Minas Gerais vai ganhar museu dedicado às artes gráficas

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Restauração de exemplares do jornal Pão de Santo Antônio e recuperação de seu maquinário original já estão em andamento

“Patrimônio gráfico é categoria pouco conhecida, com estatuto pouco definido, mas a ser afirmada pela sua importância. O maquinário de uma tipografia, as caixas de tipos e os cavaletes para montar os textos letra por letra para serem impressos ainda não ganharam o valor histórico que deviam ter, mas não são sucata. Foi com esses equipamentos que se fez a difusão do impresso do século 15 ao 20”, ensina Ana Utsch, professora do curso de conservação e restauração da Escola de Belas-Artes da UFMG.

Argumentos que a pesquisadora apresenta com veemência, já que, no momento, coordena equipe de restauradores, designers, historiadores e museógrafos às voltas com projeto dedicado exatamente ao patrimônio gráfico: conservar, restaurar e reabilitar a antiga tipografia onde foram impressos os jornais Pão de Santo Antônio e A Voz de Diamantina durante 84 anos. A previsão é que as etapas de restauração do acervo documental e do maquinário estejam prontas em setembro.

Trabalho de recuperação de um número do jornal Pão de Santo Antônio, que circulou em Diamantina – Foto: Fábio Martins / Divulgação

À medida que vai sendo concluída a primeira fase do trabalho, em andamento desde fevereiro, começa a ser posta em andamento a segunda etapa. A partir de julho, o ateliê de trabalho dos pesquisadores, que funciona em espaço onde foi criada a publicação, vai ser aberto ao público. Em setembro, começam a ser realizadas no local as oficinas de tipografia. Atividades, explica Ana Utsch, que visam à consolidação de novo espaço cultural, com o objetivo de criar o Museu Casa do Pão de Santo Antônio.

“Não vai ser um museu estático, mas ativo”, conta Ana Utsch. Além de exposições, oficinas e seminários, o público vai poder observar o antigo maquinário funcionando. O museu deve ser aberto em 2015, com o lançamento de publicação contemporânea: um jornal dedicado à memória do jornalismo tipográfico, impresso com a mesma tecnologia, que vai trazer textos (ensaios, anedotas, relatos, crônicas etc.) produzidos especialmente para o projeto.

O fato de o Pão de Santo Antônio ter sido publicado até 1990, em tipografia, é testemunho da resistência de tecnologia que já era incomum nos anos 1980. “Não foi mantida por saudosismo, mas por ser mais barato e viável, já que os responsáveis pela publicação tinham maquinário e recursos humanos para fazer o trabalho”, explica. Já foi realizado um encontro dos tipógrafos e impressores que trabalharam na publicação.

É parte do projeto a digitalização das publicações, que serão disponibilizadas em biblioteca e hemeroteca digital. “Nosso desejo é exaltar um patrimônio documental que conta acontecimentos que pontuaram a história política, social e cultural do Brasil no século 20”, afirma Ana Utsch. Entre os temas que podem ser acompanhados pela publicação, exemplifica, está toda a carreira de Juscelino Kubitschek, o que sinaliza a importância histórica da preservação da memória do jornalismo tipográfico.

TÉCNICA

“Todas as cidades antigas de Minas Gerais tiveram alguma atividade jornalística tipográfica”, garante Ana Utsch, observando que o patrimônio gráfico merece atenção especial. Instituições ou pessoas que têm materiais ou acervos alusivos a esse legado, na opinião da pesquisadora, devem procurar profissionais ou instituições que possam dar apoio técnico para diagnóstico das coleções. “Foi assim que nasceu o projeto Memória do Pão de Santo Antônio”, observa.

A Associação Pão de Santo Antônio procurou a diretoria de Ação Cultural da UFMG, que viabilizou um diagnóstico sobre o estado de conservação dos acervos, feito pela restauradora Janes Mendes Pinto, com o apoio do Museu Vivo Memória Gráfica da UFMG. A partir do resultado foi elaborado projeto de recuperação e resgate patrimonial, que conseguiu recursos em editais de leis de incentivo à cultura.

MEMÓRIA

O jornal Pão de Santo Antônio foi criado em 1906, por associação com o mesmo nome, voltada para a assistência de idosos, que levantou recursos com a publicação. A partir de 1933, mudou de nome e se tornou A voz de Diamantina, veículo noticioso que funcionou até 1990, editado por tipografia. O projeto de restauração trabalha com acervo de jornais e equipamentos, como cavaletes tipográficos de madeira, tipos de chumbo, clichês, matrizes de xilogravura, que quase se perderam, ameaçados por precárias condições de conservação e guarda.

(Estado de Minas)

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