A um mês do aniversário de 100 anos, morador de rua mais velho de BH diz que quer viver ao menos mais 60

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No dia 8 de dezembro, aniversário de Belo Horizonte, Joel Pereira Gonçalves completará 100 anos. Os 99 vividos até agora foram nas ruas, e certidão de nascimento só foi emitida em agosto deste ano. Ele diz ter nascido embaixo do Viaduto Santa Tereza e a idade, autodeclarada, assim como os nomes dos pais, foram reconhecidos pelas autoridades.

Antes disso, ele conta que passou um século invisível, compondo o grupo de R$ 2,5 milhões de brasileiros, 14.232 só na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sem registro civil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nos arquivos da Prefeitura de BH, o andarilho mais idoso atendido pelas políticas voltadas para esse público na cidade tem 81 anos, o que torna seu Joel o morador em situação de rua mais velho da capital mineira.

Morando embaixo de um viaduto, ele toma banho gelado em um posto de gasolina. O almoço e a janta são por conta do dono de um restaurante. Apesar das dificuldades, Joel, que não bebe, apresenta grande lucidez.

Joel Pereira Gonçalves completará 100 anos (Foto: Edilene Lopes/Itatiaia)

Ele afirma que a mãe, que também morava na rua, morreu quando ele tinha 9 anos, após ser picada por um escorpião. “Tinha uma dona que morava no viaduto também. Ela que acabou de cuidar de mim, me dava banho, me dava comida.”

Aos 18 anos, ele se envolveu com uma mulher de “40 e poucos”, com quem ele diz que teve dois filhos. “Ela foi embora e eu fiquei sozinho pelo mundo. Comecei a andar pela rua pedindo comida, passando frio, sede, passando por muita humilhação”, relata.

Joel lembra que o dia mais difícil de sua vida foi quando uma enchente no Rio Paraopeba, em Igarapé, na Grande BH, destruiu a casa onde morava, cedida por um homem. “Levou tudo: fogão, cama, mesa”. E ele quase se afogou. Foi salvo ao se agarrar em uma corda jogada por um rapaz.

“O dia mais feliz foi quando eu encontrei o Luiz, porque ele se interessou por mim”, destaca, referindo-se a Luiz Antônio Zanon, criador do jornal Mosaico, que conheceu a história de Joel e o ajudou a tirar os documentos.

O morador de rua afirma que a vida é boa e que espera ter uma longa caminhada pela frente. “Se Deus tomar conta de mim, olhar para mim e eu merecer, [quero viver] ao menos uns 160 anos”, almeja. Coisa ruim para Joel é sábado e domingo, porque se sente sozinho. “É a coisa mais triste do mundo. Você não vê ninguém na rua”, lamenta ele, que tem o sonho de conseguir uma casa.

Um outro desejo mais fácil será realizado. Joel quer assistir a um jogo do América, time do coração. Ao conhecer a história do morador de rua, o deputado estadual e um dos presidentes do clube, Alencar da Silveira Júnior, comprometeu-se a levá-lo ao estádio Independência.

Além disso, Zanon planeja uma festa para comemorar o aniversário de Joel. “O que eu acho que é mais necessário para ele agora é conseguir a aposentadoria. No dia 8 de dezembro, quem quiser participar, estou querendo fazer uma festa para ele, com os moradores de rua e muita gente mais”, revela.

(Fonte: Rádio Itatiaia)

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