A visibilidade nas listas das piores cidades mineiras em desenvolvimento humano nos últimos anos permitiu que prefeituras captassem verbas para sair do limiar de pobreza
Itinga – Foto: Anael Aguilar
Ocupar a última posição entre as cidades com o pior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Minas Gerais não é motivo de orgulho para os prefeitos, mas pode ser uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida dos moradores. Itinga, no Vale do Jequitinhonha, e Setubinha, no Vale do Mucuri, já estiveram na rabeira do ranking e conseguiram melhorar a qualidade de vida graças à visibilidade que a posição proporciona. O prefeito de São João das Missões, no Norte de Minas, Marcelo Pereira (PT), governa a cidade com o pior IDHM de Minas Gerais e tem esperança de melhorar. “É obrigação dos governos federais e estaduais fazer investimento”, avalia Pereira.
O IDMH de São João das Missões é de 0,529 (entre 0,5 e 0,599 é considerado baixo). Com quase 12 mil habitantes, a maioria índios da etnia xacriabá, e 70% da área pertencente à reserva indígena, o prefeito justifica que muito se deve às limitações. “No território indígena não há comércio, emprego com carteira assinada nem geração de impostos”, argumenta Pereira, que é da etnia xacriabá.
Desde a publicação do último IDHM, divulgado pela Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e Fundação João Pinheiro (FJP), em julho, algumas melhorias são ressaltadas pelo prefeito. Pereira destaca a chegada de mais três médicos, sendo dois cubanos oriundos do programa do governo federal Mais Médicos. “Eles estão agradando e atendem muito bem”, garante o prefeito. Além disso, ele destaca que fechou o ano com R$ 17 milhões em convênios, somados os valores repassados pelos governos federal e estadual. Entre as obras estão a construção de uma escola, um ginásio poliesportivo, verba para perfuração de poços artesianos e compra de cisternas para captação de água da chuva, além de melhorias nas habitações para tentar erradicar a doença de Chagas.
BOM CAMINHO
Se seguir o exemplo de Setubinha, que passou da última posição para a sétima pior colocação, os moradores de São João das Missões poderão perceber o avanço. O prefeito da cidade, João Barbosa, o João do Téo (PSDB), explica que a cidade teve atenção especial, principalmente do governo estadual, comandado por seu partido, por ter o pior IDHM do estado. “O asfalto que liga Setubinha até Novo Cruzeiro melhorou muito a qualidade de vida. Antigamente, os médicos não queriam vir trabalhar aqui, pois a estrada era de terra. Isso ajudou a trazer profissionais de qualidade”, destaca o prefeito, sobre a obra realizada nos últimos anos.
A pavimentação, segundo João do Téo, foi conseguida com convênios e a fragilidade social da cidade ajudou nos pleitos. Além disso, João do Téo destaca que a cidade saltou de uma equipe do Programa Saúde da Família (PSF) para quatro. Outros benefícios citados pelo prefeito foram as melhorias em calçamento, água tratada e construção de banheiro nas residências, dentro do programa Travessia, do governo estadual. “A maior dificuldade é questão da água. Grande parte sofre com a escassez de água”, lamenta o prefeito.
O positivo do negativo
O IDHM de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, saltou de 0,276 (muito baixo) para 0,600 (médio) em um intervalo de 20 anos. O avanço se deve muito à fama conquistada com a baixa qualidade de vida. Itinga foi eleita pelo então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002, como um exemplo a ser melhorado. A cidade foi palco do lançamento do programa Fome Zero, embrião do Bolsa-Família. Lula levou todo o primeiro escalão do governo para a cidade. A viagem, que ficou conhecida como Caravana da Fome, passou também pela favela de palafitas Brasília Teimosa, no Recife (PE), e pela Vila Irmã Dulce, em Teresina (PI).
São João das Missões – Foto: Marcos Michelin
Em 2003, Lula prometeu que construiria a ponte sobre o Rio Jequitinhonha e cumpriu a promessa no ano seguinte. A ponte liga o Centro do município ao Bairro Porto Alegre, facilitando a vida dos moradores, que antes precisavam enfrentar as águas acomodados em canoas ou em balsas.
O prefeito Adhemar Marcos Filho (PSDB) pondera sobre a posição de vitrine da pobreza: “Tem o lado positivo do negativo, mas ninguém queria chegar a essa situação para receber esse benefício”. O prefeito destaca a construção da ponte como um avanço grande para a cidade. “Melhorou o acesso e facilitou as coisas para todos”, garante o tucano.
Outro setor que melhorou nos últimos anos foi a saúde. A cidade conseguiu quatro ambulâncias novas e tem uma equipe de 13 médicos, incluindo os três médicos cubanos do programa Mais Médicos. “A falta de profissionais sempre foi uma reclamação grande da população. Quando assumi a prefeitura havia apenas um com contrato”, afirma o prefeito. Porém, ele entende que para melhorar mais a cidade precisa de investimento para geração de emprego.
Fonte: Jornal Estado de Minas