Doações são esperança de vida para pacientes portadores de doenças crônicas. Desde 1992, MG Transplantes já realizou mais de 28 mil operações em Minas
O aposentado Carlos Henrique Fraga de 49 anos, foi submetido a um transplante de fígado há quase três anos. Morador de São João das Missões, cidade a 280 quilômetros de Montes Claros, Carlos Henrique, trabalhava como lavrador e era portador de cirrose hepática. Ele contou que sofreu com a doença durante cinco anos. “Tomava muitos remédios e sentia muitas dores”, explica.
Quando a enfermidade se agravou o aposentado foi encaminhado à Equipe de Transplante de Fígado da Santa Casa de Montes Claros, vinculada à Central de Doação de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO). Carlos Henrique foi internado e, por sorte, a espera por um novo fígado durou apenas 30 dias. “Hoje estou 90% melhor, tomo apenas remédios contra rejeição e, graças a Deus, minha vida mudou”, afirma o aposentado.
O nome de Carlos Henrique consta nas estatísticas do MG Transplantes, entre os pacientes que receberam um novo órgão em Minas. Só as regiões Norte e os Vales do Jequitinhonha e Mucuri contribuíram para a realização de 203 transplantes em Minas em 2013. O índice é 40% superior ao registrado em 2012, quando foram feitas 122 cirurgias para transplantes de órgãos e tecidos, graças às captações de órgãos nessas regiões. De janeiro a abril deste ano foram 58 captações, entre elas 50 córneas, doze rins e cinco fígados.
Equipe da Santa Casa de Montes Claros é a única do interior de MG que realiza transplante de fígado – Foto: CNCD Regiões Norte e Nordeste
Como funciona
A CNCDO de Montes Claros abrange, aproximadamente, 90 municípios, com uma população de 1,9 milhão de pessoas. A equipe, composta por seis médicos, dois psicólogos, enfermeiro, assistente social, é capacitada para atuar nos casos de doações de córneas e de múltiplos órgãos, sendo a única do interior do Estado que atua nos casos de transplante de fígado.
De acordo com a coordenadora da CNCDO das regiões Norte e Nordeste, a médica Sônia Rodrigues, as córneas podem ser retiradas dos doadores até seis horas após o óbito. Nos casos de múltiplos órgãos é necessário a confirmação de morte encefálica. Nas duas situações o hospital deve notificar a equipe da Central do MG Transplante na região que, imediatamente, se dirige à unidade de saúde e faz a abordagem junto à família do possível doador. Se autorizado pelos familiares os órgãos são retirados e distribuídos, respeitando a lista de espera do MG Transplantes e a compatibilidade entre doador e receptor. Segundo a médica as córneas são encaminhadas para o Banco de Olhos em Belo Horizonte.
Conscientização
A coordenadora da Central de Monte Claros explicou que uma das maiores dificuldades para fazer a captação dos órgãos é recusa por parte das famílias. “Além do pânico diante da situação da morte cerebral de um jovem de 23 que sofreu um acidente, por exemplo, existe ainda uma questão cultural que impede a doação. Isto acontece principalmente no Norte e Nordeste de Minas”, afirmou a médica. Sônia Cruz alerta ainda para a importância da conscientização da população.
A médica acrescentou que, apesar dessas dificuldades, o número de captações vem crescendo graças ao esforço das equipes em todas as regiões e à logística eficiente. Segundo ela, só em 2013, a CNCDO de Montes Claros utilizou as aeronaves do Governo quatro vezes para captações de fígado em Passos e Extrema, no Sul de Minas, Governador Valadares, no Leste, e Divinópolis, no Centro-Oeste.
Uma esperança para a professora aposentada Maria Marinete Mendes Ruas, de 56 anos que mora em Ubaí, no Norte do Estado. Ela é portadora de cirrose hepática e entrou na fila de transplante de fígado em janeiro deste ano. Maria Marinete vai todos os meses à Santa Casa de Montes para fazer o controle da doença. “Sofro muito com enjoos e tonturas, mas não perco a fé. A mala está pronta, aguardando o momento da viagem para receber o fígado novo”, relatou a professora.
MG transplantes
O MG Transplantes realizou 2.307 transplantes em 2013 e de janeiro a abril deste ano já são 663. Desde a criação do MG, em 1992, até hoje foram realizados 28.801 transplantes. Minas Gerais ocupa a quarta posição no país em número de notificações para doações de múltiplos órgãos. A taxa de efetivação é de 38%, a maior entre os Estados primeiros colocados e 9% superior à média nacional. (Agência Minas)