A tradicional produção de Queijo Minas Artesanal (QMA) na região do Serro, em Minas Gerais, ganha um novo impulso com a distribuição de 60 kits laboratoriais para produtores de 11 municípios. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Emater-MG, a Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (APAQS) e a Prefeitura Municipal do Serro, com o objetivo de aprimorar o controle da qualidade do queijo produzido na região.
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Os kits contêm vidrarias e reagentes para análise da acidez do leite e do pingo, além de instrumentos para medição de volume e umidade das salas de maturação. O financiamento da aquisição foi viabilizado por emendas parlamentares, obtidas pela Prefeitura do Serro e repassadas à APAQS, responsável pela elaboração do projeto com apoio da Emater-MG.
Maior controle na produção
Segundo o extensionista da Rede de Assistência Técnica de Queijos Artesanais, João Paulo Campos, o objetivo do projeto é permitir aos produtores um controle mais preciso dos insumos utilizados, garantindo a qualidade do queijo.
“Através desses equipamentos, os produtores conseguirão analisar a acidez do leite para ver se ele está apto ou não para a produção do queijo. Também poderão avaliar a acidez do pingo coletado (fermento natural essencial para a produção do QMA) e ver se ele está bom para o uso, além de mensurar a quantidade precisa do coalho para evitar a questão do amargor. Com os kits, eles vão ter um maior controle sobre o processo de produção”, explica.
Além do Serro, produtores de Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Materlândia, Paulistas, Sabinópolis, Santo Antônio do Itambé, Serra Azul de Minas e Rio Vermelho foram selecionados para receber os kits. Os beneficiados contarão com a assistência técnica da Emater-MG, que orientará sobre o uso dos equipamentos e a organização das planilhas de acompanhamento.
O produtor Jean Claudio de Siqueira, de Sabinópolis, destaca a importância da iniciativa. “Vamos ter um acompanhamento do pessoal da Emater-MG, que já é uma parceira antiga da gente. Acredito que a qualidade deve vir sempre em primeiro lugar numa queijaria e os kits vão nos ajudar a fazer um produto cada vez melhor.”
Patrimônio reconhecido
O modo de fazer queijo artesanal do Serro foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais em 2002 e, no final de 2024, conquistou o título de Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade pela Unesco.
A coordenadora técnica da Emater-MG, Fernanda Quadros, destaca as características únicas do queijo produzido na região. “O queijo Minas Artesanal do Serro tem uma característica distinta dos outros, porque ele tem um modo de produção um pouco diferente de outras regiões. Os produtores não utilizam o tecido para prensar a massa. Ela é prensada direto na forma, deixando um pouco mais de soro na massa, o que pode influenciar as características sensoriais do queijo. Além disso, as condições de solo, vegetação e clima da região contribuem para atributos únicos do produto.”
Desde 2011, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) concedeu à região a Indicação Geográfica (IG) para o Queijo Minas Artesanal, sendo a primeira do estado a receber esse reconhecimento. Além disso, cada queijo certificado conta com um QR Code e um código numérico, permitindo a rastreabilidade do produto e garantindo sua autenticidade ao consumidor.
Pesquisas e novas estratégias para o setor
Com foco na valorização do produto, os produtores também participam do Programa de Qualidade do Queijo Minas Artesanal da Microrregião do Serro, lançado em 2024. A iniciativa reúne diversas instituições, incluindo Emater-MG, Cooperserro, Sindicato dos Produtores Rurais do Serro, APAQS, Technoserve, Sistema Faemg/Senar, Sebrae e prefeituras locais.
Além disso, a produção de queijo do Serro será objeto de estudo da rede Inovaleite, composta por pesquisadores de universidades brasileiras, como a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisa intitulada “Queijo Minas Artesanal (QMA) do Serro: definição da assinatura de microrganismos e composição, perfil e mitigação de riscos sanitários” pretende ampliar os estudos sobre os insumos utilizados e a sanidade do rebanho.
Com essas ações, a produção de queijo do Serro segue fortalecendo sua tradição, ao mesmo tempo em que adota novas tecnologias para garantir a qualidade e a valorização do produto tanto no Brasil quanto no exterior.