Nos rios mineiros, as vazões registradas em junho e julho são as menores não apenas dos últimos dez anos, mas, em alguns casos, dos últimos cem anos. O alerta é da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que utiliza o monitoramento da rede básica nacional feito pelo Serviço Geológico do Brasil, Agência Nacional de Águas (ANA) e Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) para acompanhar o controle de vazão nas 17 bacias hidrográficas do Estado.
“Passamos por um período crítico. Choveu até 50% menos do que era esperado. Isso reflete nas vazões de água disponíveis em rios e reservatórios”, disse o superintendente de produção e tratamento de água da Copasa na região metropolitana, Nelson Guimarães. Ele reiterou que não há registro de secas tão intensas nos últimos cem anos, mas salientou que não há risco de desabastecimento de água no Estado. “Essa grave situação nos coloca em alerta”.
Os meses de junho e julho apresentaram as piores vazões nas bacias de usinas dos rios mineiros desde 1931, informou a Companhia Energética de MG (Cemig). No rio Grande, em Camargos, no Sul, esse meses foram os piores observados no histórico de 1931 a 2014. No rio São Francisco, em Três Marias, junho e julho de 2014 foram os segundos piores. No rio Doce, em Candonga, no Leste do Estado, esses meses foram os piores desde 1931. No rio Jequitinhonha, em Irapé, junho foi o segundo pior do histórico e julho foi o terceiro pior. No rio Araguari, em Nova Ponte, no Triângulo, junho foi o pior do histórico, e julho foi o segundo pior desde 1931.
As quase 600 estações pluviométricas da Copasa, espalhadas por todas as regiões registraram as menores precipitações dos últimos dez anos. Em várias delas a redução do índice pluviométrico superou os 50%. Por meio desses instrumentos de medição de chuvas, a Copasa emite relatórios para avaliar a situação climatológica.
Rio Doce, em Governador Valadares – Foto: Leonardo Morais/Hoje em Dia
Dados de pluviometria e fluviometria oferecem um parâmetro conhecido como Q 7,10, que mostra a menor vazão dos rios medida durante sete dias seguidos no período de dez anos. Ou seja, o Q 7,10 é a vazão mínima esperada para determinado curso d’água. Conforme Guimarães, em função desses dados históricos, avalia-se que a situação é muito anormal, com vazões bem abaixo das esperadas e forte redução das chuvas.
“O quadro mais preocupante é na bacia do rio Pará, na região Central do Estado”, disse o superintendente da Copasa. Em Pará de Minas, a população enfrentou rodízio no abastecimento de água. Mas a queda acelerada na vazão dos mananciais é verificada também em São Gonçalo do Sapucaí, Rio Paranaíba, Arcos, Santo Antônio do Monte, Monte Belo, Campos Gerais e Andradas.
Campanhas
Diante das limitações impostas pelo período de campanha política, a Copasa tenta obter a aprovação do Tribunal Regional Eleitoral para prosseguir com as campanhas publicitárias de economia nessas cidades, onde a situação tende a tornar-se mais grave em função da queda mais acelerada da vazão dos mananciais.
O professor de engenharia hidráulica da UFMG, Bruno Versiani, vê riscos para o desabastecimento de água e geração de energia. Porém, explicou que é um risco calculado nos vários projetos de captação de água e geração de energia. “Mas cada empresa tem um método de cálculo de vazões. É um risco calculado, o que torna difícil responder se o risco existe mesmo”.
(Hoje em Dia)