Uniformes e chinelos são os principais itens que fazem parte do “kit preso”. Eles são produzidos por detentos em galpões industriais instalados dentro de presídios e penitenciárias de Minas Gerais.
No ano passado, a economia gerada para o Estado com a fabricação desses produtos, em comparação com preços de mercado, foi de R$ 2.225.713,90.
O principal fator de redução do preço de cada peça está na mão de obra. Os presos recebem por produção: um custo consideravelmente mais baixo do que o de um empregado com carteira de trabalho assinada.
Eles têm direito à remição de pena. Para cada três dias trabalhados, um a menos na condenação.
Cinco cidades fazem parte desse circuito industrial: Itajubá, Pouso Alegre, Caxambu, Formiga, Uberlândia e Muriaé. Quase todo o material é enviado para o Almoxarifado Central, em Belo Horizonte, e distribuído para as unidades prisionais da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap). As cinco primeiras são responsáveis pela produção de uniformes. E Muriaé, pela de chinelos.
Toda pessoa que entra no sstema prisional recebe o “kit preso”, composto por toalha, escova e pasta de dente, sabonete, desodorante, caneca, colher, uniforme e um par de chinelo preto — também chamado de táxi, na gíria dos presos.
O subsecretário de Gestão Administrativa, Logística e Tecnologia, Wilson Gomes, destaca outras vantagens da produção de itens essenciais para os presos, como a agilidade na aquisição e redução dos custos de transporte, porque é feito pela Seap.
“Essas atividades produtivas vão muito além da economia para o Estado. O maior valor agregado está no investimento social para a vida dos sentenciados e dos familiares. Significa investir na qualidade do cumprimento da pena, em saúde física e mental, e ainda na formação de mão de obra especializada”, lembra Gomes.
Nesses galpões, a única forma de identificar que os “funcionários” cumprem pena judicial é o fato de vestirem o uniforme da Seap, pois o ambiente é de uma fábrica: linha de produção com divisão de tarefas, barulho somente das máquinas, concentração e um supervisor de qualidade atento aos acabamentos e metas.
Produção de roupas de cama e de banho em unidade prisional (Divulgação/Seap)
Resultados
As calças, bermudas e camisas produzidas no sistema prisional representaram uma economia de R$ 1.1916.131,90. Em preços de mercado, levando em consideração que as peças seriam adquiridas em grande quantidade, uma calça sairia por R$24,50; uma bermuda, por R$19,90; e uma camiseta, por R$ 8,00.
A compra dessas peças, no ano de 2016, custaria ao Estado R$ 9.768.000,00, mas – produzidas pelos presos – o custo foi de R$ 7.851.868,00.
O Sul de Minas Gerais concentra a maior parte da produção de uniformes. Em Pouso Alegre, por exemplo, trabalham nove detentas que fabricam semanalmente cerca de 1.500 camisetas femininas (o uniforme tem peças diferenciadas para homens e mulheres), sendo recolhidas a cada 40 dias.
“As detentas dominam o processo de forma integral. Elas sabem fazer tudo e estão preparadas para o mercado de trabalho na área de confecção”, garante a diretora de atendimento e ressocialização do Presídio de Pouso Alegre.
O galpão de trabalho tem 300 metros quadrados. Dispõe de cinco máquinas de costura e uma de corte. A fabricação das camisetas começa com o corte do tecido, que chega em bobinas industriais, até a silkagem e embalagem.
Artemisa Alves Fernandes, de 40 anos, é uma das detentas que atuam na fábrica. Ela está há sete meses nas atividades e já ensinou outras presas a operarem as máquinas. O segredo para dominar as etapas da produção das camisetas está na experiência profissional. “Trabalhei mais de 20 anos em confecções e adoro ajudar. Aqui, o tempo passa rápido e me sinto útil”, conta entusiasmada.
Calçados e limpeza
Em Muriaé, na Zona da Mata, a Penitenciária Doutor Manoel Martins Lisboa é responsável pela fabricação dos chinelos. Dez presos entregam cerca de 250 pares por dia, nos tamanhos 37 a 42. Ao local chegam placas de borracha que são marcadas, cortadas e furadas. Em seguida, os chinelos recebem as correias de borracha e são embalados.
A unidade também produz vassouras e rodos, utilizados na limpeza das unidades prisionais. São aproximadamente 2.000 peças por mês, feitas de piaçava e garrafas PET recicladas.
Lençóis
As roupas de cama utilizadas nos beliches das unidades prisionais são confeccionadas no Presídio Floramar, em Divinópolis, Território Oeste. Dezenove homens e oito mulheres produzem cerca de 11 mil peças por mês, em dois galpões separados. O masculino tem 122 metros quadrados, e o feminino, 43 metros qudrados.
Quem cuida da manutenção das 40 máquinas de costura – divididas em reta, galoneira e overloque – é o preso José Adelmo Faria de Carvalho, de 47 anos. Ele está há dois anos na produção dos lençóis e, além de ter nascido em uma família de costureiras, já foi proprietário de confecção. “Consigo tempo para fazer a minha parte na produção e ainda consertar as máquinas quando é necessário”, garante José Adelmo.
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(Fonte: Agência Minas)