Em sua casa em Belo Horizonte, Euziléia Oliveira, 48 anos, dedica seus dias ao ofício aprendido com suas tias ainda quando criança: o artesanato. “Desde pequena aprendi a dar importância aos trabalhos manuais, pois tive uma criação mais antiquada, na qual as mulheres tinham que ser prendadas e fazer de tudo”, conta. “Porém, descobri assim uma paixão, principalmente pelas tintas e pincéis. Tenho uma enorme satisfação de poder transformar materiais simples em arte, em algo funcional e belo”, completa.
Euziléia é uma entre milhares de pessoas em Minas Gerais que vivem da renda obtida com o artesanato. Estima-se que existam 300 mil artesãos no estado, onde a cadeia produtiva movimenta cerca de R$ 2,2 bilhões por ano. Porém, destes, apenas cerca de 2.900 estão cadastrados no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB) e possuem a Carteira Nacional do Artesão e do Trabalhador Manual, documento que identifica os profissionais.
“Este ano, nossa prioridade é cadastrar o artesão mineiro. Isso é importante porque, quanto mais profissionais tiverem a carteira, mais saberemos a real situação da categoria, o que amplia nosso olhar para as políticas públicas necessárias. Poderemos fazer um raio-x da atividade em Minas Gerais”, diz Thiago Tomaz Chaveiro, coordenador de Artesanato do Núcleo de Artesanato da Secretaria de Estado Extraordinária de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (Seedif).
O documento é previsto pela portaria nº 14, de 16 de abril de 2012, dentro do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), e, em Minas Gerais, o órgão responsável pelo cadastramento é a Secretaria.
Um importante benefício da carteira é que ela facilita a participação dos artesãos em eventos especializados, como feiras, exposições, treinamentos e outros. “Alguns destes eventos já exigem o documento”, diz Chaveiro. Ainda segundo ele, algumas operadoras de cartão de crédito oferecem, ainda, taxas diferenciadas para os artesãos devidamente identificados.
Para Euziléia, que fez o cadastro no mês passado, a carteira se traduz na expectativa de aumentar sua renda. “Além de conseguir participar de mais eventos de grande porte, tenho interesse em oferecer oficinas e workshops, então acredito que ela dará mais credibilidade ao meu trabalho”, diz.
Artesã há dez anos, seu carro chefe é a pintura em cabaça e gesso. “Meu objetivo é criar peças diferentes e únicas. Transformo os materiais em bonecas, animais, fruteiras, luminárias e o que mais a minha criatividade permitir”, conta ela, que já tem cartela de clientes formada e vende para todo o país.
Artesanato mineiro movimenta cerca de R$ 2,2 bi por ano (Gláucia Rodrigues/Agência Minas)
Cadastro
Para fazer a Carteira Nacional do Artesão, o profissional deve fazer um pré-agendamento na Secretaria de Estado Extraordinária de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (Seedif), no Núcleo de Artesanato, pelo telefone (31) 3915-2938. O cadastro é feito às terças e quintas, mas, em caso de necessidade, a Secretaria pode realizar o atendimento em outros dias da semana.
O artesão precisa levar RG, CPF, um comprovante de residência, uma foto 3×4 colorida e, mediante o cadastramento, é necessário fazer uma prova de habilidade manual. “Este procedimento é realizado exatamente para proteger a categoria, barrando pessoas que querem se passar por artesãos”, explica Chaveiro.
Em virtude do dia Nacional do Artesão, celebrado no próximo domingo (19/3), a Seedif vai promover, neste dia, no Museu Abílio Barreto, um mutirão de cadastramento para obtenção do documento. Para participar, o artesão precisa preencher pré-cadastro, pela internet, no link https://goo.gl/forms/axcvtniNLiO0wKLn1. As vagas são limitadas.
Euziléia disse que a carteira se traduz na expectativa de aumentar sua renda (Agência Minas)
Comercialização
Rica culturalmente, conhecida mundialmente e importante economicamente, a atividade conta com apoio do Governo de Minas Gerais, por meio da Seedif, que monitora, incentiva, cadastra artesãos e realiza feiras nacionais e internacionais para promover o artesanato mineiro.
De acordo com Thiago Tomaz Chaveiro, o Núcleo de Artesanato trabalha para inserir os trabalhadores em eventos do setor e em iniciativas de desenvolvimento do artesanato. “Fazemos levantamento de canais de comercialização, oferecemos ajuda para possibilitar a participação dos artesãos em feiras e também trabalhamos na capacitação e qualificação destes profissionais, com a ajuda de entidades parceiras, como o Sebrae-MG”, explica. “A maior dificuldade hoje é o escoamento da produção e, por isso, a demanda é pela abertura desses canais”, completa.
Natural de Cipotânea, no território Vertentes, Cecília Miranda, 50 anos, faz parte da Associação das Artesãs da cidade e marca presença em eventos em todo o país. “Nossa matéria-prima é a palha de milho, e fazemos cesteria em geral, baús, fruteiras, bolsas, entre outros produtos”, conta.
Registrada há quinze anos, a Associação, composta por cerca de 40 famílias, tem uma loja no centro da cidade e também trabalha sob encomenda. “Nós devemos muito ao Governo e ao Sebrae-MG, que nos leva para todas essas feiras importantes. É nesses eventos que a gente faz contatos para futuras vendas e pedidos”, diz a artesã, que fez a Carteira Nacional do Artesão no ano passado.
Núcleo de Artesanato trabalha para inserir os trabalhadores em eventos (Agência Minas)
Top 100 do artesanato
Prova da força do artesanato mineiro é que Minas Gerais dominou o “Oscar brasileiro do artesanato”. Dos cem melhores empreendimentos premiados na 4ª edição do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato nos 27 Estados, 13 são mineiros. Além disso, Minas Gerais teve o maior número de representantes na premiação. Dos 2.145 artesãos inscritos, 309 foram do estado. A cerimônia de premiação será realizada no dia 23 de novembro, no Rio de Janeiro.
De Três Corações, no território Sul, Osvaldo Inácio de Souza, 61 anos, não esperava ser premiado. Ele trabalha há vinte e sete anos com peças de decoração em madeira. “Quando criança, observava um senhor vizinho meu que era artesão. Comecei a aprender com ele, fui modificando até chegar no meu modelo”, relata.
“Minha paixão é o artesanato. Vou moldando as peças, uma a uma, com o canivete, faço animais em miniatura, carrinhos de boi, entre outras. Participo de muitas feiras com ajuda do Governo, mas não esperava esse reconhecimento do prêmio. Fiquei muito satisfeito”, comemora.
Os vencedores mineiros foram: Cooperativa Mariense de Artesanato / Gente de Fibra (Maria da Fé), Brasil Pitanga Arte Rustica (Carangola), Fio Brasil (Muzambinho), Cooperativa de Trabalho, Produção e Comercialização, Cooperativa de Trabalho, Produção e Comercialização (Betim), Essamulher Acessórios de Moda (Belo Horizonte) , José Roberto dos Santos (Antonio Carlos), Fernanda de Castro Carvalho (Prados), Maria de Lourdes Rosa de Freitas (Ouro Preto), Divino Ofhício Artesanato (Lagoa Dourada), João Batista Ferreira Anjos Anjos (Santo Antônio do Leite), Mario Pereira Teles (Divinópolis), Moises Silva (Tiradentes) e Osvaldo Inácio de Souza (Três Corações).
Além do reconhecimento nacional, os vencedores terão oportunidade de expor seus produtos em quatro eventos comerciais de expressão nacional. Eles poderão ainda usar o selo “Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato – 4ª Edição” até o final de 2019 e divulgar seus trabalhos no catálogo da premiação.
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(Fonte: Agência Minas)