O sistema de monitoramento ambiental instalado no Parque Estadual da Mata Seca, no município de Manga (Norte de Minas), sob a responsabilidade da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), foi escolhido como fonte de dados sobre condições climáticas para agências internacionais que trabalham com o monitoramento por satélites, entre as quais a Nasa (Agência Especial Americana) e a ESA (Agência Espacial Europeia).
O sistema é um dos 55 sítios de pesquisa em todo mundo incluídos em uma lista do Comitê sobre Satélites de Observação da Terra (Ceos), que abrange também 55 agências internacionais.
Foram instalados na região de mata seca sensores que medem a temperatura e umidade do ar e do solo, radiação solar (fotossinteticamente ativa) e a quantidade de chuvas. A unidade de conservação no Norte de Minas dispõe também de câmeras que acompanham mudanças sazonais da quantidade de folhas na floresta.
Os equipamentos na unidade de conservação do município de Manga foram instalados por meio da Rede Colaborativa de Pesquisas Tropi-Dry (Mata Seca), da qual a Unimontes participa desde 2005, com financiamento do Instituto Interamericano de Pesquisas em Mudanças Globais, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Conta, também, com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pela administração do Parque Estadual da Mata Seca.
Os sistemas funcionam de maneira ininterrupta e são alimentados por pilhas e baterias recarregadas por painéis solares (Foto: Divulgação/Unimontes)
Super-sítios
O professor e pesquisador Mário Marcos do Espírito Santo, coordenador do grupo de pesquisas Tropi-Dry no âmbito da Unimontes, explica que o Comitê sobre Satélites de Observação da Terra relacionou 55 áreas de estudos, os chamados “super-sítios” de pesquisa científica, que serão usados para a validação em terra dos dados obtidos pelas de imagens de satélite, por meio de um sistema chamado LPV (Land Product Validation).
O Ceos tem como missão “garantir a coordenação internacional de programas civis de observação da Terra baseados no espaço e promover o intercâmbio de dados para otimizar os benefícios sociais e informar a tomada de decisões para assegurar um futuro próspero e sustentável para a humanidade”, destaca o professor.
De acordo com Mário Marcos, o comitê elaborou um ranking dos 55 super-sítios de pesquisas e o sistema de monitoramento da Mata Seca ficou em quinto lugar.
“É importante ressaltar que o ranking possui sítios no mundo inteiro, situados na Europa e em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália. Um super-sítio possui instrumentos que medem diversos parâmetros ambientais, como umidade e temperatura do ar, incidência e reflexão da luz solar, estrutura da vegetação e produtividade vegetal, que também podem ser estimados através da análise de imagens de satélites. Como os dados obtidos em campo por esses instrumentos são mais precisos, eles são usados para determinar o quanto os dados obtidos por satélites são confiáveis, um processo chamado de “validação em terra”, explica o pesquisador da Unimontes.
Ele lembra que, para entrar no ranking do Ceos, os super-sítios precisam apresentar alguns requisitos, entre os quais: ser parte de uma rede de pesquisas de longa duração com financiamento e infraestrutura apropriados; realizar medições regulares de múltiplos parâmetros ambientais através de protocolos bem estabelecidos; e possuir os instrumentos adequados para a validação de dados obtidos por satélite. Implantado em 2006, o sistema de monitoramento do Parque Estadual da Mata Seca atende a todos esses requisitos.
Os sistemas funcionam de maneira ininterrupta e são alimentados por pilhas e baterias recarregadas por painéis solares (Foto: Divulgação/Unimontes)
Reconhecimento
O pesquisador da Unimontes destaca que a inclusão do acompanhamento das condições ambientais da mata seca entre as fontes de dados da Nasa e de outras agências internacionais de monitoramento por satélite significa o reconhecimento ao trabalho da Universidade Estadual de Montes Claros e da rede colaborativa Tropi-Dry.
“Esse reconhecimento abre possibilidades para continuar a colaboração da Unimontes com a Universidade de Alberta, que é a instituição coordenadora da rede Tropi-Dry, e conseguir financiamento adicional para continuar a manutenção do super-sítio, que é relativamente dispendiosa”, observa Mário Marcos.
“De uma maneira geral, a existência desse super-sítio dá projeção nacional e internacional às pesquisas da Unimontes e ajuda a alavancar recursos importantes para a infraestrutura da instituição e para a capacitação de pessoal de alto nível”, comenta o coordenador.
Ele ressalta que a colaboração entre a Universidade de Alberta (Canadá) e a Unimontes representou o aporte de cerca de US$ 300 mil em financiamento direto às atividades de pesquisa sobre a mata seca, entre 2006 e 2018, além do empréstimo de diversos equipamentos e intercâmbio de pesquisadores e estudantes.
“Vários alunos de diversos países – Canadá, Costa Rica, Venezuela, México, Cuba, Colômbia e Espanha – vieram à Unimontes para trabalhar nesse super-sítio. Por outro lado, alunos da Unimontes receberam treinamento no Canadá e Costa Rica”, descreve.
Além disso, observa Mário Marcos, “a quantidade de dados coletada é imensa e já foi utilizada para a produção de diversos artigos científicos e dissertações de mestrado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Uso dos Recursos Naturais da Unimontes”. Ele cita a experiência dos ex-alunos do programa Sarah Freitas e Joselândio Santos, que permaneceram seis meses no Canadá, durante o curso de mestrado.
Como é feito o monitoramento
O professor Mário Marcos do Espírito Santo explica que foram instalados equipamentos na região do Parque Estadual da Mata Seca, em Manga, incluindo cinco torres localizadas em pastagens abandonadas e florestas em estágios inicial, intermediário e tardio de regeneração, além de quatro estações climáticas (uma em área aberta e três no sub-bosque de diferentes estágios florestais) e cinco módulos de medição de radiação no sub-bosque (três deles com conexão wireless).
A estrutura de monitoramento é integrada por um armazenador de dados (data logger) e diversos sensores que medem temperatura e umidade do ar e do solo, radiação fotossinteticamente ativa (radiação solar), precipitação, além de câmeras que acompanham mudanças sazonais na quantidade de folhas da floresta.
“Esses sensores podem estar abaixo das copas das árvores – sub-bosque – ou posicionados em torres acima das mesmas e podem transmitir as informações coletadas aos armazenadores de dados por cabos ou por frequência de rádio (conexão wireless)”, esclarece Mário Marcos.
O pesquisador informa que os sistemas funcionam de maneira ininterrupta e são alimentados por pilhas e baterias recarregadas por painéis solares. É necessário que um técnico, geralmente um biólogo, visite o super-sítio regularmente para dar manutenção nos equipamentos e baixar os dados armazenados. Além disso, os dados devem ser processados para alimentar uma base de dados on-line, chamada de Environet (www.enviro-net.org/) e mantida pela Universidade de Alberta, no Canadá.
Mário Marcos lembra, ainda, que os sistemas de monitoramento começaram a ser instalados em 2006 para o desenvolvimento de estudos de longa duração e acompanhamento da regeneração natural das matas secas.
“Com todas as informações do monitoramento, além de validar os dados obtidos por satélites, é possível entender como o microclima da floresta muda à medida que esta se regenera”, destaca.
“Os dados são disponibilizados a outros pesquisadores do projeto, que podem usá-los para entender como variáveis climáticas afetam a flora (produção de folhas, flores e frutos, por exemplo) e a fauna (atividade de microrganismos, insetos, aves e morcegos). Finalmente, a análise dos dados permitirá também verificar a tendência das mudanças climáticas no Norte de Minas Gerais, uma região semiárida sujeita à desertificação”, conclui o pesquisador da Unimontes.
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(Fonte: Agência Minas)