Moradores do distrito do Serro estão assustados depois de atentados contra dois ambientalistas.
A instalação de um posto policial foi a principal demanda apresentada durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta quinta-feira (10/7/14) no distrito de Milho Verde, no Serro (Região Central do Estado). A reunião foi realizada em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
O evento foi motivado por denúncias de membros do Instituto Milho Verde. O ambientalista Luiz Fernando Ferreira Leite e o ex-secretário municipal de Meio Ambiente Paulo Sérgio Torres Procópio alegam terem sofrido, em junho deste ano, atentados a bomba em suas casas. Luiz Fernando contou já ter sofrido outro atentado em março, quando foi atingido com dois tiros. Atualmente o ex-secretário se encontra protegido pelo programa federal Defensor de Direitos Humanos.
A reunião, realizada em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, foi motivada por denúncias de membros do Instituto Milho Verde – Foto: Raíla Melo
Paulo Sérgio disse acreditar que os atentados foram motivados pelo trabalho de demarcação do Monumento Natural Várzea do Lajeado e Serra do Raio, no qual ele e Luiz Fernando estiveram diretamente envolvidos. Segundo ele, a comunidade sempre defendeu a criação dessa unidade de conservação. “Mas há muito conflito na delimitação dessa área. As pessoas chegavam lá, cercavam o terreno e moravam em áreas onde a lei municipal não permitia. Refizemos a lei e desde então foram feitas três demarcações. Mesmo assim, muita gente ainda se sente lesada”, relatou.
Representante do Instituto Milho Verde, Áurea Aparecida Junqueira destacou o sentimento de insegurança da comunidade, que já levou ao cancelamento de um tradicional festival. “As pessoas não se sentem mais seguras. Os moradores, que nunca tiveram que se preocupar com trancar as portas, agora têm medo de sair na rua à noite”, afirmou.
Membro do Conselho Municipal de Segurança do Serro, Florinda Augusta da Silva foi taxativa. “Por que não podemos ter um posto policial no distrito, para que o problema seja solucionado definitivamente?”, questionou.
Recursos
Segundo o prefeito do Serro, Epaminondas Pires de Miranda, o posto policial é uma reivindicação antiga da população de Milho Verde. “Já enviamos diversos ofícios e temos pedido a parceria da Polícia Militar quando acontecem eventos em Milho Verde. Estamos adquirindo uma nova viatura para vir para cá com mais agilidade quando necessário. Não queremos que a impunidade se perpetue”, afirmou. O prefeito também disse que vai estudar a possibilidade de alugar uma casa na comunidade para viabilizar a instalação do posto policial de forma mais rápida.
O comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel João Carlos Mesquita de Moraes, explicou que a instalação do posto policial em Milho Verde já estava prevista desde 2005, mas faltam recursos financeiros. “Se decidirem instalar, estamos à disposição para atender a comunidade da forma mais adequada”, disse. Ele fez questão de destacar que o local é muito tranquilo. De acordo com o comandante, o último episódio de violência em Milho Verde foi em 2009, quando foi registrado um homicídio.
Deputados cobram esclarecimentos sobre atentados
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG, deputado Durval Ângelo (PT), cobrou a colaboração da comunidade para o esclarecimento dos atentados. “Um posto policial não vai resolver todos os problemas. Precisamos também que, quem tiver informações sobre esse caso, nos repasse”, pediu.
Parlamentares manifestaram preocupação com os atentados – Foto: Raíla Melo
O vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), manifestou preocupação com os atentados. “O objetivo de atos terroristas como esses é sempre impedir que os cidadãos cobrem seus direitos. Não podemos nos deixar intimidar nem deixar esses criminosos impunes”, defendeu.
O delegado do Serro, Flávio Vinícius Martins de Castro, disse que a Polícia Civil está empenhada na investigação do crime. “Não está sendo fácil, mas queremos uma conclusão rápida. Acreditamos estar caminhando para a solução do caso”, afirmou.
Área de preservação ambiental gera controvérsia
Na fase de debates, muitos moradores relataram que as pessoas mais ricas teriam sido beneficiadas pela última demarcação do Monumento Natural Várzea do Lajeado feita pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). Eles também reclamaram da forma como foram abordados pelos representantes da autarquia.
O diretor de Áreas Protegidas do IEF, Henri Dubois Collet, disse que todos os proprietários de terras tiveram seus direitos respeitados. “Nossa equipe tem condição de reconhecer aqueles que já moravam na área antes da criação do monumento natural. Não permitiremos invasões, pois a lei precisa ser cumprida”, garantiu. Ele se disse disposto a uma quarta demarcação, desde que os moradores possam conviver com as restrições características do monumento natural. “Gado não é permitido dentro da área de preservação porque causa grande degradação ambiental”, avisou.
O deputado Durval Ângelo destacou o papel dos moradores na preservação da natureza em Milho Verde. “Essa demarcação vai ser feita e esperamos que seja definitiva, pois será a quarta. Iremos acompanhar”, afirmou. (ALMG)
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(Fotos: Raíla Melo)