Associação do Câncer arrecadava R$ 1 milhão mensalmente e destinava apenas 15% aos pacientes

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O Ministério Público (MP) em Ipatinga informou nessa terça-feira (27) que de R$ 1 milhão arrecadado mensalmente pela Associação de Assistência às Pessoas com Câncer (AAPEC), apenas 15% era destinado para o tratamento dos pacientes. De acordo com o MP, um núcleo criminoso operava o esquema de dentro da administração da entidade, sendo que os recursos públicos e privados captados por doações eram desviados em favor dos autores.

No dia 9 de julho deste ano, oito pessoas foram presas durante a operação Carcinoma, que investigou o esquema criminoso instalado na administração da AAPEC. Em agosto, na segunda fase da operação, outras três também foram detidas, apontadas pelo Ministério Público Estadual como participantes do crime. Na sexta-feira (23), 13 pessoas foram denunciadas à Justiça.

“Apuramos que somente uma pequena parte do dinheiro, cerca de 15% do que era arrecadado pela AAPEC, era utilizado para o tratamento de doentes de câncer, o que dá em torno de R$ 150 mil por mês. Sabemos também que existe uma quantia que era utilizada para o pagamento dos funcionários, já o restante, ou seja, a maior parte, era usada para gastos particulares dos envolvidos”, explicou o promotor Bruno Schiavo.

Ainda de acordo com o promotor, o dinheiro era usado para pagar multas de carros, viagens, contas de luz, água, telefone, shows, tratamento de beleza, cursos, construções de casas e reformas. “E para justificar o uso do dinheiro, eles conseguiam notas fiscais ou comprovantes falsos de vendas em restaurantes, lanchonetes, postos de combustíveis”, afirma.

Empresas de fachada

Schiavo explicou que além das notas e comprovantes falsos, os administradores também criavam empresas que prestavam serviços exclusivos para AAPEC, que serviam para lavagem de dinheiro. O promotor informou que 70% do dinheiro arrecado pela associação era destinado à empresa Global, pertencente ao filho da presidente da associação.

Segundo o MP, o dinheiro da AAPEC saía para duas empresas, a Global e MLC, empresas criadas para atender, exclusivamente, à associação. A Global prestava serviços de telemarketing e a outra de cobranças. Mas, segundo a apuração, nenhuma das duas empresas possuíam funcionários próprios; todos os prestadores de serviços eram pagos pela associação e contratados diretamente pela AAPEC.

“Para a MLC, a AAPEC pagava R$ 20 mil. Esse dinheiro era repartido entre a presidente da associação e um sócio da empresa. O dinheiro repassado a esta empresa era declarado na AAPEC como não recebido pelos motoboys, ou seja, a associação dizia que não recebia parte do dinheiro das doações que os motoboys saíam para buscar”, contou.

Já para a empresa Global eram repassados cerca de R$ 120 mil. “As contas da Global eram pagas pela AAPEC, e o dinheiro dessas contas eram transformados em crédito para o filho e a nora da presidente”, informou.

A promotoria informou que os denunciados podem responder pelos crimes de estelionato, associação criminosa, organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato e crime contra a economia popular. “Eles foram presos, mas a Justiça entendeu que eles podem responder o processo criminoso em liberdade. Porém, se forem condenados, eles podem voltar a ser privados da liberdade”, explicou.

Continuidade nos trabalhos

O promotor Francisco Ângelo disse que desde o início da operação, os funcionários da AAPEC estão sem receber. As atividades da associação foram interrompidas.

“As pessoas pararam de doar e também não têm como movimentar a associação com a diretoria sendo investigada. Nós nomeamos duas pessoas para se tornarem presidente da AAPEC, porém nenhum dos dois permaneceram no cargo. Vamos precisar ajuizar uma ação civil para reorganizar o funcionamento da associação”, diz.

Ângelo disse que também os funcionários da associação estão reunidos pensando em uma forma de dar continuidade ao trabalho prestado pela AAPEC. “Eles podem procurar um outro nome e fazer a coisa acontecer de forma transparente. Se houver um interesse das pessoas da cidade e também de empresas sérias, a entidade pode voltar o funcionamento”, finalizou.

(Fonte: G1 dos Vales/Patrícia Belo)

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