Tendo como passaporte o programa Música Minas 2016, da Secretaria de Estado de Cultura, o som de Minas Gerais ecoou pelos cinco continentes, em 20 cidades de 13 países. Entre os destinos estavam China, Suíça, Espanha, Uruguai, Argentina, Grécia, República Tcheca e Reino Unido.
Nesta edição, o repasse financeiro direto, em oito meses de execução, foi concedido, a título de ajuda de custo, para despesas com passagens, seguros de viagem, hospedagem e alimentação. Entre as propostas, circularam os diversos estilos e gêneros musicais, como grupos de samba, MPB, baião, músicas tradicionais e até mesmo grupos de jazz.
Entre os que foram contemplados estão oito jovens, de 16 a 18 anos, sete meninas e um menino, que saíram de Itabira no dia 15 de setembro para embarcar rumo a Berlim, na Alemanha, junto ao seu professor de música Bruno Messias, 23 anos, e com suas rabecas feitas de lata.
Por lá, passaram dez dias compartilhando sons e afetos com jovens refugiados de mais de dez países que migravam da situação extrema de guerra e instabilidade social vividas em suas respectivas nações.
A experiência vivida pelo projeto Meninos das Minas, durante a última edição do festival alemão Samba Syndrom, é um dos vários capítulos do diário de viagens do edital de intercâmbio do programa Música Minas 2016. Diante de experiências como essa, a cultura se escancara como um grande espaço de inclusão.
Projeto Meninos das Minas é um dos participantes do programa estadual (Divulgação/SEC)
Encontro de batuques
Uma das artimanhas do Música Minas é encarar a arte para além da técnica, como algo que se retroalimenta de vivências sociais. Com tal convicção, Bruno Messias dos Santos saiu do bairro Jardim Teresópolis, em Betim, para participar do projeto Meninos das Minas em Itabira. A precoce desenvoltura do professor especialista em tambor mineiro o possibilitou a guiar seus alunos na viagem à Alemanha.
“Com a dificuldade da língua, a única forma de comunicação entre os meninos e os refugiados era a música. Eles puderam conhecer instrumentos de percussão árabe, como a arabuca e as congas e atabaques do Senegal. Da mesma forma, os jovens de lá puderam se aproximar da cultura de raiz mineira, com o som peculiar dos nossos tambores”, conta Bruno.
Além dos mineiros, participaram do Samba Syndrom representantes do maracatu do norte brasileiro e do samba carioca. O encontro pluricultural ultrapassou os momentos musicais, como conta Messias. “Os nossos meninos puderam enxergar de perto a questão do respeito às diferenças. Na hora do jantar, eles se sentavam descalços em tapetes espalhados pelo chão juntos aos árabes”.
Os jovens que andaram a pé por três meses para fugir de seu país e conseguir novas oportunidades fizeram da experiência dos Meninas de Minas um momento de felicidade e muito afeto.
“O que foi mais legal é que eles precisavam de abraço. Mesmo saindo de uma imensa dificuldade eles levantavam nosso astral, o tempo todo sorrindo. Agradecemos ao Música Minas, sem o programa não seria possível este encontro de realidades”, diz Bruno, que pretende voltar para Alemanha para buscar outras influências e possibilidades.
Jordan Alexander, de Ipatinga (Divulgação/SEC)
Talento familiar
Ainda nesta edição, o Música Minas contemplou dois jovens irmãos pianistas de Ipatinga, Jordan Alexander, 15 anos, e a sua irmã Jennifer Alexandra, 17 anos. Jordan viajou com seu pai e professor Alessandro Rodrigues, em junho, para participar da 6º Competição Internacional de Piano, em Milão, onde conquistou o terceiro lugar. Já Jennifer, partiu para Viena no mês de agosto para se apresentar junto a sua mestra, Junia Canton Rocha, no 8º Competição Internacional de Piano Rosário Marciano.
“Desde os seis anos, eles iam aos meus ensaios e a resposta era muito rápida. Vi um diferencial neles e apostei neste potencial enorme. Acredito que estas viagens são grandes oportunidades de crescimento para eles, a partir do contato com novos repertórios, o aprendizado é facilitado”, comenta Alessandro, 40 anos.
Jennifer Alexandra, de Ipatinga (Divulgação/SEC)
Jordan foi reconhecido por uma banca de jurados com especialistas italianos, belga, russos. “Na minha sala muita gente toca violão, mas poucos conhecem a música que eu faço. Agradeço a oportunidade que o Música Minas me deu de melhorar o meu desempenho. Até hoje, a única ajuda que a gente teve foi deste programa que foi fundamental por me proporcionar momentos que vou lembrar para o resto da vida”, diz.
Jennifer volta com novos planos de Viena, cidade conhecida como o berço da música erudita. “Nessa viagem eu toquei no mesmo teatro que Brahms já esteve. Isso é demais. Viena respira música erudita, que toca na rádio. Sinto uma carência muito grande de música clássica em Ipatinga. Quero estudar fora, voltar e levar para outras pessoas as minhas experiências”, afirma.
Estabilidade
Voltamos ao início do ano para contar a história de Leonardo Bruno Aguiar de Assis, que é de Ouro Branco e atualmente vive na Alemanha, graças ao Música Minas. Em 16 de janeiro, viajou para realizar uma prova de aptidão na Universidade de Música e Drama de Rostock, em Mecklenburg-Vorpommern. Na oportunidade, foi selecionado e hoje conta com bolsa de estudo de bacharelado para desenvolver nos próximos seis anos estudos focados em contrabaixo.
“Quando vi o resultado tive que me reorganizar por completo, pois viveria por anos em um país que pensava só visitar por duas semanas. Desde que cheguei tive a oportunidade de aprender com excelentes professores, tocar em ótimas orquestras e assistir concertos excepcionais” conta Leonardo, que iniciou os seus estudos na Casa de Música de Ouro Branco.
O plano é pegar experiência europeia para investir em composição. “Infelizmente não há muitas obras para contrabaixo feitas por compositores mineiros. Esperamos que a nova geração nos brinde com novas peças para nosso repertório 100% mineiro. Mas de toda forma, o futuro para a música no Brasil é promissor. Creio que brevemente haverá um cenário cultural na música clássica mais amplo e rico em Minas”, comenta o músico, que teve a sua primeira experiência internacional viabilizada pelo Programa Música Minas.
Música Minas 2016
O segmento musical mineiro independente e autoral ganha, por meio do Música Minas, incentivo, impulso e fôlego para disseminar sua vocação pelo Brasil e pelos cinco continentes. A Secretaria de Estado de Cultura (SEC) lançou em março o edital, com estímulos que totalizam R$ 700 mil.
Participam deste programa contínuo da SEC artistas integrantes da cadeia criativa e produtiva da música, com residência permanente em Minas Gerais. Os inscritos podem apresentar trabalho próprio, inclusive quando em participação em evento de reconhecimento ao trabalho desenvolvido, como premiações e homenagens; realizar residência artística; participar de cursos ou atividades de capacitação na área da música.
(Agência Minas)
Como faço para participar do programa sons de minas. Antecipadamente agradeço.