O retorno à Brasília, em novembro de 2013, dos restos mortais do ex-presidente da República João Goulart, com honras de chefe de Estado, foi um dos momentos mais emblemáticos no processo de quebra do silêncio sobre os fatos ocorridos durante a Ditadura Militar que vigorou no Brasil entre 1.964 e que, na prática da retomada da democracia no nosso país, terminou com a Assembleia Constituinte em 1987 e que deu origem à Constituição Federal de 1988.
Nos anos 60, no contexto político mundial daquele momento, vários países ocidentais sinalizaram uma guinada à esquerda, com uma ‘pegada’ mais progressista, com garantia dos direitos civis e com o surgimento do feminismo e movimentos em favor dos negros, dos homossexuais e dos trabalhadores, além da consolidação dos movimentos culturais e ideológicos alternativos.
Nesta onda, John Kennedy venceu as eleições de 1960 nos Estados Unidos, a coalizão de centro-esquerda na Itália em 1963 e os trabalhistas no Reino Unido em 1964 se consolidaram e, no Brasil, João Goulart virou o primeiro presidente trabalhista com a renúncia de Jânio Quadros.
Antes disso, Juscelino Kubitschek de Oliveira, o JK, prefeito de Belo Horizonte (1940-1945) e Governador de Minas Gerais (1951-1955), ‘aterrorizou’ o mundo construindo Brasília em tempo recorde, inaugurada em 21 de abril de 1960, quando foi presidente do Brasil entre 1956 e 1961.
Era muita transformação para o conservadorismo da época, a ‘ameaça vermelha’ batia à porta e o Brasil destacava-se como um forte candidato à potência mundial.
Com o assassinato de John Kennedy em 22 de novembro de 1963, durante uma visita a Dallas, no Texas, os Estados Unidos retomaram ainda mais intensamente as agressões militaristas na América Latina, sendo que, anteriormente, Arturo Frondizi Ercoli, Presidente da Argentina entre 1958 e 1962, alertou o diplomata brasileiro Afonso Arinos, durante a Convenção da ONU de 1961, sobre o plano dos EUA de apoiar seguidas ditaduras militares.
E assim foram, regadas a muitos milhares de dólares, conquistadas as traições de vários militares latinos, das classes detentoras do poder econômico, além dos meios de comunicação e vários políticos oportunistas, culminando com a sequência de golpes na América do Sul: Argentina, Equador, Brasil, Bolívia, Peru, Chile e Uruguai.
Pois bem, é preciso lembrar ainda que em 26 de abril de 1965, já no início do Golpe Militar no Brasil, foi inaugurada no Rio de Janeiro a Rede Globo de Televisão, possivelmente um prêmio concedido ao Roberto Marinho pela publicação em seu jornal O Globo, no dia 2 de abril de 1964, do editorial “Ressurge a Democracia” que apoiava os militares.
E nos dias de hoje, qual o reflexo deste período turbulento da política regional?
Novos tempos e velhas praticas é o ambiente em que estamos vivendo atualmente, ou melhor, desde que o atual governo assumiu o poder em 2003 com o Presidente Lula e iniciou uma série de mudanças de viés progressista, incomodando muito os detentores do poder econômico, bem como os meios de comunicação.
Longe de levantar algum tipo de bandeira partidária, mas para elucidar que as mudanças que estão em plena implementação no Brasil são melhores para a grande maioria da parcela da nossa população que estava à margem da sociedade, numa clara exclusão social, tanto econômica quanto de direitos civis e incomodam tanto internamente, mas principalmente, o ambiente externo.
Entenda-se por ambiente externo o jogo da geopolítica, aonde o Brasil deixou de ser o quintal dos EUA, escancaradamente interessados nas potencialidades do nosso país, em especial o petróleo e a Amazônia, e tornou-se um ator global, fortalecendo sua liderança regional e mundial, aliando-se aos Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Nos dias de hoje, a grande mídia nacional continua não divulgando as melhorias do país, tão pouco faz um jornalismo que informe e oriente a população sobre os assuntos que podem gerar um desenvolvimento mais acentuado e equilibrado da nossa sociedade.
Alguém já ouviu falar de Controle Social na tela do Plim Plim? Em orientar e incentivar a participação da população nos conselhos municipais das áreas da Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e outros?
Quando é que a Agricultura Familiar, que produz algo em torno de 65% a 70% do que o brasileiro tem à sua mesa, apareceu em algum telejornal nacional em horário nobre?
E a Petrobrás? Cresceu, entre os anos de 2003 e 2012, a receita em 193,89%, os ativos tiveram um incremento de 397,46% e o patrimônio líquido aumentou 599,72%. Valia R$ 54 bilhões em 2003, hoje vale R$ 215 bilhões, ou seja, praticamente 4 vezes mais, mas mesmo assim é noticiado que está no ‘buraco’, quebrada…
A quem interessa este tipo de sentimento de derrotismo que é disseminado na nossa sociedade, todos os dias, pela grande mídia?
Com certeza não é ao povo brasileiro!
O nosso Brasil possui 5.561 municípios, considerando-se o Distrito Federal. Nada menos que 5.037 ou 90,58% das nossas cidades possuem menos de 50.000 habitantes.
Em Minas Gerais, dos 853 municípios, 793 possuem menos de 50.000 habitantes ou 92,97% do total, sendo que nas regiões do Norte de Minas e dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, existem apenas 11 municípios com mais de 50.000 habitantes.
O que estes números favorecem?
A participação da população nos assuntos do dia a dia de cada município, na fiscalização dos recursos que são transferidos pelo Governo Federal; na participação em conselhos municipais de Saúde, Educação, Desenvolvimento Social ou Desenvolvimento Rural Sustentável; na participação das reuniões das Câmaras de Vereadores, enfim, fazer valer o peso do voto e exercer a cidadania no dia a dia, pois só assim, com a consolidação das instituições e da participação popular, é que estaremos definitivamente livres dos efeitos de 1.964 que ainda persistem na nossa sociedade e são muito sutis, mas absurdamente maléficos.
Forte abraço!
