Temporal já deixou mais de 100 mortos em Petrópolis

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O temporal que caiu em Petrópolis, na região serrana fluminense, na última terça-feira (15/2/2022), deixou pelo menos 105 mortos, segundo informações divulgadas hoje (17/2) pela Defesa Civil estadual. A Polícia Civil está trabalhando para agilizar o reconhecimento e a liberação de corpos.

Os bombeiros entraram no terceiro dia de buscas, já que ainda há desaparecidos. Os trabalhos de resgate resultaram no salvamento de 24 pessoas até a noite de ontem. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) preparou uma lista com os nomes de mais de 30 desaparecidos.

Mais de 20 pontos de deslizamento foram registrados em toda a cidade. Apenas no morro da Oficina, no Alto da Serra, um dos locais mais atingidos, dezenas de casas foram soterradas. Há ainda casos de pessoas que foram levadas pelas cheias nas ruas.

Segundo as últimas informações, 372 pessoas tiveram que deixar suas casas e estão acolhidas em abrigos ou casas de parentes e amigos.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, afirmou que essa foi a pior chuva da região desde 1932. Outros desastres já ocorreram na serra fluminense. Em 1988, foram 134 mortos em Petrópolis. Em 2011, 918 pessoas morreram e outras dezenas desapareceram na região serrana, principalmente em Nova Friburgo e Teresópolis.

Em nota, o governador Cláudio Castro diz que se trata de uma situação “quase que de guerra” e que toda a equipe do governo está mobilizada: Corpo de Bombeiros, secretarias e demais órgãos do estado. “Atuamos no resgate e salvamento de vítimas, desobstruindo estradas, atendendo pessoas que perderam seus bens, com medicamentos e remoções, entre outras ações”.

Entidades se mobilizam para ajudar vítimas

Órgãos públicos e associações de diversos setores anunciaram medidas para reunir doações e ajudar no atendimento às vítimas da chuva torrencial que atingiu Petrópolis.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro organizou um mutirão com os juízes para agilizar e ordenar os documentos necessários para a identificação e liberação de corpos no Instituto Médico Legal (IML). Por causa dos danos causados à infraestrutura da cidade, os fóruns não funcionaram nessa quarta-feira, e os prazos processuais foram suspensos.

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro enviou uma unidade móvel com defensores e servidores para o IML com o objetivo de acompanhar o trabalho de identificação dos corpos. Além disso, foram montados postos de atendimento no NPAs Centro (Rua Dr. Nelson de Sá Earp, 254), no Fórum do Centro (Avenida Barão do Rio Branco, 2001), no Fórum de Itaipava (Estrada União e Indústria, 9900, Itaipava) e no NPA de Itaipava (Estrada União e Indústria, 11860, Itaipava). A população também pode buscar orientação da Defensoria Pública por meio do número telefônico 129.

O IML de Petrópolis fica na rua Vigário Corrêa, próximo ao Hospital Alcides Carneiro, no bairro de Corrêas, nº 1361-1351. O acesso à área não foi atingido por deslizamentos e está livre. A população pode entrar em contato com órgão pelo número de telefone (24) 2221-6892. 

A sede da Defensoria Pública, no centro do Rio de Janeiro, está recebendo doações de itens de higiene pessoal, limpeza, alimentos e roupas infantis e para adultos, além de água potável, máscaras e álcool em gel. O endereço é Avenida Marechal Câmara, nº 314, portaria.

Prefeituras de municípios também organizaram pontos de coleta de doações para envio às vítimas das chuvas em Petrópolis. Na capital, doações podem ser entregues nas dez Coordenadorias  de Assistência Social (CAS), das 8h às 17h. O endereço de cada um dos pontos de coleta do município do Rio pode ser consultado na página da Secretaria Municipal de Assistência Social. Em Cabo Frio e Teresópolis, também foram organizados pontos de coleta de doações em diferentes bairros. 

A Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) informou que também está mobilizando seus associados para a doação de alimentos e itens de higiene para os sobreviventes da tragédia. Pessoas que queiram doar podem entrar em contato com a associação por meio do número (21) 2584-6339.

Além da doação de itens básicos, há mobilização também para assistência psicológica aos moradores da cidade. O Sesc RJ disponibilizou o número telefônico (21) 3138-1189 para que familiares e amigos de vítimas, pessoas feridas e outros atingidos busquem atendimento psicológico. Ao entrar em contato, os interessados passam por uma triagem e podem agendar um horário para atendimento. 

O Sesc também está recebendo doações nas duas unidades em Petrópolis (Sesc Nogueira e Sesc Quitandinha), e outras seis unidades do estado: Niterói, Teresópolis, Nova Friburgo, São João de Meriti e no bairro da Tijuca, na capital.

Chuvas mais intensas que em 2011, diz professor

O temporal que caiu na terça-feira (15) em Petrópolis foi muito mais intenso do que o ocorrido em janeiro de 2011. Naquela ocasião, chuvas torrenciais causaram enchentes e deslizamentos de terra na região, afetando principalmente as cidades de Nova Friburgo e Teresópolis e causando a morte de 918 pessoas.

De acordo com o professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em drenagem urbana Matheus Martins, a topografia da cidade é propícia a inundações e deslizamentos, já que fica em uma região de encostas e é cortada por rios, sendo o principal o Rio Piabanhas, afluente do Paraíba do Sul.

Quando chove com mais intensidade, a água desce rápido das encostas, atinge o rio com velocidade, desce o rio com mais velocidade e, quando chega próximo ao centro de Petrópolis, a declividade do rio diminui um pouco e a cheia acaba transbordando para as margens. Isso acontece mais ou menos frequentemente em Petrópolis. Tanto é que, caminhando na avenida no centro de Petrópolis, você vê que a maioria das lojas tem uma comporta que protege contra as cheias”, explicou.

Porém, de acordo com o especialista, a chuva de ontem foi muito mais intensa do que as registradas anteriormente pelos postos de monitoramento pluviométrico, tanto em volume como em velocidade.

“Fazendo uma comparação com 2011, o posto com o índice mais alto registrou quase 282 milímetros em oito horas. Ontem, o posto do Alto da Serra registrou 221 milímetros em quatro horas. Além disso, a intensidade da chuva, que é a velocidade com que a chuva bate no solo, foi muito maior. A maior intensidade registrada em Nova Friburgo em 2011 foi de 88 milímetros por hora, a de Petrópolis, ontem, no posto do Alto da Serra, chegou a quase 200 milímetros por hora, uma intensidade muito grande”, acrescentou.

Para Martins, a tragédia só não foi maior ontem em Petrópolis porque o solo estava relativamente seco, sem registro de chuvas nos dias anteriores, e o temporal se localizou perto do centro da cidade. Em 2011, o temporal ocorreu após um longo período de chuvas, que já havia encharcado o solo em toda a região serrana, e se espalhou por vários municípios.

Segundo o professor, com isso, mesmo que a cidade tivesse feito obras de drenagem após 2011, não seria o suficiente para evitar estragos. “É uma chuva muito fora do comum. Petrópolis pensou em algumas obras que poderiam diminuir um pouco a cheia máxima, mas aí ficou na questão conceitual para depois fazer uma avaliação econômica e política. Pensou-se em um desvio que passaria por baixo da terra, por trás da catedral, para tirar a água do centro mais rapidamente. Isso poderia melhorar um pouco. Mesmo assim, teria sido uma tragédia”, afirmou.

Martins ressaltou que a melhor maneira de a cidade se preparar para chuvas de tal intensidade é uma boa gestão do espaço urbano, para evitar a ocupação de encostas e margens de rios, e o aprimoramento do sistema de alertas da defesa civil. Atualmente, o Sistema de Alertas e Alarmes de Petrópolis dispõe de 18 sirenes, instaladas em comunidades com áreas de risco.

A história da região serrana do estado do Rio é marcada por tragédias envolvendo temporais. Em 1988, após dias ininterruptos de chuva, 134 pessoas morreram em deslizamentos de terra e desabamentos ou levadas pelas águas da enchente em Petrópolis. Centenas de moradores ficaram desabrigados.

Em 2011, além dos 918 mortos, 30 mil pessoas ficaram desalojadas naquela que é considerada uma das maiores tragédias socioambientais do país. Em 2013, Petrópolis sofreu com chuvas intensas em março, que provocaram mais de 100 deslizamentos de terra e deixaram 30 pessoas mortas.

Presidente sobrevoará Petrópolis na sexta-feira

Em entrevista concedida a jornalistas brasileiros em Moscou, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que sobrevoará a cidade de Petrópolis, na sexta-feira (18), após regressar de viagem. Bolsonaro está na Rússia, a convite do presidente Vladimir Putin, e seguirá hoje para uma breve visita à Hungria, onde se encontrará com o primeiro-ministro, Viktor Orbán.

Bolsonaro explicou que houve uma mudança na rota do voo e que pousará no Aeroporto Internacional Tom Jobim-Galeaõ, no Rio de Janeiro, em vez de Brasília.

“Pretendo, ao pousar, sobrevoar a região. Conversei com Paulo Guedes [ministro da Economia] durante a madrugada. Conversei com Rogério Marinho [ministro do Desenvolvimento Regional], que já enviou o seu representante para tratar desses assuntos de calamidades para Petrópolis. Conversei também com o governador Cláudio Castro [do Rio de Janeiro], com Marinho e Guedes [para liberar] um crédito especial, é claro, para atender aos vitimados da catástrofe. Como é praxe nessas questões, há liberação do fundo de garantia [FGTS] e [recursos para] a reconstrução de obras emergenciais para restabelecer a transitabilidade na região”.

O presidente disse ainda que com parte de sua equipe sobrevoará a região em dois helicópteros. O ministro Rogério Marinho acompanhará o presidente. O secretário de Defesa Civil está na cidade. 

“Pretendemos já apresentar ao prefeito [de Petrópolis, Rubens Bomtempo] o que nós podemos oferecer”, disse Bolsonaro.

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