Antropologia Forense da Polícia Civil de Minas Gerais é referência nacional em Medicina-Legal

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Um dos trabalhos investigativos mais importantes realizados pela Polícia Civil de Minas Gerais é o de antropologia forense, que realiza exames em ossadas, corpos carbonizados e segmentos corpóreos, uma ciência que contribui decisivamente para elucidar crimes. O serviço exige grande capacitação, conhecimento e curiosidade científica, para atender a toda a demanda do estado.

Quando um cadáver não pode ser identificado, ou se apresenta como ossada, não sendo possível a identificação por meio de impressões digitais, documentação ou características físicas, o Serviço de Antropologia é acionado para fazer o reconhecimento do corpo em quatro passos: identificação da espécie, perfil antropológico, causa mortis e reconhecimento.

Assim que o Instituto Médico-Legal (IML) recebe uma ossada, a equipe de antropologia inicia os exames. Inicialmente, é preciso diferenciar se aqueles ossos são de um esqueleto humano ou de algum animal. A distinção é feita pelo exame das dimensões e caracteres morfológicos.

Sendo humano, o próximo passo é definir o perfil antropológico do cadáver, sexo, etnia, faixa etária e estatura, que vão delinear os contornos do indivíduo. O esqueleto do homem é geralmente maior e mais resistente. A altura do indivíduo pode ser estimada a partir das dimensões dos ossos longos, como fêmur e tíbia, comparando-os com tabelas e índices científicos.

Para determinação da etnia, observa-se a forma do crânio, mensurando os índices cranianos, ângulo facial e abertura nasal. A idade pode ser percebida analisando os dentes, que têm uma época própria para o surgimento e ritmo de crescimento próprio, levando-se em conta a primeira e a segunda dentições, a partir dos cinco meses de nascido. Também é possível estimar a idade por meio da mineralização dos ossos da mão ou das suturas cranianas que vão desaparecendo com o tempo.

Assim que o Instituto Médico-Legal (IML) recebe uma ossada, a equipe de antropologia inicia os exames – Foto: Divulgação / Polícia Civil de Minas Gerais

Causa da morte

Em uma ossada ou corpo carbonizado é quase sempre impossível definir a causa mortis por não restar vestígios aparentes. Somente quando restarem lesões profundas, traumas cranianos e perfurações contundentes que se pode sugerir algo. O tempo de morte também é bastante difícil, pois depende, sobretudo, de agentes externos ao corpo, como clima e ambiente.

A partir do perfil antropológico do indivíduo, segue-se a parte mais importante desse processo: o reconhecimento do cadáver, procurando por coincidências e elementos que podem ser verificadas no corpo em análise e também nos relatos, documentos e imagens sobre a pessoa quando viva.

“Quando as coincidências tendem ao infinito, sem qualquer discordância, podem-se criar elementos de convicção para a autoridade policial reconhecer o cadáver examinado”, explica o chefe do Serviço de Antropologia do Instituto Médico-Legal (IML), médico-legista Márcio Cardoso.

Cardoso acrescenta que a excelência do serviço antropológico da Polícia Civil se dá pela capacitação, pelo conhecimento e pela curiosidade da equipe de legistas empenhada na atividade, com décadas de experiência acumulada.

“O reconhecimento de um cadáver é, sobretudo, muito importante para a família, que poderá sepultar um parente que desaparecera, viver o luto adequadamente e resolver questões civis como herança, seguros e benefícios”, completa a diretora do IML, médica-legista Lena Tereza de Melo Lapertosa.

Atuação destacada

Uma as situações em que a antropologia forense foi determinante, foi no caso de Marcos Antunes Trigueiro, o “maníaco de Contagem”, condenado a mais de 99 anos de prisão. O caso teve grande repercussão pela série de furtos, estupros e assassinatos praticados por Trigueiro.

Em um dos cadáveres encontrados, a perícia achou um cadarço branco de calçado e um segmento de fio telefônico enrolados na região do pescoço da vítima. Os diâmetros das circunferências do cadarço e do fio telefônico eram de 90 mm, menores que o do pescoço de um indivíduo adulto. Observando a possível constrição no pescoço, foi possível discutir uma possível causa da morte por estrangulamento. A observação colaborou com os achados da investigação criminal, que culminou com a confissão e condenação do acusado.

Em um outro caso em que a ação foi determinante, uma ossada foi achada em um município da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O Serviço de Antropologia da Polícia Civil que iniciou os trabalhos para delinear os contornos do indivíduo: sexo feminino, 70 a 75 anos, afrodescendente e 1,60 metro de altura.

O registro de desaparecidos de município apontava para uma pessoa com o mesmo perfil antropológico que desaparecera naquela região. Uma senhora de 71 anos que sofria de mal de Alzheimer, fora a uma quermesse e desaparecera. A família foi acionada e trouxe uma diversidade de exames de imagem, como radiografia do tórax e ressonância do crânio.

A radiografia apontava para três “bicos de papagaio” expressivos. Essas mesmas deformidades, com idêntica formação, foram encontradas na coluna vertebral do esqueleto examinado. A morfologia era vista e repetida em cada vértebra analisada.

A partir da tomografia computadorizada era possível visualizar os contornos dos seios paranasais (cavidades), com formações únicas em cada indivíduo. Comparando essas imagens com as peculiaridades do crânio em estudo, percebiam-se os mesmos contornos. Com esse estudo científico detalhado, foi possível reconhecer a partir de uma ossada a tal senhora desaparecida. (Agência Minas)

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