Samu desafia barreiras geográficas para prestar atendimento no Norte de Minas

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Apesar de dificuldades como baixa densidade demográfica, grandes distâncias entre os municípios e extenso trecho cortado pelo Rio São Francisco, unidades do Samu garantem acesso ao atendimento pré-hospitalar em toda região

Desde a regionalização do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no Norte de Minas Gerais, em 2009, um dos grandes desafios enfrentados pelo serviço foi o de vencer as barreiras geográficas para realizar o atendimento em todos os pontos da região. Além da baixa densidade geográfica e da grande distância entre os municípios, a região tem cerca de 500 quilômetros cortados pelo rio São Francisco, dificultando o acesso da ambulância em alguns trechos e comunidades ribeirinhas.

Samu Macro Norte desafia barreiras geográficas – Foto: Jerúsia Arruda/Divulgação

Mas um atendimento realizado pela unidade do Samu de Ibiaí, cidade localizada às margens do Rio São Francisco, a 137 km de Montes Claros, no dia 02 de abril, revelou que além da logística e estrutura técnica, a qualificação, a força de vontade e o comprometimento dos socorristas são fundamentais para que essas dificuldades possam ser vencidas e vidas sejam salvas.

Por volta das 15h, a unidade do Samu, composta pelo condutor socorrista Farley Robson Caldeira, e a técnica em Enfermagem, Renysse Muniz da Silva, foi acionada para atendimento a José Milton Lima Santos, 45 anos, que havia sofrido uma parada cardiorrespiratória (PCR) em uma praia, a 2 km do porto da balsa, em Ibiaí.

Para chegar ao local, os socorristas deixaram a ambulância no porto e seguiram no barco da secretaria municipal de Meio Ambiente. No percurso, o motor do barco parou e os socorristas tiveram que seguir a pé, com a água até os joelhos, carregando o equipamento nos braços, por cerca de 300 metros.

Chegando ao local, os socorristas reanimaram José Milton utilizando técnicas e equipamento conforme protocolo, e, após constatar pulso, o colocaram no oxigênio. Um pescador ofereceu o barco para que retornassem ao porto com o paciente, na margem contrária do rio, já que o barco do Meio Ambiente não voltou funcionar. “Ficamos preocupados de o paciente voltar a sofrer uma PCR no barco, que era de alumínio e não poderíamos utilizar o desfibrilador por causa do risco de choque. Foram momentos muito tensos, mas, felizmente, chegamos em segurança ao porto”, relembra Farley Robson.

No porto da balsa, o paciente foi transferido para a ambulância e encaminhado ao posto de saúde do município até a chegada do suporte avançado do Samu de Pirapora, acionado logo no início do atendimento. Ainda no posto o paciente voltou a sofrer outra PCR e foi reanimado e medicado pela unidade do Samu de Pirapora e imediatamente transferido para Fundação Dr. Moisés Magalhães, em Pirapora, onde permanece internado no CTI, desde então.

De acordo com Samuel Nery de Oliveira, médico do hospital, José Milton Lima está respondendo bem ao tratamento, mas ainda está traqueostomizado e respirando por aparelhos. “Ele sofreu uma infecção pulmonar grave e está bem debilitado, mas já está sem febre, consciente e iniciamos a retirada gradativa dos aparelhos. Nossa expectativa é que em breve esteja em condições de alta”, relata o médico.

Maria Orleide Soares Gomes, 49 anos, prima de José Milton e que o acompanha em Pirapora, relata que toda a família tem Doença de Chagas. “Vivo com a família de José Milton desde criança e todos nós – eu, ele, a mãe, o irmão e a irmã dele – temos Doença de Chagas. Meu tio, o pai dele, morreu por causa da doença. Pensei que ele não sairia vivo da crise pela qual passou, num lugar ermo, do outro lado rio, sem nenhuma chance de resgate. Foi um milagre. O que os socorristas fizeram foi muito além da obrigação. Foi uma doação mesmo, como anjos. Só Deus para recompensá-los”, comemora.

Samu Macro Norte desafia barreiras geográficas – Foto: Jerúsia Arruda/Divulgação

REDE DE URGÊNCIA

A organização da rede de urgência e emergência do Norte de Minas possibilitou a regionalização do Samu, cujos serviços foram disponibilizados aos 86 municípios da macrorregião, que possui uma população de cerca de 1,6 milhão de habitantes. Com esse modelo, o serviço de urgência e emergência foi integrado sob um só comando, com indicadores e linguagem única e toda a estrutura passou a girar em torno da necessidade do usuário.

O Samu Macro Norte possui 36 bases descentralizadas, além da central operativa em Montes Claros, com uma frota de 47 ambulâncias, sendo 07 unidades de suporte avançado (USA) e 40 unidades de suporte básico (USB).

Nos municípios de Pintópolis e Bonito de Minas, situadas no extremo norte da região, onde as dificuldades de acesso são ainda mais acentuadas devido às estradas arenosas, passagens molhadas e morros, são utilizadas ambulâncias modelo caminhonete 4×4 (Ford Ranger), que se adaptam melhor à geografia local.

Diariamente, o Samu recebe uma média de 1.500 chamados e a cada 12 minutos é realizado um atendimento em algum ponto da região, sem descanso.

O presidente do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Rede de Urgência do Norte de Minas (Cisrun) Joaquim Neres Xavier Dias, responsável pela gestão do Samu Macro Norte, destaca que após seis anos de atuação, o que se verifica é que a região está superando desafios históricos. “Com a implantação da rede e regionalização do Samu houve uma maior qualificação do atendimento em todos os níveis, reduzindo de forma significativa os óbitos e sequelas em pacientes graves, promovendo à população o acesso a um serviço inimaginável há alguns anos”, avalia.

Mesmo com os resultados expressivos, o presidente destaca que é preciso fazer ajustes para que o serviço seja adequado às novas demandas. “A saúde é uma pauta que não se esgota, todo dia surge um fato novo, as demandas aumentam, e é preciso que os gestores estejam atentos às mudanças para que o usuário possa ter acesso a um serviço de qualidade e com a tempestividade necessária, como é o caso do atendimento pré-hospitalar”, pondera. (Jerúsia Arruda)

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