esclarecidos pela Justiça”, afirmou o prefeito Joaquim Neres (PT), o Quincas da Ciclodias. “A cidade está chocada”, declarou a secretária municipal de Governo, Patrícia Guimarães.

As denúncias se tornaram o assunto mais comentado nas ruas da cidade, principalmente pelos hábitos diferentes de Rodrigues. Ele é visto como personagem excêntrico e folclórico. Uma ex-funcionária da Seleta conta, por exemplo, que o empresário costuma usar roupas iguais aos uniformes do Exército e da Marinha: “Quando veste a roupa branca da Marinha, quer dizer que ele está em paz. No dia em que veste a roupa do Exército, ninguém nem pode encostar, porque ele está atacado”. Outros moradores revelam que o produtor de cachaça mantém uma boate dentro da sede de sua empresa e cria animais silvestres, como gambás, urubus e cobras.

Investigação contra o empresário

A investigação contra Rodrigues começou há cinco meses, quando foram feitas denúncias anônimas a Policia Civil, ao Ministério Público estadual e ao Conselho Tutelar dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes de Salinas. O delegado garante que “provas contundentes” motivaram a prisão preventiva do empresário.

Depois da prisão por suspeita de tentativa de homicídio e crimes sexuais contra adolescentes, surgiram novas denúncias anônimas contra o produtor de cachaça. A informação foi divulgada ontem à tarde pelo delegado de Salinas, José Eduardo dos Santos, que não dá detalhes porque a investigação é sigilosa. “São denúncias anônimas e não sabemos se são verdadeiras, pois também podem ser feitas por pessoas que querem prejudicar o empresário”, afirmou o policial.

O delegado admitiu, em entrevista coletiva, a existência de um vídeo, usado como prova na acusação de tentativa de homicídio, cuja vítima ainda não foi identificada, mas também não deu detalhes.

Ajuda a população carente

Mesmo com as acusações de pedofilia, Rodrigues é considerado “pai dos pobres” em Salinas. O apelido é devido ao fato de ele distribuir cestas básicas e remédios a famílias de baixa renda do município, além de ajudar na reforma de casas, inclusive de seus funcionários. “Deus que abençoe seu Antônio, onde que ele estiver. É uma excelente pessoa”, afirma a aposentada Geralda Maria de Jesus, de 70 anos, moradora da Vila Canaã, uma das áreas mais carentes de Salinas. Ela diz que recebeu cesta básica e material para construção de um telhado no quintal de sua casa.

Na Vila Canaã, um dos maiores defensores do produtor de cachaça é Luciano Barbosa, de 38, que ficou tetraplégico há 12 anos, depois de sofrer uma queda quando trabalhava como “amansador de burro bravo”. “Tudo que eu preciso, o ‘seu’ Antônio dá para mim. É remédio, água mineral, comida”, conta. “Essas coisas que inventaram contra ele é (sic) tudo mentira”.

A estudante Jaine Amaral, de 21, afirma ser afilhada do produtor de cachaça, de quem também se tornou amiga. “Convivo com ele há mais de seis anos como amiga. Ele nunca tentou nada comigo”, garante. O pai dela, o autônomo Jair Amaral, acrescenta que o empresário sempre tratou sua filha com respeito.

Gleidson de Souza, de 18, é irmão (por parte de pai) do adolescente de 14 anos que acusou Rodrigues de abuso sexual em depoimento. Mas afirma que discorda do meio irmão, que mora em outra casa. “O ‘seu’ Antônio é um homem que gosta de ajudar as pessoas e sempre pergunta aos jovens se estão estudando. Gleison revela que já ganhou presentes do empresário, como uma camisa e uma jaqueta usadas, mas “não houve nada em troca”.

(Publicação baseada em reportagem do G1 e Jornal Estado de Minas)

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